O esforço dos servidores da Reserva Biológica (Rebio) Abufari, do Instituto Chico Mendes, no centro-oeste do Amazonas, que desde julho trabalham na Operação Pró-Quelônios – uma série de ações para proteger as tartarugas, iaçás e tracajás que desovam e nascem nas areias dos rios e igarapés que cortam a unidade – valeu a pena: a reserva acaba de registrar o nascimento de 381 mil filhotes de tartarugas, 49 mil a mais que os 332 mil nascimentos verificados na temporada passada. O recorde de eclosões prova que a fiscalização faz toda a diferença quando se trata de preservação de espécies ameaçadas.
O manejo dos quelônios na Rebio Abufari é feito há sete anos com o objetivo de preservar a vida desses animais, que correm risco de extinção devido ao comércio ilegal. Na temporada de 2008, porém, foi possível aprimorar os trabalhos de preservação em virtude do reforço no efetivo de agentes de fiscalização. Foram eles que acompanharam de perto tanto a ação da natureza, com a eclosão de milhares de tartaruguinhas, quanto a dos traficantes, que insistem em comercializar as espécies. A operação contou com rondas intensivas, além do monitoramento de ninhos contra os predadores naturais.
Além do apoio da Coordenação Geral de Proteção do ICMBio, que disponibilizou recursos e fiscais, os analistas da unidade de conservação contaram com a parceria da Divisão de Controle e Fiscalização do Ibama/Amazonas para a operação. “A Prefeitura Municipal de Tapauá também cedeu seis guarda-praia, que foram extremamente importantes, pois auxiliaram no monitoramento e no manejo dos filhotes. Todo esse empenho e cooperação nos possibilitou trabalhar com uma equipe de 16 pessoas que se revesavam em turnos, o que minimizou a ação dos traficantes desses animais”, explica Fernando Weber, chefe da Reserva.
No ciclo de 2007, os analistas da Rebio Abufari apreenderam 2,6 mil quelônios. De acordo com Weber, quanto maior o número de rondas, menos espaço para ação dos traficantes. Ainda assim, no último semestre, os fiscais da Operação aplicaram mais de R$1,5 milhão em multas e apreenderam 113 redes do tipo capa-saco, que são usadas não somente na captura de quelônios, mas também de botos, peixes-boi e pirarucu. “Salvamos cerca de 800 animais, a maioria deles, presos nas redes que foram retiradas dos igarapés”, revela o analista ambiental.
A Rebio Abufari tem 288 mil hectares e um perímetro de 325 Km. O acompanhamento dos quelônios desde a migração para lagos e igapós até a lenta caminhada aos locais de desova e o retorno às áreas de alimentação é fundamental para proteger os que escolhem o local para se reproduzir. “Sem esse monitoramento durante a vazante e a enchente dos rios, a produção ficaria comprometida em pelo menos 50%, uma vez que as tartarugas ficariam à mercê da própria sorte. Por isso, iniciamos a operação em julho e concluímos somente quando o nível das águas chega ao seuápice em meados de janeiro, momento no qual os quelônios já estão em segurança em lagos e igapós”, lembra Weber.