O número de crianças e adolescentes atendidos pelos profissionais do Serviço de Saúde Mental Dr. Cândido Ferreira nos Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPS-IJ) de Campinas cresceu 52% nos últimos cinco anos. Os atendimentos saltaram de 310 em 2019 para 472 em 2024, revelando um aumento constante na procura por serviços de saúde mental para este público.
Campinas conta atualmente com 14 CAPS, unidades especializadas em saúde mental que integram a rede de serviços oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Desse total, 11 são administrados pelo Cândido Ferreira por meio de convênio com a Prefeitura, sendo apenas duas unidades da modalidade infantojuvenil: o CAPS Carretel, no Jardim Nossa Senhora Auxiliadora, e o Espaço Criativo, no Novo Campos Elíseos.
O diretor técnico do Cândido Ferreira, psiquiatra Rafael Manrique, explica que as avaliações para diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) representam o maior volume de atendimentos nestas unidades. “Transtorno do Espectro significa que existe uma gradação no diagnóstico, desde os menos graves, as situações menos comprometedoras, até situações mais dramáticas, mais graves. Isso faz com que alguns indivíduos se encaixem, se enquadrem em alguns traços e não necessariamente no transtorno”, esclarece.
Segundo Manrique, o aumento na demanda deve-se principalmente ao remodelamento do diagnóstico do que antes era chamado apenas de autismo e à maior conscientização sobre o tema, impulsionada inclusive pela mídia e por celebridades que se identificam com o transtorno. “Houve uma conscientização com relação ao diagnóstico, e aí as pessoas acabam por procurar mais atendimentos nessa esfera. Isso é uma coisa que está acontecendo no mundo, não é exclusiva nossa”, observa.
Os CAPS-IJ oferecem atendimento multiprofissional, incluindo psiquiatras, psicólogos, clínicos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais e enfermeiros. Para estabelecer um diagnóstico, a equipe submete o paciente a uma série de atendimentos, mais de uma vez por semana durante pelo menos um mês. “São vários testes, laudos, conclusões de profissionais diferentes. Não dá para bater o olho e dizer ‘você tem TEA’. Chegar a esse diagnóstico não é algo fácil de fazer, principalmente nos casos mais leves”, explica o psiquiatra.
Concluído o diagnóstico, os casos mais leves são encaminhados para acompanhamento nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), enquanto os moderados e graves continuam sendo atendidos pelos CAPS. Além do TEA, os CAPS-IJ diagnosticam e acompanham outros casos, como os de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), depressão, esquizofrenia, dependência química e déficit intelectual.
Manrique alerta que, apesar de atualmente todas as crianças e adolescentes serem atendidos, há uma sobrecarga nos CAPS-IJ. “Precisamos de uma injeção de recurso, tanto de recurso de RH como de espaço físico, seja construindo uma nova unidade ou aumentando a capacidade de atendimento que cada uma tem. Caso contrário, eu prevejo um cenário complicado”, adverte.
Nos CAPS da modalidade III, que funcionam 24 horas para atender pessoas com transtornos mentais graves, o aumento foi de 10% no mesmo período. Já nos CAPS AD, dedicados ao tratamento de dependentes de álcool e outras drogas, de todas as faixas etárias, o número de atendimentos se manteve estável devido à rotatividade dos usuários.
Sobre o Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira
O Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira é uma instituição filantrópica referência em saúde mental em Campinas. Atualmente, administra 11 dos 14 CAPS da cidade, sendo dois da modalidade infantojuvenil, seis da modalidade III (24 horas) e três da modalidade AD (álcool e drogas). Todos os centros atendem exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).