À medida em que avançam as investigações da CPI da Covid, novos personagens aparecem ligados a negociações suspeitas envolvendo a compra de vacinas e a venda de cloroquina e outros remédios propagandeados por Jair Bolsonaro. Um dos pontos que certamente precisa ser aprofundado é a ligação entre a família Bolsonaro, empresas farmacêuticas e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Hoje, já é possível traçar um elo entre esses três elementos. Em primeiro lugar, é preciso saber quem é Gustavo Montezano, presidente do BNDES. Banqueiro e baladeiro, Montezano é amigo de infância de Flávio e Eduardo Bolsonaro, filhos do atual presidente da República. Os três se conheceram ainda meninos, quando moravam no mesmo condomínio, no Rio de Janeiro, e a amizade perdurou, como mostra reportagem do iG sobre uma festa de arromba no apartamento de Montezano, em 2015, que acabou virando caso de polícia. Eduardo estava lá.
Em julho de 2019, Montezano se tornou presidente do BNDES, para a felicidade explícita de Jair Bolsonaro, que era só sorrisos no evento de posse, como mostrou o Correio Braziliense à época. Pouco mais de um ano depois, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) ligou para o antigo amigo e pediu que ele recebesse um empresário chamado Francisco Maximiano, o que de fato acabou ocorrendo em 13 de outubro de 2020, relatou a revista Veja. Maximiano é ninguém mais, ninguém menos que o sócio da Precisa Medicamentos, a empresa que negociou a venda da vacina indiana Covaxin ao Ministério da Saúde, que se revelou um bilionário esquema de corrupção.
Embora Flávio Bolsonaro se defenda dizendo que o encontro era apenas para discutir uma boa ideia sobre internet, ele não pode negar que aproveitou a relação pessoal com o presidente do BNDES para abrir as portas do banco a um empresário diretamente ligado ao escândalo da Covaxin. E mais: que a Precisa Medicamentos viu seus negócios com o governo federal crescer 6.000% durante o governo Bolsonaro, segundo apuração de O Estado de S. Paulo.
O caso Apsen e EMS
Este também não é o único caso envolvendo os Bolsonaros, empresas farmacêuticas e o BNDES. Duas empresas que Jair Bolsonaro ajudou a conseguir mais insumos para que fabricassem cloroquina e ganhassem muito dinheiro — a Apsen e a EMS — também foram beneficiadas com empréstimos do banco.
Ano passado, a Apsen assinou dois empréstimos com o BNDES. Juntos, os financiamentos somam R$ 153 milhões, dos quais R$ 20 milhões já foram liberados. O montante é sete vezes maior do que o crédito obtido pela empresa nos 16 anos anteriores somados. O presidente da companhia é Renato Spallicci, que fez campanha para Bolsonaro em 2018 e até hoje faz apaixonada defesa dele nas redes sociais.
O BNDES também firmou empréstimo com a EMS. O laboratório recebeu R$ 23 milhões em maio para investir em duas frentes: uma fábrica de medicamentos oncológicos (R$ 7 milhões) e a ampliação da linha industrial (R$ 16 milhões).
Considerado o “rei dos genéricos” e único a produzir os quatro medicamentos do “kit covid” no país, como o vermífugo ivermectina, o laboratório faz parte do Grupo NC, controlado por Carlos Sanchez, que está na lista da revista Forbes como o 16º homem mais rico do Brasil, com fortuna avaliada em U$ 2,5 bilhões.
Sanchez se reuniu com Bolsonaro em diferentes ocasiões, como uma videoconferência em 20 de março do ano passado e no jantar do presidente com empresários em 7 de abril, em São Paulo. O bilionário foi um dos que pediram e conseguiram que o imposto de importação dos insumos da cloroquina fosse zerado.
Da Redação do PT