Além da falta de investimentos, a falta de medidas eficazes e de transparência do governo Bolsonaro na gestão da crise energética são tão graves quanto a falta de chuvas, acredita o diretor da Aesel.
O país pode sofrer com apagões, como o que deixou parte da população do Amapá 22 dias sem luz no ano passado – até hoje eles sofrem com as quedas de energia -, e a responsabilidade é única e esclusivamente do governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL).
Além de ter mantido a política de Michel Temer (MDB-SP), que proibiu a Eletrobras de investir em novos equipamentos, hidrelétricas, ele não investiu em energias renováveis como a eólica e solar, não fez planejamento para os períodos de seca nem tampouco cuidou da manutenção, a mais básicas das medidas preventivas. Ou seja, não geriu com eficiência o setor elétrico brasileiro, assim como não o fez em qualquer outra área. Além das motociatas, a única outra coisa em que Bolsonaro investiu foi na venda do patrimônio nacional.
E o resultado é que hoje a Eletrobras tem R$ 20 bilhões em caixa que podem ir para o bolso de quem comprar a empresa no processo de privatização, uma obsessão do ministro da Economia, Paulo Guedes, e de Bolsonaro. Já a população paga contas de luz cada vez mais caras, enquanto ouve o presidente falar bobagens sobre como resolver o problema.
Atualmente, a luz passa na porta da casa de quem precisa, mas o povo não consegue acessar porque não pode pagar, critica o engenheiro elétrico, Ikaro Chaves, diretor da Associação dos Engenheiros e Técnicos do Sistema Eletrobras (Aesel).
Lula criou o Luz para Todos, Bolsonaro criou o Luz para Poucos
Enquanto Bolsonaro pede para a população “apagar um ponto de luz”, como se isso fosse a solução do problema, técnicos do governo preparam reajuste da bandeira vermelha patamar dois, mais uma vez.
Quando foi implantada em maio deste ano a bandeira vermelha custava R$ 6,24, para cada 100 quilowatts (kWh)/ hora. Em julho, passou para R$ 9,49. Agora, deve subir para algo em torno de 50% a 58%, o que aumenta a bandeira para R$ 15,00. Esse valor do kWh nos próximos meses vai impactar em pelo menos R$ 24,00 no valor mensal da conta luz, que só este ano já aumentou 15%.
Falta gestão eficiente
Além da falta de investimentos, a falta de medidas eficazes e de transparência do governo Bolsonaro na gestão da crise energética são tão graves quanto a falta de chuvas, acredita o diretor da Aesel. O dirigente, aliás, já havia alertado em entrevista ao Portal CUT que o racionamento de energia e o tarifaço seriam inevitáveis
O governo tem gerido a crise com falta de transparência. Diz que não vai ter racionamento, que vai tomar medidas, mas não dá detalhes. Trata a crise a conta gotas. Não tem planos, alternativas e metas. Ao contrário, vai agravando a situação, e ela se agrava a cada dia
De acordo com o engenheiro, os níveis de reservatórios estão baixos e em outubro/novembro “teremos risco de blecaute”.
Ele explica que, como o consumo de energia é maior do que a oferta, o sistema vai cair e o caos estará instalado no país.
“Imagine a quantidade de pessoas que pode ficar presa num elevador, imagine o caos no trânsito com os semáforos apagados, numa cidade como São Paulo”, pontua Ikaro Chaves.
Segundo ele, o nível de água nas regiões sudeste e centro-oeste, consideradas as caixas de água do país, está em 22% ,quando o normal é 70%.
“A perspectiva é de seca. O próximo período chuvoso, de novembro a abril, deverá ser fraco, pode ser até que escape, mas, ao invés de tomar medidas mais conservadoras, o governo aposta na sorte”, critica.
Propostas do governo vão punir os mais pobres
As propostas do governo Bolsonaro na crise energética vão levar o povo pobre a pagar mais pela energia, acredita o engenheiro da Eletrobras.
Até agora o governo anunciou, além das tarifas mais caras, o aumento do uso de usinas termoelétricas à base de combustíveis fósseis como o diesel, que encarecem o megawatt.
O preço normal da energia produzida por uma usina hidrelétrica de cotas (que não tem dívidas a pagar) gira em torno de R$ 50, já o custo pelo mesma energia de usinas termoelétricas saem a R$ 3 mil.
Segundo o engenheiro, se a Eletrobras fizesse os investimentos necessários nas hidrelétricas mais antigas, com troca de turbinas e geradores, aumentaria a quantidade de energia com a mesma quantidade de água.
O mesmo ocorre com a falta de investimentos nas energias eólica e solar, que poderiam ser muito mais aproveitadas no Brasil, pela capacidade que o país tem. Hoje apenas 17% da nossa energia vêm da energia eólica.
“O custo da usina termoelétrica é 60 vezes maior do que uma usina hidrelétrica convencional. O preço vai explodir, mas o governo em vez de admitir que precisa fazer um racionamento, manda as pessoas reduzirem o consumo de energia, como se fosse fácil para uma família pobre”, diz Ikaro.
Para o engenheiro da Eletrobras, o pedido de Bolsonaro, feito em sua live nessa quinta-feira (27), para o brasileiro “apagar um ponto de luz” não tem como ser feito, e nem resolve a crise energética.
Ikaro explica que uma família com poucos equipamentos eletroeletrônicos não tem como desligar os aparelhos, como uma geladeira, ou um ventilador na época do calor. Já uma família de alta renda, que tem três ar condicionados, pode desligar um, pode retirar o aquecimento da piscina e apagar 10 das 50 lâmpadas da casa.
“Uma família de alta renda com uma conta de luz de R$ 200 que suba para R$ 400, não vai sentir no bolso, mas para uma família pobre isto arrebenta o orçamento”, diz Ikaro, que ainda questiona: “como uma família que mora em Manaus, num calor insuportável, vai poder desligar o ventilador ou o ar condicionado? .
Outra proposta do governo Bolsonaro é fazer leilões de energia para a indústria, e de novo quem vai pagar será o consumidor comum.
A ideia do governo é dar descontos para as indústrias mudarem seus horários de funcionamento, para que nos horários de pico haja energia gerada suficiente para atender a demanda.
O leilão de energia funcionaria assim: duas empresas, hipoteticamente, uma de parafuso e outra de refrigerantes, se comprometem a operar das 5h às 17h, fora do horário de pico (18h às 21h), e ambas prometem economizar a mesma quantidade de energia. Para isso elas precisarão mudar os horários da jornada dos trabalhadores, o que gera custos. O governo então faz um leilão, e a empresa que aceitar um bônus menor ganha.
“As indústrias continuarão a consumir a mesma quantidade de energia por que vão apenas aliviar o horário de pico. Já o consumidor residencial para ter um pequeno desconto, como promete o governo, vai ter de diminuir o seu consumo. O povo vai pagar para as empresas economizaram. O dinheiro vai ter de sair de algum lugar e será do nosso bolso”, alerta o engenheiro.
Do jeito que está cara a conta de luz, o furto de energia que está no artigo 155 do código penal, pode ser enquadrado como furto famélico, quando a pessoa rouba para comer porque não consegue pagar
CUT/Marize Muniz