O primeiro turno das eleições internas do Partido dos Trabalhadores (PT), marcado para o próximo domingo (6), tem gerado apreensão entre economistas de gestoras e corretoras de investimentos na Faria Lima, principal centro financeiro do país. A preocupação é que uma vitória de alas mais à esquerda possa sinalizar mudanças na condução da política econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A disputa pela presidência do partido e pela composição de diretórios regionais e setoriais ocorre em um momento delicado para o governo, que tenta equilibrar demandas de sua base mais à esquerda com a necessidade de manter a confiança de investidores e o compromisso com o equilíbrio fiscal.
Na Faria Lima, agentes do mercado financeiro acompanham de perto o movimento interno, atentos a possíveis mudanças no discurso do partido sobre temas como reforma tributária, meta fiscal, controle de gastos e políticas de incentivo estatal.
Segundo analistas, caso setores mais radicais conquistem maior espaço na estrutura partidária, isso pode se refletir em pressões internas para flexibilizar metas de superávit primário, ampliar investimentos públicos mesmo com restrições fiscais e adiar ajustes estruturais considerados importantes pelo mercado.
“A sinalização de uma guinada à esquerda dentro do partido preocupa porque o governo já enfrenta dificuldades para cumprir metas fiscais e equilibrar as expectativas. Um aceno mais claro a políticas expansionistas pode aumentar a desconfiança dos investidores”, avalia um economista de uma corretora, sob condição de anonimato.
Impacto sobre o real e juros
A percepção de risco político pode afetar diretamente o câmbio e as taxas de juros. Na última semana, o dólar voltou a oscilar diante de incertezas políticas e fiscais, enquanto parte do mercado projeta alta de juros futuros caso o governo sinalize menor compromisso com a disciplina fiscal.
Contexto do PED
As eleições internas do PT, conhecidas como Processo de Eleições Diretas (PED), ocorrem a cada quatro anos. Os filiados votam para escolher direções municipais, estaduais, setoriais e a presidência nacional do partido. As correntes internas disputam espaço para influenciar os rumos do partido e, por consequência, o tom do diálogo com o Palácio do Planalto.
Para a ala mais pragmática, ligada a setores do governo como Fazenda e Planejamento, uma vitória de correntes moderadas garante apoio às reformas e à manutenção de uma base de diálogo com o mercado. Já alas mais radicais defendem que o governo avance em políticas de distribuição de renda, maior presença do Estado na economia e revisão de regras fiscais.
Veja os principais candidatos
Valter Pomar
Mais à esquerda entre os três.
É um dos principais quadros da chamada Articulação de Esquerda (AE), uma das correntes internas mais radicais do PT.
Defende abertamente a radicalização do programa petista, maior mobilização popular, revisão de marcos fiscais, enfrentamento ao mercado e política econômica claramente anti-neoliberal.
Costuma criticar publicamente as alas mais moderadas do partido, inclusive ministros da área econômica.
Entre os três, Valter Pomar é o nome que o mercado considera mais “radical” do ponto de vista de propostas econômicas.
Rui Falcão
À esquerda, mas pragmático.
Histórico dirigente, foi presidente nacional do PT em momentos importantes (Dilma Rousseff e pós-impeachment).
Tem trajetória ligada à corrente Mensagem ao Partido, que tem um discurso mais ético e de esquerda, mas Rui também atua com forte pragmatismo interno.
Hoje é deputado federal e atua na articulação institucional — costuma defender pautas de esquerda, mas não é um líder de enfrentamento frontal com a ala governista.
É considerado mais à esquerda que Edinho, mas mais moderado e experiente que Pomar.
Edinho Silva
O mais moderado entre os três.
Prefeito de Araraquara (SP), próximo de Lula, ligado à Articulação (CNB) — a maior corrente do PT, majoritariamente governista e pragmática.
Tem perfil conciliador e gestor.
Se fosse eleito para cargos de direção nacional, tenderia a reforçar o diálogo entre o governo e a base partidária, mantendo apoio às pautas do Planalto e evitando conflitos com o mercado.
Não é visto como radical — pelo contrário, Edinho é referência de ala pragmática e institucional.
