Presidente ironiza acusações dos EUA sobre o Pix e diz que medida tarifária é ataque à soberania brasileira
Por Sandra Venancio – Foto Tomaz Silva/Agencia Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira (5) que não pretende ligar para Donald Trump diretamente para discutir as tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros. Em vez disso, disse que fará o telefonema para convidar o norte-americano a participar da COP30, em novembro, em Belém (PA) — gesto que, segundo aliados, pode abrir portas para tratar do tarifaço e medir a reciprocidade de Trump.
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“Eu não vou ligar para o Trump para conversar nada porque ele não quer falar. Mas eu vou ligar para o Trump para convidar para a COP30 para saber o que ele pensa da questão climática”, afirmou Lula, durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o Conselhão.
O petista aproveitou para ironizar os argumentos da Casa Branca sobre supostas práticas comerciais “injustas” envolvendo o Pix, que teriam embasado o tarifaço. “Gostaria que o presidente Trump fizesse uma experiência com o Pix nos Estados Unidos. Poderia levar o Pix para ele pagar uma conta, para ver que é uma coisa moderna”, provocou.
Segundo Lula, a resistência dos EUA ao sistema de pagamentos brasileiro esconde interesses corporativos. “Se o Pix tomar conta do mundo, os cartões de crédito irão desaparecer. É isso que está por trás dessa loucura contra o Brasil.”
O presidente classificou as tarifas como um “marco lastimável” na relação entre Brasil e Estados Unidos. “Nossa democracia está sendo questionada, nossa soberania está sendo atacada, nossa economia está sendo agredida. Este é um desafio que nós não pedimos e que não desejamos. Em nenhum tarifaço aplicado a outros países houve tentativa de ingerência nos poderes do país”, disse.
Nos bastidores, auxiliares de Lula reconhecem que o convite à COP30 é também um teste de boa vontade. Se Trump aceitar o chamado, abre-se espaço para conversas mais amplas sobre comércio e a possibilidade de flexibilizar as sobretaxas.
A escalada do conflito comercial
A sobretaxa de 50% sobre parte das exportações brasileiras entrou em vigor no dia 6, atingindo setores como siderurgia, calçados, móveis e alimentos processados. A medida integra o pacote protecionista anunciado por Donald Trump, alegando “concorrência desleal” e “dumping tecnológico” — este último, ligado ao uso do Pix.
O governo brasileiro já iniciou conversas com empresários e ministros para definir estratégias de reação, incluindo acionamento da OMC (Organização Mundial do Comércio) e busca de apoio de países afetados por medidas similares.