
Moradores de rua que fizeram da Praça Beira Rio a “casa própria” têm gerado transtornos a pedestres e comerciantes de Sousas. Eles relatam abordagens violentas e ofensas contra quem passa pelas ruas ou trabalha nos estabelecimentos do distrito. A reportagem flagrou pedintes usando drogas em plena de luz do dia. Um dos reflexos do problema é a diminuição de clientes no comércio. Os comerciantes, populares e os próprios mendigos reclamam de falta de auxilio por parte da pasta de Assistência e Inclusão Social, da Prefeitura de Campinas.
“Muitas vezes nos atrapalha porque além de pedir coisas para eles, pedem para os colegas. Depois que bebem xingam a gente. E às vezes os clientes se sentem constrangidos. É ruim. Muitas vezes os clientes descem dos carros e eles já pedem dinheiro. Se não dão, xingam também. A Prefeitura deveria arrumar um lugar onde possam trabalhar, carpir, plantar”, declarou a comerciária Inês Leardini, de 57 anos. Segundo ela, a praça virou “depósito” de moradores de rua. “Vira e mexe aparece um novo pedinte”.
Para a comerciante que quis ser identificada apenas como Almeida, de 70 anos, os mendigos incomodam pelo fato de cercar as pessoas na rua em busca de dinheiro. “O problema é a abordagem deles”, comentou.
“Eles acabam espantando as pessoas. Tem mulher que corre deles e quando estão alterados começam a ofender”, disse outra comerciante, que pediu para ser identificada como Miatto. “Enchem a paciência”, relatou a moradora Maria de Souza, de 45 anos.
O Jornal Local ouviu três dos quatro moradores de rua que identificou na praça. O grupo dorme às margens do Rio Atibaia, na região da praça, e além de usarem colchões, ocuparam o local com garrafas de bebidas alcoólicas e até sanduicheira.
Braga, morador de Sousas desde que nasceu e vivente na praça há cerca de 15 anos, disse ser viciado em crack há 30, e alega que a Prefeitura nunca o ajudou. “Preciso ir para uma clínica para melhorar e de um emprego. Faz 15 anos que estou sem emprego. A Prefeitura não ajuda, não dá assistência. Não tenho pai, nem mãe, eles já faleceram.De vez enquando eu durmo aqui na praça também. Só Deus sabe o que a gente passa na rua”, falou. O sonho de Braga é “voltar a viver e a trabalhar”.
Fernandes, 30, nasceu em Campinas e, alcoólatra, reveza a vida entre a praça e um barraco nas proximidades da Sanasa (Sociedade de Abastecimento de Campinas), em Sousas. “Vinha pra cá desde moleque para andar de bicicleta e hoje estou junto com um travesti. Vim pra cá pra ficar longe da família. Estou há quatro anos sem trabalho com registro em carteira”, comentou Fernandes, que almeja voltar à vida profissional de pedreiro.
Outro morador, que pediu para ter o nome em sigilo, disse que são quatro moradores na praça e negou haver confusão. “A gente dorme, bebe, bebe e cai no colchão. É mais pra descansar mesmo . Briga e confusão não existe aqui”, contou.
Questionada sobre os problemas, a pasta de Assistência Social disse dispor de “ampla rede de atenção à pessoa em situação de rua no município”. “No total, são 13 serviços com 256 vagas para acolhimento institucional; 600 metas mensais para abordagem social, 30 vagas para oficinas de geração de renda e 260 vagas/dia para higiene pessoal, alimentação e oficinas socioeducativas”, disse, em nota.
A pasta mencionou ainda o Programa Recomeço, implantado em Campinas em 2013 para o combate ao crack. O interessado em fazer tratamento deve procurar a Coordenadoria de Prevenção às Drogas que funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 16h, na Rua Barreto Leme, 1.550, Centro, ou pelo telefone 3282-9209. Não houve, no entanto, posicionamento oficial da pasta sobre os transtornos relatados em Sousas.




