Depois de uma escala em Johannesburgo, na África do Sul, chegamos a Mumbai (antiga Bombay), a capital financeira e industrial da Índia.
Circulamos pelas ruas da cidade em direção ao hotel. A colonização inglesa é percebida nos ônibus de dois andares, na arquitetura da estação central de trens e das antigas mansões que viraram prédios públicos. Visitamos um museu onde, ao vermos esculturas e trabalhos artísticos de mais de sete mil anos, começamos a compreender a riqueza e complexidade de uma cultura cuja história remonta aos começos da civilização.
A cada parada do ônibus repito ao grupo para atravessarem a rua com muito cuidado, olhando para ambos os lados, pois os carros circulam, como na Inglaterra, pelo lado “errado” da rua. O impacto desse primeiro contato com a Índia é suave: uma grande cidade, com elementos exóticos, mas nada que assuste ou choque emocionalmente. Depois de levar alguns grupos à Índia, sei da importância de ir entrando nesse mundo de conceitos e valores diferentes de forma gradual. Organizei o roteiro para que o grupo possa apreciar e entender as diferenças num ritmo suave que permita uma assimilação tranqüila. Nada de contrastes bruscos, quero que as pessoas tenham uma vivência enriquecedora num contexto protegido. Assim, iremos avançamos passo a passo do mais familiar para o mais exótico, com alegria e segurança, sem traumas.
À tarde voamos para Jaipur, capital do estado de Rajasthan. É nessa cidade que vivenciamos a Índia imperial, com suas muralhas e fortes, com seus palácios e riquezas, seus carros puxados por camelos, seus homens de turbante e os encantadores de serpentes. Visitamos o local onde, nó a nó, se tecem manualmente os famosos tapetes, fazemos um inesquecível passeio de elefante e percorremos o centro da cidade entrando em contato, pela primeira vez, com o colorido caótico das ruas onde carros modernos dividem o espaço com carroças puxadas por bois, bicicletas, caminhões que parecem centenários; onde motos, rickshaws e motorickshaws (duas pessoas sentadas sendo puxadas por uma bicicleta ou motocicleta) abrem caminho entre vacas, camelos, e transeuntes. As lojas enlouquecem os viajantes com suas roupas coloridas, seus objetos artesanais e seu preços baixíssimos.
No final deste dia fascinante, vamos para um templo. Feito de mármore branco, o templo recebe as pessoas para a cerimônia principal. Em Mumbai visitamos um templo jainista, este é hinduísta. Hipnotizados pelo som dos mantras, os membros do grupo entram em contato com a dimensão espiritual dessa cultura e apreciam, nas profundezas de suas mentes, o eco de arquétipos ancestrais que parecem acordar ao chamado dos sinos, do incenso e das chamas do fogo cerimonial que o sacerdote mostra aos presentes como símbolo de purificação.
À noite, o descanso se dá num impressionante palácio que reencarnou como hotel de luxo. Durante a madrugada, sonhos orientais visitam a mente dos viajantes. O trecho seguinte é de ônibus: vamos em direção ao Taj Mahal. No caminho que serpenteia entre plantações de mostarda e vilarejos que parecem saídos de um filme medieval, o guia local desperta gargalhadas mostrando como se fazer um turbante com uma longa peça de pano.
A idéia de que a pobreza é a causa da violência é muito forte em nossa mente latinoamericana. Mas a realidade da Índia mostra que isso é falso. Não possuir bens é simplesmente possuir menos recursos. Apenas isso. Na cultura indiana não existe o conceito de que a felicidade depende de possuir objetos. Desde crianças eles vêem sábios cujas posses consistem em apenas uma ou duas peças de roupa serem honrados e reverenciados pelas sociedade. Relatos de pessoas que, como o próprio Buda, abandonaram posses materiais para mergulharem na riqueza do conhecimento espiritual constroem, desde a infância, um referencial que estabelece claramente que a felicidade brota da compreensão correta da vida e jamais surge dos objetos materiais.
Depois de termos visitado os castelos onde as intrigas palacianas, o luxo e o poder guiaram a conduta dos homens, a próxima parada -o famoso e belíssimo Taj Mahal- nos levará a refletir sobre o poder realizador do amor humano. Mas sobre isso falamos na próxima edição
Índia: uma viagem Inesquecível
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