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domingo, dezembro 28, 2025
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“Espaço Além – Marina Abramović e o Brasil”

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marina-abramovic-espaco-alem-foto-marco-anelliPrincipal expoente da arte de performance no mundo, Marina Abramović conhece o Brasil melhor do que muitos brasileiros. A artista sérvia visitou o país pela primeira vez em 1989. Foi para Serra Pelada, no Pará, pesquisar cristais e pedras semipreciosas e suas influências no corpo e na mente humana. Voltou ao país diversas vezes e, em 2007, conheceu a galerista brasileira Luciana Brito que passou a representá-la no Brasil. Anos depois, ao fim da exposição “A artista está presente” no MOMA, em Nova York, Marina contou para Luciana do seu desejo de fazer uma viagem de pesquisa artística sobre espiritualidade no Brasil. A jornada percorreu seis estados brasileiros e deu origem ao documentário “Espaço Além – Marina Abramović e o Brasil”, que estreia em Campinas nesta quinta-feira, 28 de julho, no Cineflix do Galleria Shopping.

Primeiro longa-metragem dirigido pelo brasileiro Marco Del Fiol, o road movie foi inteiramente captado e produzido no país entre 2012 e 2015 e acompanha a artista por um percurso de mais de seis mil quilômetros, em busca daquilo que ela chama de “pessoas e locais de poder” .

A equipe esteve com Abramovic em Abadiânia, Alto Paraíso e Chapada dos Veadeiros, em Goiás; Planaltina, no Distrito Federal; Chapada Diamantina, Cachoeira e Salvador, na Bahia; Corinto, em Minas Gerais; Curitiba, no Paraná; e São Paulo, capital. Durante este percurso, Marina conhece diferentes comunidades espirituais e participa das mais variadas cerimônias sagradas, desbravando os limites entre a arte e a espiritualidade, entre o ritual e a performance. A experiência dispara em Abramović uma outra viagem, interna e pessoal, por lembranças e dores do passado.

O desdobramento da intensa pesquisa do documentário provocou impactos em sua carreira e obra. Os resultados de sua pesquisa foram apresentados ao público na exposição “Terra Comunal – Marina Abramović + MAI”, realizada em 2015 no Sesc Pompeia, em São Paulo. Principal mostra da performer na América do Sul, marcou os desdobramentos da pesquisa de Abramović no Brasil e em sua carreira. Ao exibir estes resultados em primeira mão ao público brasileiro, a artista presta sua homenagem ao país.

“Espaço Além – Marina Abramović e o Brasil” foi produzido pelas irmãs Jasmin e Minom Pinho, da Casa Redonda. O filme conta com a produção associada da galerista Luciana Brito, da artista Paula Garcia e da empresa Flagcx, direção de fotografia de Cauê Ito, montagem de Marco Korodi e Marco Del Fiol e trilha sonora original da dupla mineira O Grivo. A distribuição no Brasil é da Elo Company e codistribuição, da SPCINE. O documentário, que teve première internacional no Festival South by Southwest 2016, já tem distribuição garantida na Itália pela I Wonder Pictures.

 

PESSOAS DE PODER, LOCAIS DE PODER

Eu vim para o Brasil em busca de ‘locais de poder’ e de pessoas com um certo tipo de energia. Com ‘locais de poder’, quero dizer cachoeiras, árvores, paisagens, rios, plantas, pássaros, insetos. Ou seja, locais onde o céu é vasto e cheio de nuvens. Onde a chuva vem de uma vez e, assim que começa, termina. Onde se respire o ar a plenos pulmões. E quando menciono pessoas com um certo tipo de energia, me refiro àquelas que realmente aprenderam a retirar a energia tanto de fora quanto de dentro de si, transformar esta energia e devolve-la àqueles que não sabem fazê-lo”, explica Mariana Abramović.

“Espaço Além” tem sua primeira parada em Abadiânia, no interior de Goiás, onde está localizada a Casa de Dom Inácio de Loyola, fundada João de Deus, em 1976. Além de participar da corrente de orações, a artista assistiu de perto às cirurgias espirituais realizadas pelo médium, envolvendo cortes e incisões. “É preciso ter fé. Quando se tem fé, não há dor. Quando não há dor, há fé”, diz a artista no documentário.

Ainda em Goiás, ela foi a Alto Paraíso, considerada a cidade mais mística do Brasil pela abundância de cristais em seu solo e a presença do Paralelo 14, o mesmo que passa sobre Machu Picchu e outros locais sagrados do hemisfério sul. Lá, visitou o Jardim de Maytrea, se banhou nas águas da Cachoeira dos Anjos e conheceu a raizeira Dona Flor (Florentina Pereira Dos Santos), 79 anos, que sem saber ler ou escrever, teve 18 filhos e adotou outros 27, vivendo dos medicamentos fitoterápicos que produz a partir das plantas do cerrado.

A viagem seguiu para o Vale do Amanhecer, uma comunidade espiritual fundada em Planaltina (DF), em 1969, pela médium clarividente Tia Neiva. Baseada em um sincretismo complexo, mistura elementos de religiões afro-brasileiras, cristianismo, espiritismo, misticismo e antigas crenças egípcias. “Eu me sinto completamente despreparada. Cheguei aqui sem fazer ideia do que encontraria. É como estar num filme do Kubrick, ou do David Lynch”, tenta explicar a artista durante a sessão. Itamir Damião, ex-sargento do exército, agora é Mestre Jaguar Doutrinador. “Nós sempre procuramos resolver os problemas. Todo problema que não é resolvido, é igual à nossa sombra: onde vamos, ele nos acompanha”, diz a Marina.

Na Chapada Diamantina (BA), Abramović participou de um ritual xamânico no Riachinho de Zezito Duarte e tomou ayahuasca pela primeira vez. A experiência foi muito ruim, talvez, a pior de sua vida, afirmou no filme. Mas por lá, também descobriu a espiritualidade e os mistérios do Vale do Capão. “Diante de mim está a gruta. Vou explorá-la. É como uma viagem de Gulliver em direção ao centro da terra. Parece que estou em um planeta estranho”, revela.

Em Salvador, a artista esteve em uma das igrejas católicas mais conhecidas do país, Nosso Senhor do Bonfim, com suas fitinhas coloridas amarradas no portão de entrada e sala dos milagres repleta de pedidos e agradecimentos. Há pouco mais de 100 km dali, em Cachoeira, ela foi apresentada à Mãe Filhinha (Narcisa Cândido da Conceição), fundadora do Terreiro Yamanjá Ogunté e membro por mais de 70 anos da Irmandade da Boa Morte, confraria religiosa afro-católica de mulheres descendentes de escravos africanos. Na época, com 108 anos, e esbanjando energia, Filhinha entregou o segredo de sua longevidade. Sua força vinha da terra, das águas e de Deus, que “mandou buscá-la” em 2014, aos 110 anos.

O destino em Minas Gerais era certo, “a terra dos cristais”: Corinto. Em suas minas primitivas são encontrados belos aglomerados de cristais de quartzo. Foram os cristais brasileiros que inspiraram Abramović a criar série “Objetos Transitórios”, a partir da década de 1990. “Jamais vi cristais tão grandes, eretos. Eu os chamo de ‘punts’. Seguram o planeta. São como a acupuntura do planeta, irradiando energia”, diz.

Curitiba foi a parada seguinte. Na cidade fica o Centro de Estudos Ancestrais Raízes de Dan, criado pelo fitoterapeuta Rudá Iandê, em 2006, com o objetivo de ensinar as pessoas a se reconectarem com a própria essência. Para ele, o corpo é uma entidade viva e inteligente, um santuário onde a força e a sabedoria da natureza se manifestam. Marina entregou seu corpo a diversos rituais, sentindo-se em casa. Lá, conheceu Denise Maia, que desde os 12 anos, estuda os mistérios do feminino sagrado e consciência humana. Para ela “quando você aceita sua natureza, se encanta com ela. Você começa então a ter consciência que existe uma pessoa dentro de você que você não conhece. E uma vez que está de posse dessa natureza, não tem como você ter violência contra qualquer coisa dentro do universo, porque o princípio da nossa natureza é o amor”.

 

      

 

 

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