A distância cultural entre Brasil e China, e ao mesmo tempo de proximidade econômica, foi o tema analisado pelo professor Leandro Karnal durante seminário organizado pelo Centro de Estudos Avançados (CEAv) da Unicamp, no auditório da Diretoria Geral da Administração (DGA). Em “Um espelho distante, um comércio próximo: a China para o Brasil”, o palestrante tratou de algumas linhas de força sobre aquele país no imaginário brasileiro – como meio, variantes étnicas e diferenças de cultura – para mostrar que a nova potência oriental se tornou nosso maior parceiro comercial, mas sem que isto significasse grande compreensão cultural recíproca.
“Vemos produtos chineses por todos os lados, enquanto o conhecimento da cultura oriental está desaparecendo nas pessoas”, observa Leandro Karnal, que é docente do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). “Vou tratar das transformações econômicas tanto do lado chinês como brasileiro, mas com um enfoque cultural, que é a área em que trabalho. Pretendo mostrar esta nova China, que incomoda, assusta e ao mesmo tempo seduz o mundo. E também mostrar como, apesar disso, o chinês continua sendo o eterno ‘outro’, desde Marco Polo até hoje.”
Na opinião de Karnal, em que pese o aquecimento das relações comerciais entre Brasil e China, é muito difícil derrubar esta barreira cultural. “Em primeiro lugar, porque tanto nós somos etnocêntricos, como os próprios chineses chamam seu país de Zhong-guo, o Império do Meio: um não gosta de ver o outro. E, quando vemos o outro, vemos através de preconceitos como do orientalismo, do exótico, do escorpião, do chinês que escarra na rua. Ou seja, vemos o outro pelos tópicos exóticos, o que é consequência do orientalismo do século 19.”
Leandro Karnal atua na área de história cultural na Unicamp e fez parte da organização de exposições envolvendo a China, como dos “Guerreiros de Xi’an”, no Parque do Ibirapuera, em 2003. “Não sou sinólogo no sentido estrito do termo, pois trabalho também com a América. Hoje tenho um projeto abordando as relações entre a América e o Oriente desde a época colonial, estudando personagens como Francisco Xavier, missionário que esteve na China. Estudo os grandes cursos de mercadorias, ideias e pessoas entre os dois lados.”




