A maior mostra de cinema africano já realizada no País segue até 4 de novembro
A relação triangular e única entre França, Brasil e África saltou para a tela do cinema e será objeto de estudos e debates durante a “Mostra 50 Anos de Cinema da África Francófona: olhares em reconstrução e identidades reinventadas”, que foi aberto no dia 27 de outubro e segue até 4 de novembro, em Salvador. O festival, que exibirá 50 filmes e é considerado a maior mostra de cinema africano já realizada no País, integra a programação oficial do Ano da França no Brasil.
Segundo enfatiza sua curadora, Amaranta César, o evento “pretende apresentar à Bahia o traçado histórico do cinema africano francófono, dessa cinematografia que é considerada a mais jovem cinematografia do mundo, tentando tornar visível a maneira como a África e o cinema se reinventam, um através do outro”.
A apropriação da linguagem cinematográfica para discutir questões de identidade e diversidade está no cerne das motivações de Amaranta para levar a termo este festival, cuja ideia já vinha sendo gestada desde 2000, quando a curadora teve acesso a muitos desses filmes durante seu doutorado na França. “O cinema africano nasceu de maneira tardia, devido aos interditos da colonização francesa, e é marcado pela necessidade de os povos africanos de construírem suas próprias representações de si mesmos, de descolonizar as imagens da África, e pela reconquista do direito a contar suas próprias histórias. A partir daí, surge uma outra África, um outro cinema e uma outra França”.
A mostra, aberta ao público, apresentará filmes de nove países em cinco salas de exibição espalhadas pela cidade e, após cada sessão de filme, acontece uma análise crítica conferida por pesquisadores da área. Em sua programação, o evento conta ainda com mesas redondas e duas “Lições de Cinema” com os cineastas africanos Med Hondo e Samba Félix Ndiaye, que também exibirão seus filmes na programação.
A curadora ressalta a importância do Ano da França no Brasil para a realização deste projeto: “As obras apresentadas são inéditas ao público baiano e só foi possível a sua vinda com a colaboração do Ano da França no Brasil, que nos facilitou o empréstimo das obras, nos garantiu transporte, apoio logístico e financeiro importantíssimo sem o qual não faríamos este evento”, pontua.
Durante sua fala na abertura da “Mostra 50 Anos de Cinema da África Francófona: olhares em reconstrução e identidades reinventadas”, a adida cultural da França na Bahia, Irène Kirsch, demonstrou a adequação de intenções entre o evento e o Ano da França no Brasil. “A França que queremos mostrar aos brasileiros durante este ano é uma França moderna, que vai para além do vinho, do perfume e da baguete que todos conhecem. Queremos dar a conhecer a França da diversidade, e este festival encarna esta França e as influências que recebeu, está recebendo e vai receber da África”.
Para o diretor geral da Aliança Francesa de Salvador, Bruno Peyrefitte, o fato de a mostra estar inscrita no contexto do Ano da França no Brasil só reforça os aspectos positivos de ambos os eventos: “Isto abre a janela para aspectos importantes da cultura francesa que só se exprime fora da França. A África francófona já havia ocupado seu espaço na música, na literatura e o cinema agora expressa um espaço artístico muito importante e que não se beneficia da indústria formal”, observou.
A mostra é produzida pelo Tabuleiro das Baianas Cinema e Vídeo. É uma realização do Ano da França no Brasil, CulturesFrance, Aliança Francesa de Salvador e Secretaria de Cultura da Bahia.