Presidente brasileiro reage à sobretaxa de 50% sobre produtos nacionais, prevista para entrar em vigor nesta sexta-feira, e afirma que medida afronta a soberania do país
Sandra Venancio – Foto Fabio Rodrigues Pozzebon/Agencia Brasil
Às vésperas da entrada em vigor da tarifa de 50% imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que não teme o impacto da medida e exigiu respeito nas relações entre Brasil e Estados Unidos. A declaração foi feita em entrevista ao jornal norte-americano The New York Times.
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O presidente Lula (PT) criticou com veemência o tarifaço anunciado pelo ex-presidente e agora novamente presidente norte-americano, Donald Trump. A sobretaxa de 50% sobre uma série de produtos brasileiros — entre eles aço, alumínio, soja e carne processada — está prevista para entrar em vigor nesta sexta-feira (1º). A medida tem sido classificada por analistas como protecionista e politicamente motivada.
Durante a entrevista ao New York Times, Lula deixou claro que o Brasil não aceitará ser tratado de forma inferior nas relações comerciais bilaterais. “Tenha certeza de que estamos tratando isso com a máxima seriedade. Mas seriedade não exige subserviência”, afirmou. “Eu trato todos com grande respeito. Mas quero ser tratado com respeito.”
Para o presidente brasileiro, a decisão de Trump constitui uma afronta direta à soberania do país e compromete as bases do multilateralismo econômico. “Em nenhum momento o Brasil vai negociar como se fosse um país pequeno diante de um país grande”, disse Lula. “O Brasil é um país soberano, com uma economia robusta e relações comerciais amplas.”
Fontes do governo brasileiro confirmaram que o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços já estão elaborando uma resposta formal à medida norte-americana, que poderá incluir ações junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) e a reavaliação de acordos bilaterais.
Nos bastidores, diplomatas avaliam que Trump tenta usar medidas econômicas contra países emergentes para fortalecer sua base eleitoral interna, em especial setores industriais do chamado “cinturão da ferrugem”. A estratégia é semelhante à adotada durante seu primeiro mandato, quando impôs tarifas a parceiros como China, Canadá, México e União Europeia.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) divulgaram notas em repúdio à decisão do governo norte-americano. Segundo a CNI, o tarifaço “prejudica o livre comércio e ameaça milhares de empregos no setor exportador brasileiro”.
Apesar da tensão diplomática, Lula reafirmou seu compromisso com o diálogo e com a defesa dos interesses nacionais. “Não se trata de guerra comercial. Se trata de dignidade. Se o Brasil aceita esse tipo de tratamento, amanhã será outro país na mesma situação. O mundo precisa de cooperação, não de imposição unilateral.”
A embaixada dos Estados Unidos em Brasília não comentou a entrevista até o fechamento desta matéria.