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sábado, novembro 23, 2024

Por favor, segure sua Second Life onda

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Não sei se é o nosso sangue latino, mas somos dados a um exagero de vez em quando. Talvez seja até uma característica inata do ser humano eleger as suas “bolas da vez” como uma fuga à enfadonha rotina cotidiana.

Concordo que o Second Life é uma idéia genial. Um ambiente inovador em que personagens interagem e vivem seus próprios mundos alheios à já cansada e desgastada “first life”. Mas será que não há um pouco de exagero – uma enorme onda de espuma em todo esse barulho em torno do metaverso? Já ouvi falar até em “brand secondlifiano”!

Também concordo que as possibilidades de se fazer negócios dentro do intitulado metaverso são enormes. Contudo, há muito mais potencial futuro do que realidade presente. O (verdadeiro) espetáculo do crescimento pelo qual passa o Second Life hoje é animador, mas ainda é muito mais um semear do que um colher. Muitos estão por lá, mas não sabendo exatamente porque ou para que, aliás, talvez seja essa uma das grandes semelhanças com a nossa “first life” de cada dia.

Não sou contra o Second Life, eu mesmo já tenho minha representação por lá, meio abandonada, confesso. Eu, como a grande maioria dos usuários, “Secondlifiei”, – estava todo mundo falando só disso e eu não podia ficar de “fora da rodinha” – mas logo depois abandonei meu avatar ao Second Deus dará. Entrei no SL pelos motivos errados.

Penso que deve haver uma postura mais parcimoniosa e profissional perante a nova mania. Não é porque estão todos montando de maneira desordenada sua presença virtual no metaverso impulsionados pela mídia maciça e repetitiva que sua empresa tem que fazê-lo da mesma maneira que a grande maioria – sem planejamento algum, com pouco ou nenhum real entendimento do que a ferramenta representa e sem nenhuma meta ou inovação. Parece até que estou presenciando um \”Déjà vu\” dos primórdios da Internet, e todos se lembram por onde essa postura irresponsável nos levou.

Quanto à minha experiência pessoal no metaverso, confesso que achei, para não dizer estranha, inusitada a idéia de voar sobre cidades fantasmas e entrar em empresas com orgulhosos letreiros sobre suas fachadas, tão abandonadas quanto um prédio prestes a ser demolido. Nas ruas, apenas alguns gatos pingados se mexendo de maneira esquizofrênica e uns pólos de povoamento aqui ou acolá por causa de um enorme evento, com 20 ou 30 pessoas. Isso tudo, é claro, entre uma travada e outra do meu micro.

Parecia que estava tendo uma grande festa em algum outro site e tinha ido todo mundo para lá. Só que, pelo que ouvia diariamente na mídia, a festa era lá mesmo! Não digo que o Second Life não seja uma grande sacada de marketing. Só acho que existe uma promoção exagerada e custosa para se criar o que chamamos de profecia auto-realizável. Se todo mundo diz que é ótimo, vai acabar se tornando mesmo. Uma espécie de efeito manada no mundo virtual.

Até aí, tudo bem. Muitos produtos se erguem com essa estratégia. O problema é que toda essa promoção gera muito ruído real em torno dos fatos desse mundo virtual. Empresas das mais diversas têm comprado seus terrenos por lá, montado suas residências virtuais e investido quantias consideráveis, muitas delas por medo de perder este Second bonde.

Mesmo sem saber direito a legítima utilidade de se estar no SL, uma coisa é certa: frente à \”first life\” – tomada até os dentes de propagandas e concorrentes – o Second Life parece com a ilha de Lost – misteriosa e praticamente virgem, se é que isso existe. Será que só isso já é motivo para estar lá pelo simples fato de ter sua presença no SL?

Lá me vem novamente o tal Déjà vu já mencionado – aquela corrida desesperada das empresas por fazerem seus sites. Muitos deles eram uma mera cópia do folder institucional. Na fase inicial de uma novidade, existe sempre uma especulação exagerada sobre ela e uma esperança vã de que inúmeros problemas, até então insolúveis, serão resolvidos pela nova ferramenta. Com a força que a Internet confere ao já velho conhecido e eficaz boca a boca, rapidamente, os “early adopters” passam a novidade para frente e fazem as coisas realmente acontecerem.

A mídia vê seu “Ibope” aumentar a cada notícia sobre o novo fato e essa é a fase que presenciamos hoje, Muitos ganham seus tostões e minutos de fama pela simples pronúncia das palavrinhas mágicas \”Second Life\”. Afinal, você está lendo este artigo agora, não está?

É preciso uma mudança de postura com relação ao SL para que as empresas enxerguem nele a sua real vantagem e saibam usá-la de maneira lucrativa. Estar no metaverso só por estar com lojas fantasmas não é a estratégia mais adequada para uma ferramenta tão de vanguarda.

Minha avó costumava dizer que quando a cabeça não pensa, o corpo padece. No caso, quando a empresa não planeja, o caixa padece. O fato do Second Life refletir até certo ponto o ambiente real em que vivemos não quer dizer que tenhamos que repetir nossas ações do mundo off-line ipsis litteris, com todos os seus erros. Meu conselho: inove.

Cada vez mais as empresas precisam ser tão criativas quanto o próprio Second Life e mostrarem-se na vanguarda em um ambiente que já nasceu na vanguarda. Os cartazes, banners e outras parafernalhas comunicativas que vejo pipocarem no metaverso me lembram a primeira fase da Internet com seus banners e pop-ups. Achei que já tivéssemos passado da fase de “comunicação para vendas” para a fase de “comunicação para marketing”.

Pense duas vezes antes de seguir como um autômato o rebanho em desespero e integre suas ações no Second Life com um consistente planejamento de marketing. É de responsabilidade das empresas torná-lo um ambiente agradável e de alto tráfego para que todos ganhem. Acho o SL uma ferramenta muito importante do ponto de vista da evolução da rede para que viva seus dias de bolha. Cabe a nós observarmos o passado para podermos pensar melhor nas nossas ações futuras com relação ao metaverso.

Além de apego ao exagero, os latinos têm uma outra grande vantagem frente aos demais povos: criatividade – usemos para transformar o Second Life na real promessa que ele visa a cumprir!

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