O descontentamento do brasileiro com a classe política será medido pelas surpresas que serão geradas nos resultados eleitorais já no primeiro turno da campanha, em 1º de outubro.
Uma grande alteração na representação legislativa não será nenhuma surpresa: deputados estaduais, distritais e federais, assim como senadores em campanha re-eleitoral serão dragados pelo desinteresse, pela crescente rejeição e pelo sentimento de desconfiança que a classe política se esforça em aumentar a cada semana, a cada novo projeto de lei, a cada postura corporativa desonrosa no cidadão comum.
Além desses procedimentos cotidianos, as práticas eleitorais que estão enraizadas na classe política – e que serviram de instrumento para a eleição da grande maioria dos atuais parlamentares – estão em franco processo de questionamento e de fadiga moral, para se dizer o mínimo: o apadrinhamento de lideranças sociais; a cooptação de igrejas e seus padres e pastores, sob a forma pecuniária ou de tijolos e sacos de cimento; a produção, sempre de baixa qualidade, de jornais informativos, boletins que exaltam as \”qualidades\” do político ou informativos de periodicidade \”única…\”, a ressaltar os \”intensos trabalhos do deputado em benefício da comunidade fulana ou beltrana…\”.
Da mesma forma, os fiéis das igrejas – evidentemente que não todas, mas um número expressivo delas – começam a assistir a um séqüito de candidatos fazendo uso da palavra nos cultos e missas, em nítida campanha eleitoral. Esses candidatos acreditam que os fiéis lhes transferirão votos e esperanças.
Da parte abastada de nossos \”legítimos representantes\” deveremos verificar um verdadeiro derrame de recursos financeiros como forma de substituir a ilegitimidade da representação parlamentar. Outro grande erro da classe política – imaginar que a legitimidade ou a legítima representatividade política poderá ser adquirida a partir de uma campanha eleitoral ostensiva e sufocante.
Veremos, nos últimos 45 a 30 dias do pleito de 1º de outubro, o processo eleitoral questionar as práticas viciadas da classe política e a sociedade civil, por sua vez, questionar as formas tradicionais de campanhas. O Brasil, que já registra mais de 250.000 organizações não-governamentais (ONGs) e mais de 1,5 milhão de brasileiros atuando no trabalho voluntário, tem exemplos de sobra para motivar a sociedade civil para as boas práticas da organização e da atuação na busca de soluções necessárias aos nossos problemas seculares, sem necessitar contar com a classe política – principalmente depois que o mito ideológico foi desmoralizado pelo \”mensalão\” e suas práticas mais danosas.
A sociedade foge da classe política. Organiza-se de forma voluntária. Busca a força de sua própria gente. Repudia o convívio com o político. Desconfia das promessas. Já não tem apego ideológico. Está cansada de discursos. Irrita-se com a propaganda eleitoral. Não crê na ação de governo. Sabe que a propaganda governamental é custeada com recursos que deveriam ser destinados às ações sociais.
Prevejo, portanto, dias difíceis àqueles políticos que praticam e se sustentam nessas atitudes \”naturais\”… Veremos um movimento nada desprezível de ruptura e de rejeição explícita às práticas políticas atuais e a busca do novo, do técnico, do executivo. E o sentimento de mudança estará tão claro e tão necessário que uma \”onda\” eleitoral, um processo de deságüe eleitoral, que o marketing político define como \”manada\”, fará desaguar os votos dos descontentes, dos esperançosos e dos desesperançados numa alternativa que garanta ao eleitor e à sociedade a solução rápida, já no primeiro turno, contra o presidente Lula e as práticas políticas viciadas. Confirmaremos essa sensação em menos de 200 dias.
Marco Iten é jornalista, consultor político e autor dos livros de Marketing Político \’Eleição – Vença a sua!\’ e \’Eleição de Deputados\’.