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sábado, setembro 21, 2024

A supremacia americana

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George Soros não disputa a idéia de que os EUA podem e devem usar o seu poder (político, militar e económico) para influenciar o resto do mundo, mas entende que o tipo de intervenção e influência desejável não é a que a administração de Bush defende. A intervenção e influência praticadas pela administração de Bush têm conseguido o resultado pouco invejável de tornar os EUA mais odiosos, fortalecendo o terrorismo que supostamente estariam a combater, e provocando divisões nas sociedades abertas, que deviam estar unidas no combate aos regimes totalitários, à violação dos direitos humanos, à pobreza e ao terrorismo. A política dos EUA é ideológica e pouco pragmática, defende Soros, acabando por ter os resultados contrários ao desejado pelos seus próprios defensores. O Iraque alberga hoje terrorismo, coisa que não albergava antes, a economia do Afeganistão baseia-se na droga, e o mundo árabe odeia ainda mais os EUA — e, por arrastamento, a democracia e a liberdade. Soros afirma que os EUA têm feito precisamente o que o terrorismo islâmico precisava para poder recrutar mais terroristas.
Soros acaba de lançar um livro com um único objetivo: denunciar o risco que o presidente americano George W. Bush e sua política expansionista representam para o mundo. “A América de Bush é um perigo para a humanidade”, atacou Soros, ao lançar A Bolha da supremacia Americana.
Soros deixou o comando da empresa e passou a se dedicar em tempo integral ao seu instituto Sociedade Aberta, inspirado nas idéias do filósofo Karl Popper. Soros doou cerca de US$ 5 bilhões para promover a “democracia e a liberdade econômica” em 50 países. De-
pois de ter apoiado a transição do Leste Europeu do comunismo para o capitalismo, Soros mudou de prioridade. Desta vez, diz que a maior ameaça à liberdade é a política expansionista e autoritária dos EUA.
positor dos republicanos de Bush. Soros também liberou outros US$ 5 milhões para ONGs e institutos de intelectuais que representam o pensamento liberal, mais à esquerda na política americana. “Estou disposto a colocar dinheiro para apoiar minha causa”, anunciou o financista convertido em militante.
Quem lê A Bolha da Supremacia Americana, que será lançado em abril no Brasil, percebe até onde vai a ira de Soros. No livro, o investidor acusa o governo americano de usar os ataques terroristas de 11 de setembro como desculpa para suas práticas expansionistas. “A equipe de Bush defende essa política externa antes mesmo da tragédia”, escreveu Soros. “Na lógica deles, o poder prevalece sobre a lei.” E qual o objetivo do uso desse poder? Reforçar a supremacia americana em escala mundial. “Essa ideologia (da equipe de Bush) é conhecida como neoconservadorismo. Eu prefiro classificá-la como uma forma crua de darwinismo”, completou Soros, referindo-se a uma luta econômica selvagem entre os países, em que o mais forte (os EUA) leva vantagem sobre os mais fracos. “Quando Bush diz que a liberdade vai prevalecer, ele quer dizer ‘a América vai prevalecer’.”
Personagem complexo, com várias faces públicas, Soros corre o mundo para defender suas bandeiras políticas. Apesar de ser um dos homens mais ricos do mundo, não tem avião particular e se hospeda em hotéis comuns, sem luxo. Em suas campanhas, faz amizades surpreendentes, como o ministro da Educação, Cristovam Buarque. Soros se aproximou dele depois de conhecer o programa para crianças carentes Bolsa-Escola, criado na gestão de Buarque no governo do Distrito Federal. Soros participa de fóruns mundiais, debate com militantes de esquerda (que o consideram um símbolo do que há de pior no capitalismo) e escreve livros com suas propostas. Nos últimos tempos, porém, desistiu de pregar uma mudança na arquitetura financeira mundial, reformar o FMI (Fundo Monetário Internacional)
ou defender as idéias de Karl Popper. Só tem uma prioridade. “Bush está nos levando a uma situação muito perigosa”, denunciou o homem que durante três décadas meteu medo em governos de quase todo o mundo.

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