Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e Arquivo Público do Estado de São Paulo
96 páginas
R$ 25,00
Documentos preciosos de uma longa e árdua viagem que marcou a história e a cultura do Brasil no início do século passado são agora reproduzidos fielmente na forma e no conteúdo. Kasato-Maru – uma viagem pela história da imigração japonesa será lançado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e pelo Arquivo Público do Estado de São Paulo no dia 18 de junho, às 19 horas, na Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa (Bunkyo), à Rua São Joaquim, 381 – Liberdade, em São Paulo. A obra traz uma carta do cônsul brasileiro no Japão e a listagem dos 781 passageiros que fizeram parte do primeiro grupo de imigrantes nipônicos que chegou ao Brasil O material, aliado aos textos dos pesquisadores Célia Sakurai e Jeffrey Lesser, revela detalhes e curiosidades da peregrinação marítima rumo ao Porto de Santos.
O lançamento marca os 101 anos da chegada do navio Kasato-Maru à costa brasileira, após 51 dias de navegação. “Com esta publicação, o Arquivo Público do Estado oferece ao público e aos estudiosos da imigração japonesa a oportunidade de cotejar as informações desse documento com registros mais bem conhecidos de acolhimento desses migrantes no Brasil, cumprindo assim sua obrigação de difundir amplamente seu acervo”, escreve o coordenador do Arquivo Público, Carlos de Almeida Prado Bacellar, na apresentação do livro.
O artigo de Célia Sakurai, doutora em Ciências Sociais pela Unicamp e especialista em história da imigração japonesa no Brasil, contextualiza a vinda de estrangeiros daquele país na realidade das sete primeiras décadas do século 20 no Brasil, onde a necessidade por mão-de-obra, devido à crescente produção de café, impulsionou a vinda de trabalhadores. Célia detalha o fluxo de trabalhadores de 1908 até a década de 60, a forma e as razões desse movimento migratório.
O artigo do professor da Emory University (Atlanta, EUA) e especialista em etnicidade, imigração e identidade nacional no Brasil, Jeffrey Lesser, sobre a chegada do Kasato-Maru como fato imprescindível para o nascimento da cultura nipo-brasileira, encerra a publicação. O autor retoma um histórico diplomático que permitiu o início do fluxo de migração, com o objetivo de trabalho nas lavouras, e pontua fatos que contribuíram para a miscigenação cultural.
Reprodução de documentos da época
O ofício do cônsul brasileiro na época, Alcino Santos Silva, dirigido ao secretário de Agricultura, Comércio e Obras Públicas de São Paulo, foi reproduzido no livro. Ele traz explicações relevantes sobre a vinda do Kasato Maru relacionadas às diferenças culturais entre os dois países. Junto com esse ofício, foi enviada uma listagem de passageiros, também reproduzida na íntegra neste lançamento. Os documentos são datados em 30 de abril de 1908.
“Senhor Secretário, tenho a honra de remetter a V.S. a inclusa lista dos primeiros emigrantes japonezes”, inicia o autor, em linguagem formal e com a gramática peculiar da época. No documento, o cônsul, que compareceu ao embarque, informa que há lacunas na listagem cujas correções não foram possíveis devido à falta de tempo. Tais lacunas, no entanto, originam-se principalmente nas diferenças de cultura e costumes entre os dois povos.
É o caso da forma como os japoneses contam a idade. “V.S. notará um contraste entre o numero de annos e as datas de nascimentos declaradas nos passaportes”. No Japão, comemora-se um ano no dia em que se nasce. Um ano após o nascimento, portanto, celebram-se dois anos de idade. Outro problema da lista apontado pelo cônsul é a indicação do chefe de família, que, no Japão, é sempre o parente mais próximo e mais velho. Assim, pessoas indicadas na coluna destinada ao chefe de família não estavam a bordo.
A lista de bordo, escrita à mão às vésperas da partida, foi identificada recentemente no acervo da Secretaria de Agricultura, Comércio e Obras Públicas e traz nome, sexo, idade, profissão (na maioria dos casos, ligada à agricultura), última residência e dados sobre a bagagem dos imigrantes. A relação de nomes chega ao número 841, mas há rasuras que apontam desistências ou cancelamentos. O documento foi usado pelas autoridades brasileiras para conferir e registrar o desembarque dos passageiros.




