Parlamentares de extrema direita tentaram mobilizar base bolsonarista, mas protestos esvaziados revelam desgaste político
Convocados por parlamentares aliados de Jair Bolsonaro após a operação da Polícia Federal da última sexta-feira (18), os atos em defesa do ex-presidente e contra as medidas judiciais impostas a ele — incluindo o uso obrigatório de tornozeleira eletrônica — fracassaram em todo o país. As manifestações, apelidadas de “manifestações da tornozeleira”, tiveram baixa adesão e repercutiram mal até mesmo entre parte da base conservadora.
A convocatória ganhou força nas redes sociais bolsonaristas no fim de semana, com vídeos e postagens exaltando Bolsonaro como vítima de perseguição judicial e celebrando as retaliações do presidente norte-americano Donald Trump ao Brasil, como o tarifaço de 50% sobre produtos nacionais e a revogação de vistos de ministros do STF. No entanto, o resultado nas ruas foi o oposto do esperado.
Em diversas capitais e cidades do interior, os protestos reuniram apenas pequenos grupos — em muitos casos, insuficientes para ocupar calçadas inteiras. Em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde tradicionalmente o bolsonarismo tem mais força, a presença foi tímida e sem impacto político relevante.
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Analistas veem no esvaziamento uma combinação de fatores: o desgaste da figura de Bolsonaro diante das investigações por tentativa de golpe de Estado, a falta de um discurso unificador, e o distanciamento de parte da direita moderada frente à radicalização do discurso.
Líderes bolsonaristas como Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli e Nikolas Ferreira usaram as redes para tentar minimizar o fiasco, dizendo que os atos foram “simbólicos” ou “espontâneos”. No entanto, parlamentares mais pragmáticos evitam associar sua imagem à convocatória, temendo o desgaste eleitoral.
Especialistas em comunicação política afirmam que o “mito” começa a perder força diante da crescente judicialização de aliados e da falta de resultados práticos das manifestações. “A radicalização digital não está se traduzindo em mobilização nas ruas, o que enfraquece a pressão política do bolsonarismo”, avalia um cientista político ouvido pela reportagem.
A operação da PF, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, impôs medidas cautelares ao ex-presidente, incluindo o uso de tornozeleira eletrônica, proibição de contato com outros investigados e retenção de passaporte. As investigações apuram tentativa de golpe, fraudes em documentos oficiais e uso da estrutura estatal para sabotar o sistema eleitoral.