Confissão de propina, denúncias de agressão, abuso de autoridade e falhas no Código de Ética colocam Legislativo sob pressão na volta do recesso
Sandra Venancio – Foto Divulgação
O primeiro semestre de 2025 foi marcado por uma sucessão de escândalos envolvendo vereadores de Campinas, incluindo confissão de corrupção, denúncias criminais e episódios de violência. Com o retorno do recesso parlamentar, a Câmara se vê diante de um cenário de desgaste institucional e pressões por maior rigor na apuração de condutas. Os casos foram divulgados em matéria do Correio Popular.
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Imagem da Câmara Municipal de Campinas sofreu abalos significativos nos primeiros seis meses do ano. O caso mais emblemático foi o do ex-presidente da Casa, Zé Carlos (PSB), que confessou ter solicitado propina, renunciando ao cargo em meio à repercussão negativa. Em outro episódio de grande visibilidade, a Comissão Processante (CP) instaurada contra Vini Oliveira (Cidadania), acusado de abusos durante uma fiscalização no Hospital Mário Gatti, optou pela absolvição do parlamentar.
Contudo, novas denúncias envolvendo outros vereadores prometem tensionar o ambiente legislativo com a retomada dos trabalhos após o recesso. O vereador Arnaldo Salvetti (MDB) foi citado em um boletim de ocorrência como agressor de uma mulher, em meio a uma discussão relacionada a um suposto caso extraconjugal. O caso gerou a abertura de um inquérito pela Polícia Civil, que corre sob segredo de justiça.
Já Otto Alejandro (PL) protagonizou dois episódios polêmicos: um vídeo mostra o vereador apedrejando um ônibus no Centro e ameaçando motorista e passageiros; em outra ocorrência, ele foi acusado de abuso de autoridade e ofensas contra frequentadores de um bar em Sousas. As denúncias foram encaminhadas à Corregedoria da Câmara, que também recebeu entre fevereiro e junho outras dez reclamações formais contra parlamentares — incluindo Debora Palermo (PL), Benê Lima (PL) e novamente Vini Oliveira.
Apesar do volume de denúncias, o corregedor Carlinhos Camelô (PSB) reconhece as limitações do atual Código de Ética e Decoro Parlamentar, que impede a investigação da maioria dos casos por questões regimentais. “Nossa capacidade de atuação é limitada pela própria norma vigente”, afirmou.
Com o Legislativo pressionado por uma opinião pública cada vez mais crítica, os próximos meses prometem ser decisivos para que a Câmara dê respostas concretas às denúncias — ou aprofunde sua crise de credibilidade.
Vereadores de Campinas sob suspeita: o que pesa contra cada um
Arnaldo Salvetti (MDB)
- Acusação: Agressão contra mulher com quem teria um relacionamento extraconjugal.
Um Policial Militar foi acionado por uma mulher em estado de nervosismo dentro de um carro no Jardim do Trevo.
Ela relatou manter um caso extraconjugal com Salvetti e afirmou que foi agredida fisicamente por uma funcionária do vereador, após discussão sobre promessas feitas por ele. Segundo o BO, ela levou um soco na boca e procurou atendimento hospitalar. A Polícia Civil instaurou inquérito sob segredo de Justiça.
Otto Alejandro (PL)
Acusações:
- Vandalismo e ameaça a motorista e passageiros de ônibus.
- Abuso de autoridade e ameaças em bar de Sousas.
Apedrejou um ônibus no Centro, alegando falsa colisão. Ameaçou passageiros e quebrou o celular do motorista que o filmava. Envolvido em outro episódio de abuso contra frequentadores de um bar. Ambos os casos foram formalizados no Ministério Público de São Paulo. Investigações seguem em andamento, segundo a SSP-SP.
Vini Oliveira (Cidadania)
Acusação: Abusos durante fiscalização no Hospital Mário Gatti.
Resultado: Apesar da gravidade da denúncia, foi absolvido por Comissão Processante formada na própria Câmara.
Debora Palermo (PL)
Situação: Envolvida em uma das dez reclamações recebidas pela Corregedoria entre fevereiro e junho de 2025. Arquivada por questões regimentais — a maioria das denúncias não pôde ser investigada pelo Legislativo.
Benê Lima (PL)
Situação: Também alvo de uma das denúncias registradas neste ano. Rejeitada pela Corregedoria com base no atual Código de Ética, considerado limitado.
Corregedoria sem força:
Das dez denúncias formais, apenas duas avançaram — ambas relacionadas a Vini Oliveira. O corregedor Carlinhos Camelô (PSB) admitiu a fragilidade do Código de Ética atual e a limitação na atuação investigativa da Casa.
Responsabilidade institucional:
O presidente da Câmara, Luiz Rossini (Republicanos), não se manifestou. A presidência afirmou que qualquer mudança no regimento precisa de aprovação em plenário por meio de projeto de resolução.