Assessor de Lula aposta que tensão com EUA pode acelerar acordo Mercosul-União Europeia
Foto Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
O assessor especial da Presidência da República e ex-chanceler Celso Amorim afirmou que a intensificação da guerra comercial conduzida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode abrir novas oportunidades estratégicas para o Brasil no mercado europeu. Em entrevista ao Valor Econômico, publicada nesta segunda-feira (21), Amorim defendeu que o momento pode impulsionar a ratificação do acordo entre Mercosul e União Europeia.
Para Amorim, a crescente hostilidade da política comercial norte-americana sob a liderança de Trump — que recentemente impôs tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros — tende a gerar inquietação nos países europeus, interessados em garantir estabilidade e acesso a mercados estratégicos. Esse contexto, segundo ele, pode levar a União Europeia a adotar uma postura mais pragmática e favorável à entrada em vigor do acordo com o Mercosul, assinado em dezembro do ano passado, mas ainda travado em parlamentos nacionais.
“O cenário internacional está mudando rapidamente, e os europeus sabem que não podem depender de um parceiro imprevisível como os Estados Unidos. O Brasil e o Mercosul surgem, nesse momento, como alternativas viáveis e confiáveis”, afirmou Amorim ao Valor.
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A guerra comercial promovida por Trump — especialmente contra países emergentes — tem despertado preocupações no setor industrial europeu, que vê no acordo com o Mercosul uma forma de diversificar suas parcerias comerciais e reduzir sua dependência dos EUA e da China.
O assessor especial de Lula, que foi chanceler durante os dois primeiros mandatos do petista, destaca ainda que o Brasil tem vantagens comparativas em setores estratégicos como o agronegócio, a energia limpa e a indústria de base, o que pode atrair investimentos e impulsionar o comércio bilateral com os europeus.
No entanto, Amorim reconhece que há resistências políticas internas na Europa, especialmente de setores ligados à agricultura e ao meio ambiente. “Cabe ao Brasil demonstrar que tem responsabilidade ambiental, compromisso com os direitos humanos e capacidade de ser um parceiro estável”, pontuou.
O governo brasileiro tem intensificado nos bastidores as negociações com países como França, Alemanha, Espanha e Irlanda para destravar a ratificação do acordo, que depende da aprovação de mais de 30 parlamentos na Europa.
Apesar dos desafios, a avaliação do Planalto é que o contexto geopolítico pode ser favorável ao Brasil — desde que saiba se posicionar com inteligência e firmeza.