Após atacar Tarcísio de Freitas por suposta aproximação com a chamada Terceira Via, o grupo político ligado à família Bolsonaro abriu um novo flanco de disputa interna na ultradireita. Desta vez, o alvo é o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que passou a ser acusado de tentar construir uma “direita sem Bolsonaro”.
A ofensiva foi escancarada por Paulo Figueiredo, neto do ex-presidente João Figueiredo e influenciador ligado à ala mais radical do bolsonarismo. Em declarações públicas e mensagens em grupos bolsonaristas, Paulo chamou Nikolas de “traidor” e sugeriu que ele estaria articulando uma nova liderança conservadora, independente do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O racha evidencia o clima de disputa pelo espólio político de Bolsonaro, que enfrenta restrições judiciais e investigações que podem inviabilizar sua candidatura em 2026. Nas últimas semanas, parte da base bolsonarista já havia se dividido entre nomes como Tarcísio, governador de São Paulo, e outros deputados federais que tentam se firmar como herdeiros do bolsonarismo.
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Nikolas, que ganhou projeção nacional nas redes sociais e é hoje um dos deputados mais votados do país, tem buscado ampliar sua base própria, com forte apelo entre jovens evangélicos e conservadores. O movimento desagrada setores mais radicais do clã Bolsonaro, que enxergam nele uma ameaça à fidelidade do eleitorado mais extremista.
Nos bastidores, aliados de Nikolas tentam minimizar a crise, mas o recado é claro: o bolsonarismo, longe de ser um bloco coeso, enfrenta fissuras que podem abrir espaço para novas lideranças ou fragmentar a ultradireita brasileira nos próximos anos.
O que significa o racha do clã Bolsonaro com Nikolas Ferreira
Por que isso aconteceu?
- O bolsonarismo sempre foi um movimento altamente personalista, centralizado na figura de Jair Bolsonaro. Sem ele na urna (por inelegibilidade ou desgaste), o campo ultradireitista começa a se fragmentar — disputando quem será o “herdeiro legítimo” desse capital político.
- Tarcísio de Freitas tentou se viabilizar como sucessor “moderado”, flertando com setores da direita tradicional e até do centrão.
- Nikolas Ferreira, por sua vez, tenta capturar o público jovem, evangélico e digital, mantendo a retórica ultraconservadora, mas se vendendo como uma marca própria — “o bolsonarismo sem Bolsonaro”.
- O clã Bolsonaro não admite isso, porque sabe que perde controle, verba, palanque e fidelidade se surgirem “satélites” autônomos demais.
Quem ganha com essa guerra?
- A oposição progressista: porque a fragmentação enfraquece o campo radical, espalha votos e cria brigas públicas que expõem as contradições internas.
- Outras alas da direita: como governadores, deputados e senadores mais pragmáticos, que podem se vender como opção de “direita viável” sem carregar o peso de Bolsonaro.
- Nikolas Ferreira (no curto prazo): ele se posiciona como independente, ganha manchetes e viraliza como “perseguido” pelo próprio bolsonarismo — o que agrada jovens insatisfeitos com a velha guarda.
Quem perde?
- O clã Bolsonaro, que mostra fraqueza e desorganização. Quando um movimento “puro” precisa ameaçar expulsar aliados para manter coesão, demonstra que o controle ruiu.
- Tarcísio, que também foi alvo recentemente, mostra que sua ponte com o centro-direita e o empresariado o torna suspeito para o núcleo mais radical.
- A base mais fiel, que fica confusa: afinal, quem é o “traidor” e quem é o “herdeiro real”?
Qual o risco para 2026?
Com Bolsonaro fora da disputa, o bolsonarismo terá:
- Mais de um nome tentando herdar o eleitor fiel.
- Disputa de palanques estaduais e falta de liderança clara.
- Risco de racha no PL (que hoje serve como guarda-chuva da extrema-direita).
- Se não houver candidato único, o bloco pode perder força no 1º turno — e ter dificuldade para chegar ao 2º turno competitivo contra Lula ou outro nome da centro-esquerda.
O racha com Nikolas mostra que o bolsonarismo é forte, mas é frágil como projeto sem Bolsonaro.
A ultradireita no Brasil vai continuar existindo, mas pode se dividir entre:
- Um caminho mais institucional e moderado (Tarcísio).
- Um populismo digital radicalizado (Nikolas).
- E possíveis outsiders, que podem surgir com outra roupagem.
- Se a esquerda e o centro entenderem isso, podem explorar as brigas para dividir votos, neutralizar narrativas extremistas e fortalecer o campo democrático.
- Rachas no Bolsonarismo
Trajetória mostra queda de Bolsonaro
2018 — Ascensão e união total
- Jair Bolsonaro é eleito com um discurso antipolítica tradicional.
- Aliança inicial une militares, liberais (Paulo Guedes), evangélicos e a ala mais radical (Olavo de Carvalho, filhos e blogueiros).
2019 — Primeiros atritos
- Saída de Gustavo Bebianno: primeiro ministro demitido após briga com Carlos Bolsonaro.
- Conflitos internos entre militares moderados e o “gabinete do ódio”.
- Racha entre os “lavajatistas” e Bolsonaro: Sergio Moro ainda ministro, mas já desconfortável.
2020 — Moro rompe
- Abril: Sergio Moro pede demissão, acusa Bolsonaro de tentar interferir na PF.
- Surge uma ala “lavajatista órfã” que rompe com o bolsonarismo raiz.
- PSL (partido pelo qual Bolsonaro foi eleito) implode em brigas internas: Bolsonaro sai do partido.
2021 — Bolsonaro sem partido
- Tentativa de criar o Aliança pelo Brasil fracassa.
- Base bolsonarista fica sem legenda oficial, fragmentando estruturas regionais.
- Atritos entre grupos: ruralistas, militares e influenciadores disputam espaço.
2022 — Campanha com rachaduras
- Bolsonaro perde eleição para Lula
- Tarcísio de Freitas surge como nome “moderado” no bolsonarismo.
- Michelle Bolsonaro cresce como figura pública, alimentando especulação de candidatura própria.
- Major Vitor Hugo, Carla Zambelli, Nikolas Ferreira e outros disputam a liderança da base conservadora jovem.
2023 — Pós derrota e inelegibilidade
- Bolsonaro inelegível após decisão do TSE.
- Disputa entre Tarcísio (Republicanos) e governadores bolsonaristas para ocupar o vácuo.
- Nikolas Ferreira consolida base própria nas redes, com pauta religiosa e “anti-sistema”.
2024 — Foco nas eleições municipais
- PL e Republicanos se dividem em disputas locais.
- Filipe Martins, Paulo Figueiredo e blogueiros olavistas pressionam para manter fidelidade ao “mito”.
- Tarcísio é atacado por aproximação com centro e mercado.
2025 — Racha Nikolas vs. Clã
- Paulo Figueiredo declara guerra a Nikolas Ferreira, acusado de criar uma “direita sem Bolsonaro”.
- Clã mira isolar Tarcísio e Nikolas, tentando manter Bolsonaro como único eixo.
- Base digital se divide: uma parte quer alternativas, outra exige lealdade incondicional.
- Carla Zambelli é condenada e foge do Brasil
Tendência até 2026
- Clã Bolsonaro: tenta manter Bolsonaro vivo como único líder, mesmo inelegível, e ameaça qualquer “traidor”.
- Mais fragmentação à direita.
- Tentativas de fusão, alianças oportunistas.
- Risco de vários candidatos disputando o mesmo eleitor ultraconservador.