Entre 2024 e 2025, estatal paulista foi autuada em mais de R$ 11,4 milhões pela Cetesb, mas segue recorrendo para evitar quitação
Por Sandra Venancio – Foto Rovena Rosa/Agencia Brasil
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), sob gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos), acumulou 57 multas ambientais desde janeiro de 2024 até julho de 2025, segundo dados obtidos pelo Metrópoles via Lei de Acesso à Informação (LAI). O valor total das autuações ultrapassa R$ 11,4 milhões.
Apesar da longa lista de penalidades aplicadas pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), a Sabesp quitou até o momento apenas 1,9% do montante — cerca de R$ 216 mil. Outras 10,2% das multas estão pendentes de pagamento, enquanto a esmagadora maioria, 87,2%, segue em fase de recurso administrativo, na tentativa de anulação ou redução dos valores.
As infrações incluem lançamento de esgoto sem tratamento em cursos d’água, falhas no sistema de abastecimento e descumprimento de normas de controle de poluição. A repetição das autuações aponta para problemas estruturais na gestão ambiental da companhia.
Ambientalistas criticam a postura da Sabesp, afirmando que o volume de multas e a baixa taxa de pagamento demonstram “cultura de impunidade” nas operações. Especialistas também alertam que a insistência em recorrer, em vez de corrigir falhas, prolonga danos ambientais e prejudica comunidades afetadas.
Privatização e impacto ambiental
O histórico recente da Sabesp ocorre em meio à polêmica sobre a privatização da estatal, defendida pelo governador Tarcísio de Freitas. Para críticos, o acúmulo de infrações e a resistência em arcar com penalidades ambientais reforçam preocupações sobre a capacidade de fiscalização e sobre a prioridade dada à preservação ambiental no novo modelo de gestão.
Sabesp privatizada rendeu R$ 14,8 bi, mas lucra R$ 9,6 bi por ano e piora atendimento
A privatização da Sabesp, concluída em julho de 2024, levantou R$ 14,8 bilhões com a venda de 32% das ações. Entregue à iniciativa privada, a empresa agora obtém lucro anual estimado em R$ 9,6 bilhões — mas com quedas claras na qualidade do serviço à população.
O governo de São Paulo vendeu 32% da Sabesp por R$ 14,7 bilhões, obtendo R$ 7,9 bilhões extras em ações pulverizadas e acionista de referência — o total da privatização girou em torno de R$ 14,8 bilhões. Cada ação saiu por R$ 67, valor cerca de 18% inferior ao preço de mercado naquele momento e muito mais baixo que o atual (~R$ 110), gerando uma perda estimada de até R$ 5 bilhões aos cofres públicos.
Entre os argumentos oficiais estava a promessa de descontos tarifários (até 10% para baixa renda e 200% de reajuste para grandes consumidores) e investimentos de R$ 66–70 bilhões até 2029, com universalização do saneamento. Entretanto, após a privatização, o que se vê é aumento de tarifas, cancelamento de contratos com descontos para indústrias, hospitais e shoppings, e redução de serviços para a população — o que alguns chamam de “Enel da água”. Demissões em massa (mais de 2.000 cortes até o primeiro trimestre de 2025) e falhas operacionais como vazamentos e água suja tornaram-se recorrentes.
Onde foi parar o dinheiro da venda
Dos R$ 14,8 bilhões levantados, pelo menos 30% foram destinados ao Fundo de Apoio à Universalização do Saneamento (FAUSP), com objetivo de subsidiar famílias de baixa renda e financiar obras em áreas sem cobertura. O restante dos recursos não possui destinação pública clara ou prestação de contas transparente.
Impacto à população
A promessa de universalização e tarifas mais baixas não se concretizou. Pelo contrário: aumentos de até 200% foram previstos em contas de grandes consumidores, e críticas sociais apontam que a qualidade do serviço piorou substancialmente após a privatização. O episódio gerou revolta popular e protestos de movimentos sociais, que alertam para risco de retrocessos na política de saneamento básico.
A Sabesp foi vendida por valor inferior ao de mercado, resultando em prejuízo aos cofres públicos, e agora gera lucros bilionários que privilegiam acionistas privados. Em paralelo, o atendimento à população piorou, tarifas subiram e há pouca transparência sobre como os recursos da venda estão sendo aplicados.