
Para uns a crise é só especulação, para outros é questão alarmante que ainda vai demorar em ter solução. De um jeito ou de outro, Campinas acaba sofrendo a influências do mercado. De acordo com uma Pesquisa realizada pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp-Campinas), o nível de emprego industrial na região apresentou o pior resultado para o mês de julho em 12 anos. Esse dado se refere a 500 empresas que fizeram parte do levantamento feito pela Facamp, revelando que no mês, 850 postos de trabalho foram fechados. No acumulado do ano, o número é de 1950 menos empregados. Já nos últimos doze meses, foram encerradas aproximadamente 4,4 mil vagas. O economista Guilherme Damasceno conversou com a equipe do Jornal Local e fez uma análise do papel que a crise tem em Campinas e o modo como os empresários e desempregados podem sair dessa situação.
A crise econômica é de fato tão alarmante ou é mais especulação?
Sim, podemos dizer que a crise é séria. Uma série de fatores está contribuindo para o agravamento da deterioração econômica no país. Estamos vivendo um período de alta da inflação, alta dos juros, desvalorização cambial, aumento da tarifa energética, aumento da água, aumento do desemprego, diminuição da renda, que acabam gerando uma expectativa negativa no mercado.
Qual a influência da crise econômica em Campinas? Por que isso ocorre ?
Em um cenário de crise econômica a tendência é uma retração nos investimentos e geração de novos postos de trabalho. Há ainda uma tendência de redução dos quadros funcionais. Normalmente as indústrias são as primeiras a reduzir suas contratações, uma vez que sente a diminuição da demanda de seus produtos provocada pela crise. Campinas tem uma vocação principalmente para a área de serviços, que também sofre bastante com os efeitos descritos acima.
Como reverter essa situação ?
A crise que estamos vivendo está relacionada com uma conjuntura nacional desfavorável, que deteriora as expectativas do mercado. O empresário pouco pode fazer para reverter a situação. A solução no momento é ter paciência e esperar esse período turbulento passar.
Então seria mais um momento de contenção do que de inovação?
O momento é de contenção. Os empresários devem prezar nesse momento pela saúde financeira de seus negócios. Aumentar o capital de giro da empresa nesse momento pode evitar surpresas desagradáveis nos próximos meses. O custo do investimento hoje também está muito caro, sendo preferível deixá-lo para um momento futuro.
Nessa situação, manter a empresa em equilíbrio representa qual desafio?
Para a maioria dos setores será difícil manter o volume de vendas diante do cenário que temos hoje. Para não perder tantas vendas, o empresário deve evitar repassar todo o seu aumento de custos para os seus clientes. Outra dica é diminuir os seus estoques, evitando que o dinheiro fique imobilizado e gerando custos de manutenção desse estoque.
Como economista, como você enxerga a recuperação dos setores ?
Acredito que a recuperação será lenta, dependendo de um resgate da confiança do mercado para voltar a investir, produzir e gerar emprego. A expectativa hoje é que a recuperação comece somente em 2017, sendo que, provavelmente, a situação possa ainda se agravar ainda mais. Mas essa é apenas uma previsão. Não podemos afirmar com certeza.
Uma das questões mais delicadas da crise é o desemprego. Como manter o quadro funcionários nesse atual cenário ?
A demissão deve ser a última alternativa. Existem algumas medidas que podem e estão sendo adotadas por muitas empresas. Férias coletivas e acordos coletivos para redução das jornadas de trabalho são um caminho. Devemos lembrar que as demissões geram um passivo trabalhista para empresas, o que acaba minimizando a economia com a redução do quadro funcional.
Para quem perdeu o emprego nesse período, como voltar para o mercado de trabalho ?
Nesse período de crise devemos ter uma retração dos postos de trabalho e mudança dos empregos formais para os informais. A dica para quem está desempregado é buscar mais qualificação para se recolocar no mercado. Buscar um curso de idiomas, um curso profissionalizante ou até mesmo uma extensão ou pós-graduação para quem tem ensino superior. Outra dica é não ser irredutível com relação as propostas que surjam pra você. É mais fácil arrumar um emprego quando está empregado do que quando está desempregado. Flexibilidade de salários e posições pode ajudar a voltar para o mercado de trabalho e depois buscar outras colocações.
Guilherme Damasceno: Guilherme Damasceno é economista e internacionalista (formado em relações internacionais) pela FACAMP, especialista em gestão pública com MBA em gestão estratégica de negócios e Relações Internacionais. Atualmente é assessor da Secretaria Municipal de Gestão e Controle na Prefeitura de Campinas, coordenando a elaboração de projetos de melhoria da gestão pública, como o Portal do cidadão e o Semurb On-line e preside a ONG Campinas pra Melhor. Foi um dos idealizadores da Fundação Pensando em Campinas