Deputado licenciado revelou informação privilegiada durante podcast e é investigado por possível prática de insider trading, após operação financeira às vésperas do anúncio oficial
Foto Paola Orte/Agencia Brasil
O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) admitiu publicamente que teve conhecimento prévio sobre a decisão do governo dos Estados Unidos de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. A confissão foi feita nesta segunda-feira (21), durante participação no podcast Inteligência Ltda., um dos mais populares da internet.
A revelação coloca o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro no centro de uma nova crise política e jurídica: ele é agora suspeito de envolvimento em uma operação bilionária de compra e venda de dólares realizada poucas horas antes do anúncio oficial das tarifas. A suspeita é de insider trading, ou seja, uso de informação privilegiada para obter vantagens financeiras no mercado.
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Investigação foi aberta por ordem do STF
O caso foi revelado pelo empresário Spencer Hakimian, CEO da gestora norte-americana Tulu Capital, que afirmou ter identificado movimentações atípicas de grandes volumes de dólares em nome de empresas e fundos ligados a interlocutores do ex-presidente Bolsonaro. Segundo ele, parte das operações foi feita com base em informações que ainda não estavam disponíveis ao mercado.
Diante da gravidade das acusações, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a abertura de um inquérito sigiloso pela Polícia Federal para apurar os indícios de crime financeiro, tráfico de influência internacional e eventual vazamento de decisões estratégicas de um governo estrangeiro com participação de cidadãos brasileiros.
A confissão no podcast
Durante o episódio do podcast, ao comentar o impacto das tarifas norte-americanas sobre o Brasil, Eduardo declarou:
“Olha, quando fiquei sabendo que isso ia acontecer — e não tô falando depois que saiu no jornal, não, foi bem antes — eu avisei: o Brasil ia pagar caro por esse alinhamento automático com regimes autoritários. A tarifa foi só o começo.”
A frase foi recebida com surpresa por analistas e agentes do mercado, que apontaram uma possível confissão espontânea de uso de informação não pública.
Fontes da Polícia Federal afirmam que o vídeo do podcast já foi anexado ao inquérito e será analisado como prova material. Há suspeitas de que o deputado tenha repassado a informação para pessoas e empresas que lucraram com a valorização repentina do dólar logo após o anúncio das tarifas.
Possíveis consequências legais
Se comprovado o uso de informação privilegiada com fins financeiros, Eduardo Bolsonaro pode ser indiciado por insider trading, crime previsto no artigo 27-D da Lei nº 6.385/76, com penas que variam de 1 a 5 anos de prisão, além de multa.
A investigação também pode se desdobrar em outras frentes, como lavagem de dinheiro, evasão de divisas e conspiração internacional para manipulação de mercado. Como o deputado está licenciado e atualmente reside nos Estados Unidos, o caso também pode envolver pedidos de cooperação jurídica internacional e até eventual extradição, se houver descumprimento de ordens judiciais.
Silêncio e repercussão
Até o momento, Eduardo Bolsonaro não se pronunciou oficialmente sobre o conteúdo da investigação. Procurada, sua assessoria limitou-se a dizer que “a fala foi retirada de contexto e não configura nenhum tipo de crime”.
O governo brasileiro, por meio do Itamaraty e do Ministério da Fazenda, acompanha com preocupação os desdobramentos. A revelação acentua o clima de tensão entre Brasília e Washington, já abalado pelas tarifas e pelas recentes declarações do ex-presidente Donald Trump sobre o governo Lula.
A Polícia Federal deve ouvir Eduardo Bolsonaro nas próximas semanas. O andamento do inquérito poderá afetar não apenas o futuro político do deputado, mas também a relação comercial e diplomática entre Brasil e Estados Unidos.
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