O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, atribuiu aos Estados Unidos a responsabilidade pela venda ilegal de lixo hospitalar ao Brasil. Após se reunir, com autoridades e empresários do Polo de Confecções do Agreste, onde funciona a empresa têxtil em cujos depósitos foi apreendido tecido importado irregularmente, o governador disse que irá acionar o Ministério das Relações Exteriores para que cobre providências do governo de Barack Obama.
O governador atribuiu à fiscalização aduaneira norte-americana a responsabilidade pelo material já apreendido em Pernambuco. Para Campos, os fiscais norte-americanos falharam ao permitir que a mercadoria deixasse o Porto de Charleston, na Carolina do Sul, com destino ao Brasil.
Além de dois contêineres com mais de 46 toneladas de lixo hospitalar retidos na última sexta-feira (14), no Porto de Suape, a Receita Federal, a Polícia Civil e as agências de vigilância sanitária estadual (Apevisa) e nacional (Anvisa) já interditaram uma loja e dois galpões onde encontraram toneladas de tecido com identificação de hospitais norte-americanos e manchas que podem ser de sangue. Os estabelecimentos interditados estão localizados nas cidades de Santa Cruz do Capibaribe, Toritama e em Caruaru e pertencem à empresa Na Intimidade, que funciona com o nome fantasia Império do Forro de Bolso.
A suspeita das autoridades é de que o material apreendido na loja e nos galpões seja parte da carga de seis contêineres que a mesma empresa pernambucana havia recebido antes e que não foram fiscalizados.
Campos adiantou que o governo estadual lançará nos próximos dias uma campanha publicitária nacional para minimizar o impacto da associação do nome do Polo de Confecções do Agreste ao caso e “limpar a imagem” do centro comercial. As peças serão aprovadas até a próxima terça-feira (25).
O receio do governador é de que o episódio afete as 22 mil empresas do Polo que geram 150 mil empregos.
O caso
Dois contêineres com cerca de 46 toneladas de produtos, muitos deles sujos de sangue e embalados em meio a seringas, ataduras, luvas e máscaras cirúrgicas, foram apreendidos pela Receita Federal na semana passada, no porto de Suape (PE). A documentação indicava que a carga seria de tecido de algodão com defeito.
A equipe investigativa de um jornal de Pernambuco comprou nove lençóis da empresa. Alguns estavam manchados e três possuem identificações de origem, como “Baltimore Washington Medical Center University of Maryland Medical System”. A empresa é acusada de vender o lixo em retalhos, peças inteiras ou transformado em forros para bolsos. O preço era calculado na balança. Um quilo de lençóis custava R$ 10.
A Polícia Federal também investiga os clientes da confecção de Santa Cruz do Capibaribe, responsável pela importação e revenda de lixo hospitalar produzido nos Estados Unidos. Segundo a PF, o objetivo é saber se esses compradores -a maior parte atacadistas- tinham conhecimento da origem do material importado ilegalmente e o que eles faziam com a mercadoria.