PM de São Paulo matou 737 pessoas em 2024; especialistas denunciam política de confronto e violação de direitos humanos
Por Sandra Venancio – Foto Arquivo Agencia Brasil
A letalidade da Polícia Militar de São Paulo atingiu patamares alarmantes sob a gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Dados oficiais da Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP), analisados pela reportagem, revelam que o número de pessoas mortas por PMs mais que dobrou desde 2022. Naquele ano, foram registradas 355 mortes por policiais, enquanto em 2024 o número saltou para 737 – um aumento de 107%.
>> Siga o canal do Jornal Local no WhatsApp
Ainda mais preocupante é o dado específico de mortes cometidas por agentes em serviço, que subiram de 330 em 2022 para 760 neste ano. Especialistas ouvidos pela reportagem classificam o cenário como de “licença para matar” e acusam o governo estadual de estimular políticas de confronto e impunidade dentro das forças de segurança.
“É uma curva de crescimento que destoa de todos os padrões democráticos. Essa militarização da segurança pública não está apenas matando suspeitos, mas aniquilando o controle civil sobre a PM”, alerta a advogada criminalista e pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Carla Souto.
Reação do MP e silêncio do Palácio dos Bandeirantes
O Ministério Público de São Paulo já recebeu representações de entidades como a Conectas Direitos Humanos e o IDDD (Instituto de Defesa do Direito de Defesa), que cobram investigações independentes sobre chacinas policiais recentes, como a do Guarujá, da Baixada Santista e de Ferraz de Vasconcelos.
Apesar disso, o Palácio dos Bandeirantes evita comentar os números crescentes. Procurada, a assessoria do governador não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre eventuais mudanças de protocolo ou responsabilização dos agentes envolvidos nos casos mais graves.
Projeto de Derrite amplia poderes da PM
Em meio à escalada de mortes, o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, ex-capitão da PM e aliado de Tarcísio, expandiu um projeto que permite que policiais militares conduzam diretamente suspeitos ao sistema prisional, sem a necessidade de passar pela polícia civil.
A medida, implantada inicialmente como piloto no centro de São Paulo, foi prorrogada e ampliada para a Zona Oeste, funcionando agora em todos os dias e horários. Juristas e entidades de direitos humanos denunciam a prática como inconstitucional e alertam que ela aumenta o risco de abusos e execuções sumárias.
Alerta internacional
O crescimento da violência policial também gerou preocupação fora do Brasil. Relatórios do Human Rights Watch e da Anistia Internacional mencionam o caso de São Paulo como exemplo de retrocesso no combate a execuções extrajudiciais.
Em nota, a relatora especial da ONU sobre execuções extrajudiciais, Margaret Satterthwaite, declarou que os dados do estado “exigem resposta imediata das autoridades brasileiras”.