Planalto mobiliza base evangélica, mapeia votos e reage a acusações de fisiologismo divulgadas por aliados de Alcolumbre
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensificou, nas últimas 48 horas, as negociações com o Senado para assegurar a aprovação do advogado-geral da União, Jorge Messias, à vaga do Supremo Tribunal Federal, em meio à escalada de tensão provocada pela reação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que acusa o Planalto de tentar imputar-lhe práticas fisiológicas.
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A ofensiva de Lula incluiu uma reunião reservada com o senador Weverton Rocha, relator da indicação, inicialmente marcada para o domingo (30) mas remarcada para esta segunda-feira (1º). O parlamentar, vice-líder do governo e considerado operador estratégico no Senado, foi encarregado de sondar resistências, reorganizar apoios e alinhar um parecer favorável a Messias ainda na Comissão de Constituição e Justiça.

A disputa ganhou contornos públicos após Alcolumbre divulgar nota atacando o governo, negando que estivesse condicionando apoio a cargos e emendas e afirmando sentir-se “ofendido” pela narrativa que teria partido do Executivo. A fala ocorre após uma semana em que, segundo apurações de interlocutores do Senado, o presidente da Casa teria ampliado pedidos por espaços no Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Cade e CVM.
A tensão aumentou quando o Planalto, mesmo após publicar a indicação no Diário Oficial, ainda não havia encaminhado a mensagem formal ao Senado, movimento interpretado por aliados de Alcolumbre como tentativa de pressionar o cronograma da Casa. Diante da repercussão, o governo reagiu por meio da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, que publicou mensagem nas redes sociais reiterando que o Executivo mantém “o mais alto respeito” pelo presidente do Senado e rechaçando “insinuações” de negociações por cargos ou emendas.
A aprovação de Messias na CCJ é considerada provável, mas o Planalto avalia que o embate real será no plenário. Senadores da oposição e do centrão afirmam que o desgaste entre Lula e Alcolumbre acende um alerta sobre a margem de votos; parlamentares próximos ao presidente do Congresso sinalizam que ele teria maioria suficiente para travar a indicação caso não haja recomposição.
A queda de braço entre Lula e Alcolumbre repete um padrão observado em indicações recentes ao Judiciário e a órgãos de controle. Em 2023, na disputa pela vaga de Flávio Dino no STF, bastidores do Senado relataram que a mesma pressão por espaços administrativos emergiu — embora nenhum dos lados admita oficialmente. Fontes da CCJ apontam que, desde 2019, Alcolumbre construiu influência decisiva no rito das sabatinas, centralizando negociações com o Planalto e partidos.
No caso de Messias, a resistência teria origem em duas frentes: primeiro, a preferência pessoal de Alcolumbre pelo nome de Rodrigo Pacheco, argumento que ele evita citar publicamente para não agravar o desgaste com o presidente do Senado; segundo, o incômodo com a perda de protagonismo no processo de indicações ao Judiciário, área que controla desde sua gestão anterior na CCJ.
Levantamento realizado pela reportagem mostra que das últimas nove indicações ao STF, PGR e agências reguladoras, Alcolumbre presidiu, relatou ou influenciou diretamente sete delas. A disputa atual representa, portanto, uma quebra no fluxo de poder acumulado nos últimos anos.
A equipe política do governo tenta medir o impacto desse atrito na base ampliada do Senado. Parlamentares que conversaram reservadamente com Weverton indicam que há pelo menos quatro votos considerados “voláteis”, todos ligados a partidos que tradicionalmente negociam cargos em segundo escalão. O governo teme que a crise pública tenha “empoderado” essas bancadas, encarecendo o custo político da aprovação.
Nos bastidores, aliados do advogado-geral da União, Jorge Messias, avançam nas negociações para assegurar os votos necessários à sua aprovação no Senado e acreditam que um apoio silencioso poderá ser determinante nessa etapa. Segundo Malu Gaspar, do jornal O Globo, a disputa poderá ter forte influência da bancada evangélica.
Parlamentares próximos a Messias analisam que parte expressiva dos senadores evangélicos — inclusive figuras alinhadas ao bolsonarismo — tende a votar a favor do indicado, embora dificilmente admita essa posição publicamente




