Presidente brasileiro aceita conversar com líder dos EUA sobre tarifas de 50%, mas governo avalia que Trump só negociará após medida entrar em vigor
Reportagem Sandra Venancio – Foto Joedson Alves/Agencia Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está disposto a conversar diretamente com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre as tarifas de 50% impostas a produtos brasileiros. No entanto, segundo fontes do Palácio do Planalto, o diálogo só ocorrerá se for Trump a tomar a iniciativa do contato. A decisão ocorre em meio ao agravamento da crise comercial entre os dois países.
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A poucos dias da entrada em vigor das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos contra produtos brasileiros — previstas para 1º de agosto — o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou que está aberto ao diálogo direto com Donald Trump. A condição, porém, é clara: a ligação deve partir da Casa Branca. A informação foi divulgada nesta terça-feira (29) pela coluna do jornalista Gerson Camarotti, do portal g1, e confirmada por diplomatas e assessores próximos ao presidente.
A possibilidade de uma conversa direta entre os dois chefes de Estado foi sugerida por senadores brasileiros, que veem na diplomacia presidencial um caminho para evitar prejuízos à economia nacional. A medida afeta uma ampla gama de setores exportadores, como agronegócio, siderurgia, calçados, máquinas, produtos químicos e até alimentos processados.
Apesar da disposição de Lula, o clima no Palácio do Planalto é de pessimismo. Fontes ligadas à Presidência e ao Itamaraty avaliam que Trump adotará uma postura dura, buscando usar a entrada em vigor das tarifas como elemento de pressão para ampliar seu poder de barganha nas negociações futuras.
Diplomatas ouvidos pela GloboNews ressaltam que qualquer telefonema entre os presidentes deve ser previamente acertado entre os canais diplomáticos, a fim de evitar incidentes como os que ocorreram em conversas recentes de Trump com os presidentes Volodymyr Zelensky (Ucrânia) e Cyril Ramaphosa (África do Sul), nas quais o norte-americano usou os encontros como oportunidade de humilhar os interlocutores e se autopromover politicamente.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a embaixada brasileira em Washington mantém contatos regulares com assessores da Casa Branca e tenta estabelecer uma base mínima de entendimento para eventual reunião ou chamada oficial. Há também uma articulação conjunta com a União Europeia e países do Sul Global afetados por medidas semelhantes, no intuito de apresentar o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Interlocutores de Lula afirmam que o presidente considera “inadmissível” o tratamento unilateral e punitivo adotado por Trump e que defenderá o Brasil “com altivez, sem se curvar”. No entanto, a equipe econômica e comercial busca evitar uma escalada que possa agravar a situação, prejudicar investimentos estrangeiros ou gerar retaliações adicionais.
A menos de 72 horas da entrada em vigor da medida, cresce a pressão sobre o governo brasileiro para apresentar respostas. Enquanto isso, exportadores e setores industriais seguem apreensivos com os impactos econômicos do chamado “tarifaço de Trump”.