Na tarde de quarta-feira, 17, o Jornal Local entrevistou o cantor e compositor Max de Castro. Ele e o seu irmão, Wilson Simoninha, trouxeram à Campinas na última sexta-feira, 19, o show: “Baile do Simonal”, uma homenagem ao pai Wilson Simonal, que fez sucesso nas décadas de 60 e 70 e caiu no ostracismo após ser boicotado pela indústria musical após denúncias de ser informante do DOPS.
Em 2009, foram lançados uma biografia, um documentário e relançados os discos de Simonal em CD. Max de Castro e Wilson Simoninha também lançaram um DVD, com a participação de vários artistas, em homenagem ao pai.
Na entrevista, Max de Castro fala sobre a importância de Simonal para a música brasileira, das parcerias musicais do pai e explica como nasceu a ideia do show e fala da emoção de prestar esta homenagem.
Jornal Local: Qual a importância do Simonal na música brasileira? Quais artistas ele influenciou?
Max de Castro: Ele teve uma importância grande pra música brasileira, inaugurou uma série de coisas e foi o primeiro Pop Star Negro do Brasil. Nos anos 60 ele tinha um programa na Record, produtos licenciados no nome dele. Na parte musical ele foi inovador porque misturava o samba, a bossa nova e o blues americano.
Ano passado, quando a gente gravou o DVD “Baile do Simonal” a gente viu quantos artistas, dos mais diferentes gêneros, ele influenciou. Pessoas que participaram da gravação confessavam que eram fãs do meu pai. Marcelo D2, Seu Jorge, Samuel Rosa, Lulu Santos, por exemplo.
JL: Ele foi um dos primeiros cantores negros a atingir o sucesso, o que ele significou para a música negra?
MC: Ele abriu o caminho pra música negra no Brasil. Depois dele vieram o Tim Maia, o Tony Tornado.
JL: Quais foram os grandes parceiros, musicais e na vida pessoal, do Simonal?
MC: Os grandes parceiros musicais do meu pai foram “O Som Três”, que era formado pelo César Camargo Mariano, Sabá Oliveira e Toninho Pinheiro. Eles acompanhavam meu pai nos shows, compunham com ele, eram grandes amigos. Também tinha o Erlon Chaves, o Ronaldo Bôscoli. Quase me esqueci do Jorge Ben Jor, que compôs com meu pai vários sucessos.
JL: Na época mais difícil, quando surgiu a dúvida em relação ao possível envolvimento do Simonal com a Ditadura Militar, quais foram aqueles que não se afastaram do Simonal?
MC: Os grandes amigos não viraram as costas. O boicote foi maior dentro da indústria musical, no meio musical não foi tanto. Naquele momento polarizado ideologicamente, por não saber direito o que estava acontecendo, alguns se afastaram, mais por medo do que por qualquer outra coisa.
JL: As homenagens que têm sido feitas ao Simonal, biografia, documentário, discos e shows, é uma espécie de “acerto de contas” com a história, imagem do seu pai?
MC: Acho bacana o que está acontecendo. Tá dando a oportunidade das pessoas conhecerem ele. Isso é legal com qualquer artista que ficou esquecido, que passou por um período de ostracismo. E é bom o que aconteceu com ele deixar de ser tabu, ser discutido. Não importa se você é a favor ou contra.
JL: Qual é a emoção de subir ao palco e interpretar músicas consagradas do Simonal? Vocês tentam dar uma outra interpretação ás músicas, uma outra sonoridade, como evitam comparações e como lidam com elas?
MC: É um projeto para homenageá-lo. Teve o documentário, teve o livro, mas o show é uma experiência instantânea. É para homenagear e celebrar a obra do artista e se emocionar. É muito especial para a gente acompanhar a emoção do público.
JL: Evidentemente você e seu irmão foram totalmente influenciados por ele. Quais outros músicos influenciaram o som de vocês?
MC: Eu sempre ouvi muita música brasileira, Jorge Bem, Tim Maia. Ouvi também Soul, James Brown e Michael Jackson, já na adolescência, quando estava maior. Mas, basicamente, era isso que rolava em casa.
JL: Além do show, vocês trarão à Campinas uma exposição fotográfica, são fotos do acervo pessoal, que saíram na mídia?
MC: É pras pessoas conhecerem mais dele, nesse momento que se tem esse interesse pelo meu pai.
JL: E como surgiu a ideia do show?
MC: Eu e meu irmão queríamos fazer um tributo ao nosso pai. Teve o livro, o documentário, mas tava faltando algo musical. Aí a gravadora fez o convite para a gente fazer o disco e o DVD. Depois do lançamento começou uma demanda por shows, quando chegou a um número expressivo começamos viajar. Estamos viajando desde o começo do ano e devemos ficar até o meio do ano que vem, temos uma excursão para a Europa para fazer. É uma coisa que não era planejada, tá acontecendo.