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sexta-feira, novembro 22, 2024

Na CPI reverendo não explica trambiques na Saúde e tentar blindar Bolsonaro

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Envolvido em uma sinistra negociata com o alto escalão do Ministério da Saúde para a suposta compra de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca

 

 

 

Um festival de bravatas, mentiras e contradições. Assim pode ser resumido o depoimento do reverendo Amilton Gomes de Paula desta terça-feira (3), até agora considerado um dos mais impressionantes casos de amnésia seletiva já registrados na comissão. Envolvido em uma sinistra negociata com o alto escalão do Ministério da Saúde para a suposta compra de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca, De Paula revelou-se um mentiroso compulsivo. Suas respostas evasivas tinham um claro objetivo: proteger o governo Bolsonaro

Entre várias perguntas sem resposta, ele não soube explicar como foi recebido a toque de caixa pela Saúde no dia 22 de fevereiro, mesmo dia em que fez um contato por e-mail com a Secretaria de Vigilância em Saúde para tratar de vacinas. Nem porque alterou o preço da vacina de U$ 10 para U$11 em carta ao secretário Executivo da pasta Élcio Franco no dia 15 de março. Ele se reuniu com Franco pessoalmente, bem como com outros técnicos da pasta, a mesma que ignorou mais de 100 e-mail enviados pela Pfizer com ofertas de vacinas.

Durante a oitiva, a Davati Medical Supply, empresa intermediária que participou das negociações, informou que a oferta sempre foi de U$ 10 por dose do imunizante.

 

Com suas “credenciais” de religioso e benfeitor, o “Embaixador da Paz” – como se apresentou o próprio De Paula, em terceira pessoa – foi autorizado pela Saúde a negociar com a empresa a compra das vacinas. Mesmo sem conhecer ninguém no ministério ou no Palácio do Planalto.

De Paula disse que foi “usado” pelo cabo da PM Luiz Paulo Dominguetti e por Cristiano Carvalho, dois alegados representantes da Davati. Mais adiante no depoimento, o religioso se disse arrependido pelo envolvimento no trambique quase aplicado na Saúde, pediu desculpas ao país e chorou.

De Paula também não esclareceu qual a ligação humanitária da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah) com as Nações Unidas, apesar de associar a imagem da ONU à ONG da qual faz parte, como provou o senador Jean Paul Prates (PT-RN).

Aos incrédulos senadores, o reverendo afirmou que seu envolvimento nas tratativas se deu por uma causa apenas “humanitária” e que, pela ajuda na aquisição dos imunizantes, receberia “doações” em nome da Senah. Ele não detalhou os valores das doações.

 

Propina

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) questionou a mudança de preço contida na carta enviada pela Senah ao secretário-Executivo. “A diferença de um dólar corresponde ao valor de propina por dose de vacina, conforme denunciado por Dominghetti”, apontou o Carvalho.

 

“O Reverendo Amilton não se arrepende de mentir”, lamentou Carvalho. “Mente que nem sente. Pensa apenas no que ganharia como recompensa, através de propina, por atuar como “operador” do governo Bolsonaro, que não tem nenhum empatia pelo sofrimento dos brasileiros”, lamentou o senador.

 

“Quem manda”

O senador Humberto Costa (PT-PE) interpelou o reverendo, citando uma conversa sobre o andamento das tratativas de Amilton com o cabo Dominguetti, o vendedor de vacinas. Em um trecho, o reverendo anuncia a Dominguetti que falou “com quem manda”, uma referência a Jair Bolsonaro. Em outro diálogo, é dito que a “Michelle entrou no circuito”.

Confrontado, e imediatamente orientado por seu advogado, De Paula afirmou que aquilo foi simples “bravata” de sua parte. Ele não soube dizer, no entanto, o motivo para querer impressionar o cabo Dominguetti. “Repense o seu depoimento. O senhor é um pastor, as pessoas creem nas suas palavras”, advertiu o presidente da comissão Omar Aziz (PSD-AM).

Ele também negou conhecer o ex-coordenador de Logística da Saúde, Roberto Dias, acusado por Dominguetti de ter pedido propina na negociação com a Davati. O gestor chegou a ser preso pela CPI da Covid no mês passado. O senador apresentou trecho de um diálogo entre de Paula e Dominguetti, no qual ele diz ao cabo da PM que está na sala de Roberto Dias no Ministério da Saúde.

Diante da insistência do religioso em dizer que não teve contato ou conhece pessoas do governo, além do senador Flávio Bolsonaro, o senador Ranfolfe Rodrigues (Rede-AP) perguntou: “ninguém mais?”

 

“Não me lembro”

“Eu creio que… eu não me lembro”, balbuciou de Paula. Em seguida, foi apresentada uma fotografia na qual o religioso aparece ao lado de Damares Alves, ministra Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. “O senhor que refazer a sua resposta?”, devolveu Rodrigues.

“O senhor está protegendo alguém”, sugeriu Costa. “O reverendo Amilton vai se complicando e mostrando a forma desse governo de negociar algo tão fundamental como a vacina”, concluiu o senador. “Não houve seriedade, apenas “bravatas” como ele afirmou. Enquanto essa turma brincava de vender vacina muita gente morreu. A verdade vai aparecer”, denunciou Costa.

 

ONU e Superman

O senador Jean Paul Prates (PT-RN) desmascarou a Senah, que se apresenta como ONG credenciada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pelas Nações Unidas. A entidade usa, inclusive, o símbolo da ONU e sustenta que faz parte de uma rede das Nações Unidas de trabalho voluntário. Na verdade, trata-se de uma plataforma de cadastro na internet.

“Estamos diante de falsários e estelionatários que usam símbolos de entidades internacionais para abrir portas e fazer negócios escusos na negociação de vacinas”, denunciou Prates, pelo Twitter. “Foi o que vimos hoje CPI da Covid. Queremos saber quem financia e quem se beneficia com isso”.

No momento mais surreal da oitiva, Prates questionou as ligações, confirmadas pelo reverendo, com o advogado do Paraná Aldebaran von Holleben, que preside a United Nations Mission of International Relations (UNMIR). A entidade é outra organização humanitária que usa a imagem da ONU para atuar em causa própria.

 

 

Holleben ficou conhecido por uma batalha na Justiça para ser reconhecido como Super-Homem. A decisão foi tomada depois que ele teve conhecimento de um acidente ocorrido na década de 90 e que deixou o ator que interpretava o herói no cinema, Cristopher Reeve, tetraplégico. O advogado processa a Warner Bros, produtora do filme, e disse que foi escolhido por Deus para ser o novo Homem de Aço. Ele alega, inclusive, ter poderes para voar.

“O reverendo que abre portas do governo federal para negociatas é parceiro de advogado que diz ser o Superman. É com essas pessoas “sérias” que o governo negocia a compra de vacinas”, ressaltou Nem Paul.

Da Redação do PT

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