A campanha nacional de coleta de assinaturas contra a reforma da Previdência de Jair Bolsonaro (PSL) teve início nesta quinta-feira (4), na Praça Ramos, no centro da capital paulista, e foi bem recebida pela população ansiosa por informações mais claras sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 006/2019, que muda, para pior, as regras da aposentadoria.
Milhares de trabalhadores e trabalhadoras passavam e paravam para assinar o abaixo-assinado e esclarecer as dúvidas sobre a reforma na barraca montada pela CUT, demais centrais – CTB, Força Sindical, Nova Central, CGTB, Intersindical e CSP-Conlutas – e frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo.
Além de assinar o documento e conversar com os representantes da classe trabalhadora sobre a resistência contra a aprovação da PEC, os trabalhadores pediram para fazer os cálculos para compararem como ficariam suas aposentadorias com as regras atuais e como podem ficar se as alterações propostas por Bolsonaro forem aprovadas pelo Congresso Nacional. Com o “Aposentômetro”, calculadora que o Dieese preparou para isso, muitos puderam, com a ajuda dos sindicalistas, fazer as comparações e entender como a reforma prejudica suas vidas.
Foi o caso do vendedor Marco Vernucio, 64 anos, que sentou para fazer o cálculo de quanto tempo falta para se aposentar e quanto seria o benefício nas duas situações – pelas regras atuais e com a reforma do governo. Ele, que já contribuiu por 28 anos à Previdência, completará 65 anos em novembro.
Pelas regras atuais, assim que completar 65 anos, poderá se aposentar por idade e terá o direito de receber 98% da sua média salarial. Já pela proposta de Bolsonaro, ele poderá se aposentar com 65 anos, que é a idade mínima exigida aos homens na reforma, mas receberá somente 76%, o que representa uma perda de 22% no valor final do salário benefício.
“É muito triste e duro tudo isso aí, né?”, disse em tom de lamento, acrescentando: “Muitos brasileiros sofrerão e não conseguirão sobreviver, pois o custo de vida está alto e a aposentadoria está caindo”.
“Muitos terão uma vida de miséria. Eu gostaria que o meu país fosse o melhor do mundo, porque o Brasil é lindo. Mas desse jeito vamos sofrer. Eu espero que eles [Bolsonaro e parlamentares] tomem consciência”.
Eu espero que não passe essa reforma e que todos possam se aposentar, viver e ter condições de comprar os remédios. É um direito nosso.- Marco Vernucio
A perda no valor da aposentadoria do vendedor Marco é muito parecida com a perda que também terá o capoeirista Edvaldo Silva, 63 anos, se a reforma de Bolsonaro for aprovada por deputados e senadores que estão no Congresso Nacional, supostamente, para defender os direitos do povo, seus eleitores.
Com cerca de 17 anos de contribuição, Edvaldo poderia se aposentar daqui a 2 anos com 95% da média salarial, segundo as regras atuais. Pela proposta de Bolsonaro, ele se aposentará aos 65 anos, porém receberá somente 76%.
“Se essa reforma passar, eu estou perdido. Eu juro que trabalhei em um monte de empresa, contribui, só queria me aposentar”, disse.
Indignado com a proposta de reforma da Previdência, o eletricista Eduardo Apóstolo não fez questão de fazer os cálculos, ele queria mesmo engrossar a lista de assinaturas contrárias à reforma, que será encaminhada à Brasília na segunda quinzena de maio.
“Eu já fiz as contas, sei que vou perder, estou indignado com o que estão fazendo com o povo”, criticou.
Essa reforma é um crime e eu estou assinando esse documento porque vamos mostrar para os que ficam lá em Brasília que somos contra o que estão fazendo com o povo- Eduardo Apóstolo
É o que pensa também a trabalhadora Rosângela Rodrigues, 54 anos, que hoje briga no INSS para conseguir a aposentadoria por invalidez.
Com o dedo amputado após ter de passar por quatro cirurgias, ela diz que só queria um pouco de paz e tranquilidade para conseguir organizar sua vida futura.
“A gente trabalha tanto nesse país. Quando a gente fica doente, precisa do INSS e eles querem tirar até isso da gente”, disse.
“Por que essas pessoas não se importam com o ser humano?”, questionou, emendando: “como vai ficar o país para os nossos filhos, nossos netos, as gerações futuras?”.
A luta pelo país
E é justamente para garantir o direito à aposentadoria da atual e das futuras gerações que a CUT, demais centrais e movimentos ligados às frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo vão rodar o Brasil para colher assinaturas e esclarecer a população sobre a importância de barrar a reforma da Previdência, explica o Secretário-Geral da CUT, Sérgio Nobre.
“Temos o desafio de combater a mentira espalhada pelo governo de que a reforma é necessária. Não é verdade. Essa reforma é para Bolosonaro e [Paulo] Guedes atenderem as cobranças do mercado financeiro”, alertou Sérgio.
“É uma perversidade e uma tragédia essa reforma. Além da aposentadoria, estão atacando a proteção de todo um sistema de Seguridade Social que garante auxílio doença, aposentadoria rural e proteção aos trabalhadores que mais precisam”.
Por isso, defende o Secretário-Geral da CUT, é importante que os trabalhadores procurem um posto de atendimento em seu estado e ajude a barrar essa reforma.
“Assine o abaixo-assinado, faça os cálculos e ajude a esclarecer parentes, amigos e vizinhos de que é preciso barrar essa reforma”.
Orientações
Os formulários do abaixo-assinado podem ser acessados aqui. Após fazer o cálculo, o trabalhador ganha uma cartilha (que pode ser acessada aqui) com todas as explicações sobre as principais mudanças que o governo quer fazer nas regras da aposentadoria e como elas afetarão a vida de cada um.
Após a coleta de assinaturas, os sindicatos e entidades devem enviar os formulários assinados para a CUT estadual, que encaminhará o documento final para a sede da CUT em Brasília, no endereço SDS – Setor de Diversões Sul – Ed. Venâncio V, bloco R, subsolo, lojas 4, 14 e 20 – Asa Sul – Brasília/DF – CEP 70.393-904.