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domingo, junho 8, 2025

Professor da Unicamp analisa atual situação do país

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Há um bom tempo os brasileiros não viviam situação de tamanha turbulência envolvendo a política e a economia. Acostumados aos anos dourados da era Lula, período em que a inclusão social chegou a altas taxas; em que o desemprego atingia patamar pouco significativo; em que o salário acumulava ganho real; quando se disponibilizou mecanismos para que o filho do pobre pudesse cursar a universidade e, entre outros, o país ‘bombava’ no exterior, ouvir falar em crise econômica, corte de verbas, etc, assusta a população.

Paralelamente a isso (e talvez por conta disso), termos como impeachment, retorno do regime militar e golpe, voltam a ser fartamente ouvidos no dia a dia. Mas será que apenas com estes instrumentos o Brasil pode voltar a crescer e a evoluir, beneficiando sua população?

Na avaliação do cientista social e professor da Unicamp, Valeriano Costa, o caminho para o crescimento e para a volta do país à tranquilidade não será construído por aí. Muito pelo contrário, o professor considera que os indicadores econômicos – que tanto horror causam aos apresentadores de telejornais e colunistas políticos -, mostram o Brasil em situação ainda confortável em comparação com vários países da América Latina e da Europa, como a Espanha, por exemplo, onde o índice de desemprego é próximo de 20%.

O brasileiro, entende o professor, está avaliando as condições do país com base na memória recente (dos anos do governo Lula) e não de um passado que considere, por exemplo, um período de 25 ou 30 anos, quando as condições eram bem piores. “Criou-se uma expectativa muito alta em relação ao nosso crescimento. Mas o Brasil, embora tenha resistido por um bom tempo, foi atingido pela crise econômica iniciada em 2008. E em um momento onde a situação política é ruim”, pondera.

Na avaliação de Costa, o país vive hoje uma conjunção de fatores econômicos não muito favoráveis e mau humor político. “Vivemos um momento de intensa polarização entre governo e oposição. A inabilidade política da Dilma (Rousseff) contribuiu para que a base de sustentação do governo ficasse fragilizada, dando espaço para que teses como a do impedimento da presidente voltassem a ser colocados pela oposição, que vive há 10 ou 12 anos uma situação bastante difícil, principalmente por conta da habilidade política de Lula”, considera.

Apesar de o impeachment voltar a ser assunto depois de mais de duas décadas, o professor não acredita que ele seja concretizado. “Com a derrota na eleição de 2014, não restou à oposição outra alternativa senão a de ‘cutucar’ o governo, de deixá-lo sempre na defensiva. Mas no momento não há base para a sustentação do impedimento”, diz. A manutenção da postura do ‘quanto pior, melhor’, entende o professor, leva a oposição a ser identificada como ‘pescador de águas turvas’. ‘Ao senador Aécio Neves, derrotado por Dilma em 2014, restou o discurso único: tirar a presidente do poder’, considera.

A tese do impeachment, diz Costa, é defendida apenas pelo grupo mais radical da oposição próxima a Aécio e não interessa nem mesmo ao partido dele, o PSDB. “Aécio tem interesse pessoal no assunto e estava se enroscando na questão do golpismo, certo de que seria praticamente o único candidato a ficar com o posto de presidente, já que para concorrer em 2018 ele terá de disputar a legenda com o governador Geraldo Alckmin e talvez até mesmo com o senador José Serra. Mas à oposição não interessa governar em situação de crise política e econômica. Não interessa gerenciar crises. Para ela é melhor manter, pelo menos até a próxima disputa presidencial, Dilma prisioneira de um ajuste econômico que nunca se encerra”, avalia.

Na opinião do professor, a Operação Lava Jato – que deve demorar mais um ou dois anos- será responsável por conclusões suficientes para o que ele classifica como ‘depuração’ na política. Mas o governo, acredita o professor, ‘tem ainda muita bala na agulha’ para fazer a travessia até 2018. “A expectativa é de que a economia comece a melhorar a partir do segundo semestre de 2016. E depois de chegar ao fundo do poço, a tendência é melhorar. Sendo assim, o governo pode recuperar seus índices de popularidade. Apesar disso, na eleição de 2018, a presidente Dilma não será ‘grande eleitora”, pondera.

Conflito político libera conservadorismo

 

O crescimento de uma posição conservadora no Brasil, com a eleição, em 2014, de um grande número de senadores e deputados fechados com temas não progressistas, tem contribuído para elevar a turbulência no país a partir, principalmente, da chegada do deputado Eduardo Cunha à presidência da Câmara Federal.

Assuntos como redução da maioridade penal, liberação do uso de armas, a não criminalização da homofobia, entre outros, que pareciam adormecidos nas gavetas da Câmara, voltam à pauta do dia e, alguns, com manobras do presidente da Casa, chegaram até a ser aprovados, inclusive com o apoio de um segmento da sociedade.

Essa postura não surpreende o cientista político e professor da Unicamp, Valeriano Costa. “O brasileiro, em boa parte, tem padrão conservador nas relações sociais e de família. Por isso, temas ligados à violência (ou suposta redução dela) têm o apoio desta parcela de brasileiros que só é progressista nas relações de trabalho e econômicas, Sempre foi assim”, analisa.

O que tem ocorrido agora, na opinião de Costa, é que o conflito político, de certo modo, liberou as pessoas a manifestarem suas posições, antes escamoteadas até mesmo por vergonha. ‘Com o surgimento de movimentos à direita, manifestar este tipo de opinião deixou de ‘ser feio'”, avalia.

Para o professor o aparecimento de grupos conservadores é comum em todas as partes do mundo. “Na Europa eles existem e crescem. Nos Estados Unidos também”, lembra. A diferença é que aqui ele ainda é difuso, espontâneo e não está organizado”, explica.

 

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