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quarta-feira, abril 30, 2025

Reencarnação e Psicoterapia

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A crença na reencarnação – envolve um ciclo contínuo de aprendizado e evolução através das vidas sucessivas – é encontrada ao longo da história humana em diferentes épocas e culturas. Deste ponto de vista, as dificuldades são transitórias e podem ser superadas quando suas lições que as adversidades trazem são absorvidas.

O psicólogo clínico e doutor em Neurociência e Comportamento pela USP, Julio Peres, publicou há dois dias o artigo “Should psychotherapy consider reincarnation?” no Journal of Nervous and Mental Disease (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22297317). “Há um crescente reconhecimento da necessidade de se levar em conta o ambiente cultural e os sistemas de crenças dos pacientes na psicoterapia. Respeitar as opiniões e realidades subjetivas do paciente é uma necessidade terapêutica e um dever ético, mesmo que os profissionais não compartilhem das mesmas crenças”, explica.

Em todo o mundo há um grande número de pessoas que crêem na reencarnação. Segundo dados do World Values Survey, tal crença é professada por 22,6% da população nos países nórdicos, 27% na Europa Ocidental, 20,2% na Europa Oriental; já nos Estados Unidos o número chega a 27% (Gallup, 2003) e no Brasil a 37% (Data Folha, 2007). Parte importante da cultura, as crenças religiosas têm papel importante na formação de juízos e no processamento de informações, auxiliando muitas pessoas a organizarem ou compreenderem eventos dolorosos, caóticos e imprevisíveis que podem gerar sintomas diversos como Fobias Específicas e Transtorno de Estresse Pós-Traumático.

A inclusão de “problemas religiosos ou espirituais” como categoria diagnóstica no DSM-IV (American Psychiatric Association, 1994) reconhece que os temas religiosos e espirituais podem ser foco da consulta psiquiátrica/psicológica. “Estar confortável para abordar com o paciente temas sobre espiritualidade e religiosidade como a reencarnação é o primeiro de uma série de passos para que o processo terapêutico siga as diretrizes éticas”, postula o psicólogo clínico.

“A integração da crença reencarnacionista durante a psicoterapia requer profissionalismo, conhecimento e capacidade de alinhar as informações coletadas sobre os valores do paciente para o benefício do seu processo terapêutico. Questionamentos como psicólogos e psiquiatras devem discutir reencarnação com seus pacientes?, quais são os limites profissionais quando temas religiosos e/ou espirituais são trazidos? foram esclarecidos”, afirma Julio Peres.

Recentemente um artigo no The New York Times (Lisa Miller) afirmou que o interesse na reencarnação está em ascensão, e os responsáveis pela divulgação não são monges ou teólogos, mas terapeutas. “Esta notícia nos indica uma abertura terapêutica saudável, mas também uma preocupação com ‘falsos-terapeutas’ que não possuem um treinamento clínico adequado para conduzir a psicoterapia”, ressalta Julio Peres. “Atribuir significados aos sintomas de ansiedade, desajuste, fobia específica ou estresse pós-traumático, alinhados aos conteúdo de supostas vidas passadas – se essa for a crença do paciente – podem favorecer a atenuação ou libertação dos sintomas.”

As práticas religiosas que envolvem a reencarnação, por exemplo, desempenham um papel ativo no desenvolvimento de mecanismos saudáveis de enfrentamento por refugiados tibetanos. Não tão distante, uma engenheira de 38 anos e mãe de três filhos, se sentia incapaz de se relacionar com um deles. “Ela não conseguia expressar afeto e evitava o contato com essa criança, sem compreender as causas deste distanciamento. Por acreditar na reencarnação e no fato que ‘somos um pai ou um filho nesta vida por alguma razão’, buscou algumas abordagens psicoterápicas até sentir que sua crença em relação à reencarnação era aceita. Ao sentir confortável para expor suas dificuldades com seu filho relacionando-as com o que acreditava, a paciente conseguiu se ouvir, gerar novos comportamentos e um equilíbrio na relação com o filho durante o processo terapêutico”, exemplifica Julio Peres. “Porém, para que isso acontecesse foi preciso entender a relação entre os sintomas apresentados por ela, as crenças na reencarnação e o significado da evolução espiritual para a paciente.”

O Conselho Federal de Psicologia (CFP), em nota pública sobre Psicologia e religiosidade no exercício profissional à sociedade e aos psicólogos, esclarece que “Não existe oposição entre Psicologia e religiosidade, pelo contrário, a Psicologia é uma ciência que reconhece que a religiosidade e a fé estão presentes na cultura e participam na constituição da dimensão subjetiva de cada um de nós.” http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/noticias/noticia_120228_001.html. Portanto, assim como qualquer pessoa pode procurar tratamento psicológico alinhado aos seus valores e crenças, a reencarnação deve ser levada em conta pelos psicoterapeutas, que devem procurar formação adequada em abordagens coerentes e eficazes sem misticismo ou práticas divinatórias. “As informações obtidas na psicoterapia devem ser sobre o que os pacientes acreditam, o que exige conhecimento de estratégias objetivas para otimizar o enfrentamento das dificuldades com base neste sistema de crenças”, ressalta Julio Peres, psicólogo clínico e doutor em Neurociência e Comportamento pela USP. O artigo “Should psychotherapy consider reincarnation?” é a primeira publicação científica sobre a interface equilibrada entre reencarnação e psicoterapia, que também oferece contribuições ponderadas em tópicos que discutem os riscos e as contraindicações.

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