
Sem benefícios como vale transporte, vale refeição e cesta básica há quatro meses, as faxineiras das Delegacias de Polícia Civil de Campinas estão trabalhando sem saber se vão receber. De acordo com relatos, a RM Group, empresa de São Paulo terceirizada contratada para o serviço, atrasa ou não paga as funcionárias de limpeza desde janeiro, quando iniciou contrato com o Governo do Estado de São Paulo, pela Secretaria de Segurança Pública.
Mais de 40 funcionários de limpeza das delegacias policiais distritais e da seccional vivem o problema desde então. A identidade das entrevistadas será preservada por questões de segurança. “Desde janeiro está assim, tem até grupo no WhatsApp das faxineiras. Estamos vindo trabalhar sem saber se vamos receber, só por consideração aos policiais”.
O atraso constante do salário (o último veio dia 13) e o não pagamento dos benefícios aliados à falta de pulso da Secretaria de Segurança Pública deixaram as funcionárias desacreditadas. “Já nos conformamos que não vamos receber nada. A maioria só não sai para não perder o ponto, para esperar a nova empresa”, revela uma delas.
Sem receber, muitas abandonaram o serviço ou começaram a ir com menos frequência para procurar outro emprego. Até uma encarregada pelas funcionárias de limpeza teria deixado uma delegacia. “Ninguém ajuda a gente. Passei vários dias sem dormir. Eu fazia duas delegacias, agora tive que ficar com uma só e venho dia sim dia não”.
As faxineiras contam que a RM Group não teria nem entregado material de limpeza em algumas delegacias. “Nunca trouxeram, o delegado tem que comprar com o dinheiro dele. E o Estado sabe e não faz nada? Tem culpa sim e muita. Eles sabem que a empresa não está pagando a gente e fingem que não é com eles”, critica.
Sindicato diz que vai entrar na Justiça
O Sineaco (Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio e Conservação de Campinas e Região), responsável pela categoria, afirmou estar ciente dos problemas com a empresa e disse que vai entrar na Justiça contra a RM Group e o Estado pedindo o que é de direito das mais de 40 funcionárias de limpeza das Delegacias de Campinas.
O Sindicato declarou ser um “caso atípico de uma empresa insolente com dificuldades de manter o contrato”. Frisou que se a empresa não tem condições, o Estado que tem que se responsabilizar, rescindir o contrato com ela e pagar os benefícios atrasados aos funcionários. “É lei, direito delas”. O sindicato aguarda resultados no início de outubro.
Sumiram?
A RM Group, que de acordo com policiais pertence a um ex-delegado de São Paulo, foi contatada por dias pelo Jornal Local, via e-mail e telefone, mas ninguém foi encontrado.
Governo se esquiva e deve rescindir contrato
O Governo do Estado de São Paulo, através da Secretaria de Segurança Pública, se esquivou sobre os pagamentos, destacando apenas que enviou dinheiro à empresa. A Secretaria salientou que Polícia Civil de Campinas realizou os pagamentos dentro dos prazos estipulados no contrato com a empresa terceirizada RM Group.
A empresa já foi multada em agosto por não se manifestar após o envio da terceira notificação da Seccional solicitando comprovantes de pagamento de seus funcionários. A RM Group foi notificada novamente em setembro e até o momento, ainda não teria se manifestado, segundo o Governo. A Secretaria destacou que a empresa será multada novamente e que corre o risco de ter o contrato rescindido em outubro.