Sertão Sem Fim, o novo livro do fotógrafo Araquém Alcântara é uma obra diferenciada, com 90 fotos em preto e branco, registradas com equipamento semelhante ao que usava no início de sua carreira, 40 anos atrás: uma câmera Leica, totalmente manual, três lentes e incontáveis rolos de filme Tri-X Pan, um clássico em p&b da Kodak. Posteriormente, as fotos foram tratadas digitalmente, impressas em papel especial italiano Garda Pat com técnica gráfica apurada, e impressionam pela delicada gradação de tons.
Araquém Alcântara é o notório fotógrafo da natureza brasileira. Já lançou mais de 40 livros, sempre investigando o Brasil, da Mata Atlântica, onde começou há quase 40 anos, à Amazônia, num conjunto que compõe um vasto atlas iconográfico da diversidade animal e vegetal do país. Com este novo “Sertão sem Fim” inova com a revelação de seres humanos tão próprios de uma terra que parecem estar engolindo um ao outro.
A noite de autógrafos acontece em São Paulo em 15 de dezembro, terça-feira, a partir das 18h, na Livraria da Vila (Alameda Lorena, 1731, tel.: 11.3062.1063).
O livro tem texto de apresentação do fotógrafo Eder Chiodetto, que também assina com Araquém a edição das imagens, além do ensaio “O Imaginário do Sertão”, de Walnice Nogueira Galvão, professora de teoria literária e literatura comparada da USP, autora de mais de 30 obras, 12 delas dedicadas a Euclides da Cunha e a Canudos. O projeto gráfico é de Victor Burton.
Sertão Sem Fim (Editora Terra Brasil) tem 176 páginas, com 90 fotos, formato de 30 cm x 31 cm, tiragem de 3 mil exemplares e será comercializado em duas versões: capa dura (R$ 120,00) e edição de luxo (R$ 140,00). O livro foi patrocinado pela empresa Qualicorp.
A feitura da obra consumiu dois anos de trabalho, sendo o de 2008 dedicado à concepção e ao planejamento, e o de 2009 às 12 peregrinações empreendidas por oito estados brasileiros, somente por estradas de terras, em busca dos vestígios de um mundo perdido no tempo, entre o norte de Minas e o Piauí, onde Araquém transformou em imagens a aridez tantas vezes cantada por Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, Graciliano Ramos, Ariano Suassuna e João Cabral de Melo Neto.
Araquém é o melhor narrador da sua jornada: ”Escolhi mapear o sertão como espaço geográfico o mais desabitado possível, a partir do norte de Minas e depois os interiores de Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Bahia e Ceará, lugares que não estão no mapa, esquecidos pela civilização mais que ainda mantém uma natureza primordial e intocada. No livro está o sertão de terra dura, ocre, agreste, banhado pelo sol escaldante, de estradas empoeiradas, lajedos e pedras calcinadas… Pobreza, fome, seca, fadiga, o amor e o sangue, a possessão das terras, as lutas pelas cabras e carneiros, a vida e a morte, tudo que é elementar no homem está presente nesta terra perdida”, conclui o fotógrafo.
Com liberdade total, sem nenhum compromisso comercial e amparado pelo patrocínio da empresa Qualicorp, Araquém aventurou-se com a Leica R 6.2 para seus destinos.
Escolheu máquina e filmes semelhantes aos que usava no início de sua carreira, 40 anos atrás, e aventurou-se com uma Leica R 6.2, totalmente manual, três lentes e incontáveis rolos de filme Tri-X, um clássico em preto e branco da Kodak.
O resultado são fotos de um país que até hoje a maioria dos brasileiros desconhece. Mostra cenários – e, sobretudo, personagens – que ainda hoje não estão na TV ou na internet apesar de toda diversidade de conteúdo e o alcance dessas mídias.
Sertão Sem Fim retrata um Brasil ocre, seco, espinhoso. Onde a poeira levanta para os cavalos em disparada e volta a se acomodar como moldura do casebre e dos cactos. Onde o vaqueiro ostenta o traje de couro gasto, mas só nas poucas ocasiões rituais. Onde o único sonho ainda é o de um dia sentir a água correndo fresca e livre.
Araquém eterniza lugares e personagens que parecem coisa da ficção mas são reais. Seu Nozinho de Cedrolândia é um ícone desse sertão. Assim como senhoras religiosas e os demais passantes de Acaba Vida, Compra Fiado, Buriti Cristalino e Cachoeira do Borudué, entre outras localidades que sim, existem de fato.