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sexta-feira, setembro 20, 2024

Site Intercept Brasil divulga novos vazamentos de conversa de Moro e Dallagnol

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O próprio The Intercept em sua reportagem mais recente, ressalta essa contradição: uma vez que as mensagens são falsas, como poderiam ter sido “retiradas de contexto”?

Os vazamentos de conversas do então juiz Sérgio Moro com integrantes da força-tarefa da Lava Jato no Paraná em 2017, revelados pelo The Intercept Brasil desde o último dia 9, têm provocado reações contraditórias entre aqueles que são acusados de conluio e perseguição ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Moro, atual ministro da Justiça e Segurança Públicado governo Bolsonaro (PSL), adotou primeiramente a estratégia de minimizar a relevância das reportagens, sem colocar em xeque a veracidade do material. No dia seguinte aos primeiros vazamentos, o ex-juiz disse que suas falas foram “retiradas de contexto” e que “não se vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da atuação enquanto magistrado”.

Em entrevista ao Estadão, na noite de quinta-feira (13), ele apresentou duas argumentações paralelas. A primeira dá a entender que as mensagens divulgadas pelo The Intercept poderiam ser falsas. “Não posso reconhecer a autenticidade dessas mensagens”, disse. “Não sei, por exemplo, como é que atribuíram aquelas mensagens a Moro, de onde que veio isso, esse Moro, da onde que veio o Deltan [Dallagnol, coordenador da força-tarefa da operação Lava Jato no Paraná]”.

No entanto, na mesma entrevista, o ex-juiz volta a sustentar a hipótese de que as conversas carecem de contexto e relativiza a importância das mensagens trocadas com integrantes da Lava Jato. “Se os fatos são tão graves como eles dizem que são, até agora não vislumbrei essa gravidade”, completa.

O próprio The Intercept Brasil, em sua reportagem mais recente, ressalta essa contradição: uma vez que as mensagens são falsas, como poderiam ter sido “retiradas de contexto”?

No dia seguinte, após cerimônia na Polícia Rodoviária Federal, em Brasília (DF), Moro admite ter indicado ao procurador Deltan Dallagnol, do Ministério Público Federal (MPF), uma pessoa “aparentemente disposta” a falar sobre imóveis relacionados ao ex-presidente Lula. “Eu recebi aquela informação, e aí sim, vamos dizer, foi até um descuido meu, apenas passei pelo aplicativo”, confessou.

A hipótese do hacker

Na segunda-feira (10) pós-vazamento, a força-tarefa da Lava Jato emitiu nota na qual diz ter sido alvo de um ataque hacker. Em nenhum momento, o portal The Intercept Brasil disse ter obtido o material por meio de hacker ou profissional com especialidade semelhante. O premiado jornalista Glenn Greenwald lançou mão de um expediente comum no jornalismo, que é garantir que seu informante seja mantido em anonimato.

“[As reportagens foram] Produzidas a partir de arquivos enormes e inéditos — incluindo mensagens privadas, gravações em áudio, vídeos, fotos, documentos judiciais e outros itens — enviados por uma fonte anônima”, explicaram os editores do portal ao lançar a série.

Apesar da preocupação com a segurança dos procuradores, expressa na nota da força-tarefa, Dallagnol se negou a entregar seu celular para ser periciado pela PF, dificultando o diagnóstico da suposta invasão do aparelho.

O também procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, interlocutor de Moro no vazamento mais recente, optou pela linha argumentativa de questionar a autenticidade do material divulgado pelo The Intercept: “Desconheço completamente as mensagens citadas”, disse em nota oficial publicada na noite da última sexta-feira (14).

A versão de Lima entra em choque com a nota da força-tarefa que ele integra: se as reportagens foram baseadas na atuação de um hacker, então o conteúdo seria original – o problema estaria nos meios de obtenção das conversas.

Questionado por internautas sobre a fragilidade da argumentação, Lima voltou a apresentar argumentos conflitantes em uma nova postagem nas redes sociais, às 14h de sábado (15): “Não reconheço qualquer diálogo. Não devemos acreditar no greenwaldismo, nesse esforço de desinformação e difamação. Esse pseudo jornalista deve entregar o meio pelo qual recebeu, se é que recebeu, o material para ser periciado”, finalizou.

Na manhã deste domingo (16), o The Intercept Brasil publicou um editorial respondendo às polêmicas e ironizando a hipótese levantada pela Lava Jato e pela Rede Globo. “A grande preocupação dos envolvidos agora, com ajuda da Rede Globo – já que não podem negar seus malfeitos – é com o ‘hacker’. E também nunca vimos tantos jornalistas interessados mais em descobrir a fonte de uma informação do que com a informação em si. Nós jamais falamos em hacker. Nós não falamos sobre nossa fonte. Nunca”, ressaltam os editores do portal.

Nota da defesa de Lula

É estarrecedor constatar que o juiz da causa, após auxiliar os procuradores da Lava Jato a construir uma acusação artificial contra Lula, os tenha orientado a desconstruir a atuação da defesa técnica do ex-Presidente e a própria defesa pessoal por ele realizada durante seu interrogatório (10/05/2017). As novas mensagens reveladas ontem (14/06/2019) pelo “The Intercept”, para além de afastar qualquer dúvida de que o ex-juiz Sérgio Moro jamais teve um olhar imparcial em relação a Lula, mostram o patrocínio estatal de uma perseguição pessoal e profissional, respectivamente, ao ex-Presidente e aos advogados por ele constituídos.

É inimaginável dentro de um Estado de Direito que o Estado-juiz e o Estado-acusador se unam em um bloco monolítico para atacar o acusado e seus advogados com o objetivo de impor condenações a pessoa que sabem não ter praticado qualquer crime.

É repugnante, ainda, constatar que a campanha midiática ocorrida em maio de 2017 objetivando atacar a memória de D. Marisa Letícia Lula da Silva tenha sido tramada pela Lava Jato, como também revelam as mensagens do “The Intercept”.

Tais fatos, públicos e notórios, reforçam o que sempre defendemos nos processos e no comunicado encaminhado em julho de 2016 ao Comitê de Direitos Humanos da ONU: Lula é vítima de “ lawfare” e o ataque aos seus advogados é uma das táticas utilizadas para essa prática nefasta.

Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira Zanin Martins

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