Foi aberta na manhã de 24 de outubro, na Casa das Rosas, em São Paulo, a exposição “Tecendo Histórias, Traçando Pontes”, evento integrante do calendário oficial do Ano da França no Brasil. Trata-se da apresentação de 40 bordados criados por mulheres que habitam regiões de periferias dos dois países. A proposta principal do evento é promover um diálogo entre as bordadeiras, o público presente e as obras.
No projeto, três grupos de mulheres de comunidades diferentes (zonas norte e sul de São Paulo e Aubervilliers, zona metropolitana de Paris) ficaram em suas respectivas regiões durante sete semanas elaborando seus bordados, em sua maior parte sobre recordações e histórias de vida. Depois, os três grupos se uniram por uma semana na capital paulista e trocaram experiências e impressões. As peças ficarão expostas até o dia 6 de dezembro no Espaço Haroldo de Campos na Biblioteca Casa das Rosas, na Avenida Paulista, das 10 às 21 horas das terças a sextas-feiras e das 10 às 18h nos fins de semana. A entrada é livre.
Segundo a criadora e coordenadora do projeto, Valdirene Gomes, foi utilizada uma metodologia já aplicada em outros projetos sociais semelhantes. “O intercâmbio cultural entre os dois países é o mais importante, pois enriquece a vida dessas mulheres que vivem nas periferias. A idéia é que elas bordassem e representassem alguns elementos de suas vidas. Estai há uma semana juntas e a interação entre elas foi fantástica”.
Aubervilliers foi representada pelo diretor da Vida Associativa e das Relações Internacionais da cidade, o franco-português Carlos Semedo, que se disse emocionado com a troca de experiências entres as participantes do projeto. “Ultrapassou nossas expectativas. Apesar das barreiras lingüísticas, houve uma cumplicidade enorme. Elas terminaram os trabalhos juntas, no mesmo bordado, às vezes. Portanto, realizaram uma obra conjunta”, afirmou.
Fernando Stickel, presidente da Fundação Stickel, colaboradora do projeto, acredita que o grande mérito do projeto está em unir a razão social com a motivação artística: “O objetivo é juntar essas mulheres que trabalharam numa mesma técnica em três locais diferentes e as histórias que elas contam através dos bordados. Muitas dessas histórias são semelhantes e tem um resultado plástico muito interessante”, afirmou.
Uma das bordadeiras, a copeira hospitalar Ineide Luísa da Silva, se emocionou ao falar da experiência de ter participado do projeto e de como ele o ajudou a melhorar sua vida. “Para mim, esse trabalho foi de grande valor. Sou uma pessoa muito depressiva e sozinha, por isso foi importante conhecer novas pessoas, ter novas idéias. Quando soube que era um projeto ligado ao Ano da França no Brasil fiquei ainda mais curiosa. Pensava que lá era um mundo diferente do nosso. Mas pelo contrário, é parecido, e as bordadeiras francesas também são. Combinamos em quase todos nossos gostos e jeitos de vestir. Até as histórias delas contadas no bordado são similares”, afirmou Ineide.
Já a jovem estudante Aline Santos, de 13 anos, revelou que para ela o projeto é o início de um futuro melhor. “Quero ser arquiteta, porque é uma profissão que dá um futuro melhor. Fui encaminhada ao projeto pela associação de meu bairro. Gostei da experiência de fazer bordados e, no futuro, posso vender alguns para ajudar minha família no futuro. Gostei mesmo de dividir as experiências com as francesas, porque a aprendi com elas e sei que elas também aprenderam com a gente”, disse a jovem, que se emocionou ao ganhar um dicionário de português e francês de uma das bordadeiras francesas.
O SESC São Paulo, a Fundação Stickel e a Associação “Une Oasis dans la Ville – Autour de Vous” são co-realizadores do projeto, que foi criado e realizado pelo Tecendo Nossa História. O projeto também teve apoio da Prefeitura Municipal de São Paulo, da Municipalidade de Aubervilliers, do Governo do Estado de São Paulo, do Sistema Municipal de Bibliotecas, do Governo do Brasil e da República Francesa.