Depois de lançar seu quarto romance, “Leite derramado”, Francisco Buarque de Hollanda é alvo de profunda e acurada análise. Só que agora os holofotes não são para o escritor, mas para a trajetória musical de um dos mais geniais compositores brasileiros. O livro “Histórias de Canções – Chico Buarque”, de Wagner Homem, da Editora Leya, reúne – contando, confirmando ou dissipando – algumas das mais saborosas histórias do meio artístico nacional.
Responsável pelo site do cantor e compositor, Homem se vale do vasto conhecimento da obra de Chico para destrinchar, com minúcias, episódios relacionados a mais de uma centena de canções do artista. São 428 páginas, 26 capítulos divididos em períodos históricos, cobrindo de 1964 a 2008. Em cada abertura de capítulo, uma apresentação da cena sociopolítica vigente na época, com exceção de dos dois últimos – um deles sobre a morte de Tom Jobim, em 1994, em Nova York.
Um livro sobre as canções de Chico é riquíssimo em personagens de todos os matizes. Está ali a nata da cultura nacional, gente como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Edu Lobo, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Toquinho e Zuzu Angel. Estão também histórias deliciosas como a da parceria de Chico e Vinicius na letra de “Gente humilde”, música de Garoto. Enciumado com as parcerias de Chico e Tom Jobim (na época eram três), Vinicius aproveitou uma ida à Itália, em 1969, para conhecer a afilhada Sílvia e pediu que Chico desse um “jeito” na letra. O amigo nada achou de errado numa letra irretocável e só acrescentou uma estrofe. Foi o suficiente para Vinicius alardear a Tom que agora também era “parceirinho” de Chico.
Wagner Homem conta que subterfúgios o cantor e compositor usava para driblar a censura. Julinho da Adelaide e Leonel Paiva foram alguns dos pseudônimos que Chico usou numa época que os censores vetavam tudo que compunha. Julinho até biografia tinha. Autor de “Acorda amor”, de 1974, Julinho era morador da Favela da Rocinha e a letra passou incólume pelo crivo da censura. A canção descreve uma prisão muito parecida com a que Chico fora vítima em 1968. Julinho da Adelaide sobreviveu até a terceira composição, quando o governo descobriu o expediente de Chico e passou a exigir carteira de identidade dos compositores.
“Histórias…” esclarece que muitas das canções não têm a fonte inspiradora que os boatos propagam. Outras, poucas, segundo o cantor e compositor, têm endereço específico. Também são tema do livro os concorridos e polêmicos festivais da canção dos anos 60, a pretensa rivalidade com a Tropicália, de Gil e Caetano. Todas as histórias são acompanhadas das letras das canções para facilitar a leitura.
Mais que um livro sobre músicas, “Histórias de Canções – Chico Buarque” é o relato de um Brasil contemporâneo.
Ficha técnica
Título: Histórias de canções – Chico Buarque
Autor: Wagner Homem
16×23 cm, Brochura, 356 páginas
R$ 44,90