Após viagem a Roma e encontro com o Papa Leão XIV, presidente retoma articulações políticas em Brasília para definir nome ao Supremo, medidas fiscais e possível entrada de Guilherme Boulos no governo
Por Sandra Venancio
Brasília — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarca nesta terça-feira (14) em Brasília, após viagem oficial a Roma, trazendo na bagagem três decisões que podem redefinir o equilíbrio político e econômico do governo nas próximas semanas. Na pauta do Planalto estão a escolha do novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), a formulação de alternativas para compensar a queda de arrecadação após a caducidade da medida provisória (MP) do IOF e o destino político do deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP), cotado para assumir um ministério.
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Durante a viagem à Itália, onde participou da Semana Mundial da Alimentação, promovida por um órgão multilateral da ONU, Lula concedeu entrevista coletiva e adiantou que ainda não há um nome definido para o STF. A vaga foi aberta com a aposentadoria do ministro Luís Roberto Barroso, atual presidente da Corte.
O presidente afirmou que pretende conduzir a escolha com cautela e diálogo:
— “Eu quero uma pessoa, não sei se mulher ou homem, não sei se preto ou branco, eu quero alguém gabaritado para ser ministro da Suprema Corte. Não quero um amigo, quero alguém que cumpra a Constituição”, declarou Lula.
A fala indica que o petista busca um perfil técnico e jurídico sólido, evitando interpretações de favorecimento político. Entre os nomes cotados nos bastidores estão ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ), juristas próximos ao PT e advogados com atuação em causas sociais.
No campo econômico, o governo tenta recompor o impacto causado pela derrubada da MP que substituía o aumento do IOF, medida que previa ampliar a arrecadação para equilibrar as contas públicas até 2026. O tema provocou uma crise na base aliada, resultando em exonerações de indicados do Centrão em cargos de segundo escalão, e agora exige nova estratégia fiscal. O Ministério da Fazenda trabalha em alternativas que possam ser enviadas ao Congresso ainda neste mês.
Outro ponto sensível na agenda de Lula é o futuro de Guilherme Boulos, aliado histórico e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo. O nome do deputado voltou a circular entre interlocutores do Planalto para compor o ministério, em um movimento que poderia fortalecer a articulação política entre o governo e setores da esquerda. A decisão, no entanto, depende de ajustes na composição ministerial e de cálculo eleitoral.
Nos próximos dias, Lula deve se reunir com ministros e líderes partidários para alinhar as definições. A expectativa no Planalto é de que as decisões sobre o STF e a nova medida fiscal sejam tomadas ainda em outubro, enquanto o eventual convite a Boulos pode ficar para depois da reforma ministerial prevista para o fim do ano.
Entre Roma e Brasília, o presidente retorna a um cenário político delicado, com pressões do Congresso e desafios econômicos imediatos. O desfecho das três pautas deve indicar o rumo do governo nos próximos meses — e o tamanho da base que Lula conseguirá sustentar até 2026.