Paralisação iniciada no começo da manhã reduziu a frota ao nível crítico, afetando milhares de passageiros e gerando transtornos no transporte público da cidade
Por Sandra Venancio
Os motoristas do transporte coletivo em Campinas entraram em greve a partir das primeiras horas desta quinta-feira (23/10), provocando uma forte queda no número de ônibus em circulação e deixando muitos usuários sem condução para trabalho e estudo.
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A paralisação teve início por volta das 4 h da manhã e durou aproximadamente duas horas, conforme informou a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec). Motoristas das concessionárias VB1, VB3, Campibus e Unicamp aderiram ao movimento.

A técnica de enfermagem Carla Montemor, 32 anos, aguardava no Terminal Campo Grande desde antes das 6h da manhã. Sem previsão de chegada dos ônibus que costumam levá-la ao Hospital Ouro Verde, ela relatou frustração e medo de perder o plantão:
“Eu até entendo a situação dos motoristas, porque todo mundo precisa receber em dia. Mas a gente acaba sempre sofrendo junto. Se eu chego atrasada, eu perco o dia de trabalho. E quem paga essa conta?”
O protesto foi motivado por atrasos no pagamento de salários e benefícios, em especial o adiantamento salarial (“vale”) que não teria sido depositado no dia previsto — uma situação que, segundo o sindicato, persiste há mais de três meses.
Em resposta, a Emdec acionou o plano de emergência denominado PAESE (Plano de Apoio entre Empresas de Transporte frente às Situações de Emergência) e mobilizou transporte alternativo, incluindo veículos de cooperativas para atender os eixos com maior demanda como Amoreiras, Ouro Verde e Campo Belo.
O estudante do ensino médio Lucas Amaral, 17 anos, morador do Satélite Íris, também foi surpreendido pela paralisação e teve de pedir carona para não perder prova:
“Cheguei no terminal e não tinha nada rodando. Fiquei uns 20 minutos esperando até minha vizinha estar indo pra região central. Se não fosse isso, eu já teria perdido a prova do trimestre.”
Também foi liberado o tráfego de veículos particulares nos corredores exclusivos de ônibus para amenizar os impactos no trânsito urbano. Apesar das medidas, usuários enfrentaram longas esperas nos terminais, superlotação nos poucos ônibus disponíveis e aumento no volume de veículos particulares nas ruas. A situação repercutiu em diversos pontos da cidade, com destaque para os terminais de Itajaí, Campo Grande e Satélite Íris, que sofreram atendimento parcial.
A prefeitura acompanha a situação de perto e informou que estuda adotar medidas judiciais mediante liminar para garantir o funcionamento mínimo do transporte coletivo, caso o movimento se prolongue.
Já a diarista Helena dos Santos, 54 anos, estava em uma longa fila no Terminal Itajaí e viu apenas um ônibus chegar completamente lotado:
“Chega um ônibus, mas ninguém entra. Eu preciso chegar no serviço hoje, senão não recebo. A cidade não pode ficar refém de empresa e prefeitura brigando. A gente só precisa trabalhar.”
Sindicato não descarta nova greve
O Sindicato dos Rodoviários afirmou que lamenta os transtornos causados à população, mas pediu compreensão. A entidade sustenta que os trabalhadores “não suportam mais essa realidade” e que já havia notificado as empresas e o poder público exigindo a regularização dos pagamentos. A categoria aguarda uma resposta concreta da gestão e das concessionárias antes de definir os próximos passos, e não há previsão para nova paralisação — embora o sindicato não descarte novas mobilizações caso a situação persista.




