Investigação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) revela esquema do PCC em roubo, contrabando e falsificação de defensivos agrícolas que atinge a produção de café no interior paulista
Por Sandra Venâncio
Uma das maiores operações já registradas no estado de São Paulo confirmou a atuação do Primeiro Comando da Capital (PCC) no mercado de agrotóxicos falsificados, um negócio clandestino que movimenta cerca de R$ 20,8 bilhões por ano no Brasil, segundo estimativas do setor. A investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), em Franca, teve início apurando práticas de agiotagem e acabou revelando a participação direta da facção criminosa em roubos de cargas, contrabando e na falsificação de defensivos agrícolas utilizados principalmente na cultura de café.
>> Siga o canal do Jornal Local no WhatsApp
Mensagens interceptadas pela investigação mostram integrantes do PCC negociando “pagamentos pelo veneno” — como se referiam aos defensivos — e fazendo ameaças para quem atrasava valores, com a inclusão de devedores em uma “lista negra”, no padrão típico de coerção imposto pela facção. Em julho deste ano, uma ofensiva conjunta apreendeu mais de 30 mil embalagens destinadas à falsificação em uma chácara na região de Franca, indicando a escala industrial da operação.

O esquema ilegal identificado pelos promotores envolve uma cadeia estruturada em quatro pilares: o roubo de cargas legais de produtos químicos; a falsificação de defensivos por meio da mistura de substâncias lícitas e ilícitas; o contrabando de mercadorias proibidas ou não autorizadas; e o desvio de produtos importados para finalidades clandestinas. As apurações também localizaram nove núcleos especializados dentro da rede criminosa, dedicados desde a produção clandestina de embalagens e rótulos até a emissão de notas fiscais falsas para mascarar a circulação dos produtos.
Com forte incidência em regiões agrícolas do interior paulista, sobretudo onde há predominância da lavoura cafeeira, o comércio criminoso de insumos causa prejuízos bilionários ao setor formal e coloca em risco a saúde humana, o meio ambiente e a rastreabilidade da produção. Defensivos adulterados podem conter substâncias proibidas no país ou concentrações irregulares, ampliando o impacto do crime muito além da esfera econômica.
Promotores envolvidos no caso afirmam que o alto “custo-benefício” para os criminosos e a dificuldade de rastrear produtos químicos favorecem a expansão do mercado ilegal. Muitos dos insumos entram no Brasil vindos do Paraguai, Uruguai e China, o que exige uma articulação que envolva fiscalização agropecuária, órgãos ambientais, Polícia Civil e sistemas integrados de monitoramento da cadeia produtiva.
A continuidade das ações — como as operações “Lavoura Limpa”, em 2014, “Princípio Ativo”, em 2020, “Piratas do Agro”, em 2022, e a recente “Castelo de Areia”, em 2024 — demonstra que o problema é persistente e desafia o Estado em diferentes frentes. Enquanto o combate avança, o PCC se expande para mercados que oferecem alto lucro e baixa vigilância, e os defensivos agrícolas se consolidam como um dos braços mais lucrativos do crime organizado no campo.




