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sexta-feira, novembro 14, 2025
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PF detalha três núcleos em esquema de desvios da Conafer que podem ter chegado a R$ 6,3 bilhões

Data:

Entidade teria desviado R$ 640 milhões de aposentados; investigação envolve ex-presidentes do INSS, operadores financeiros e deputado do Republicanos


Por Sandra Venancio

A Polícia Federal identificou três núcleos de atuação — de comando, financeiro e político-institucional — que estruturaram um esquema de desvios na Confederação Nacional de Agricultores Familiares (Conafer) e permitiram cobranças indevidas em benefícios do INSS entre 2019 e 2024. Apenas a parte atribuída à Conafer teria movimentado R$ 640 milhões, mas o rombo total, envolvendo outras entidades, pode chegar a R$ 6,3 bilhões, segundo PF e CGU.

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Como funcionava o esquema

A nova fase da Operação Sem Desconto, autorizada pelo ministro André Mendonça (STF), revelou que o grupo fraudava convênios com o INSS para inserir descontos associativos sem autorização de aposentados e pensionistas.

As investigações indicam mais de 600 mil vítimas e milhares de reclamações judiciais e administrativas abafadas por meio de influência política e pareceres internos.

O ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto foi preso acusado de atuar como facilitador institucional, garantindo a continuidade dos convênios usados para impor os descontos irregulares. Foto Lula Marques/Agencia Brasil

Presidente da Conafer liderava a estrutura criminosa

Segundo a PF, o presidente da Conafer, Carlos Lopes, é apontado como o “mentor intelectual” da organização criminosa. Ele orientava funcionários a obter assinaturas de idosos para falsificar fichas de filiação e dar aparência de legalidade às cobranças indevidas. Com prisão decretada, Lopes não havia sido localizado até a noite de quinta-feira.

Acesso indevido ao sistema Dataprev

O irmão dele, Tiago Abraão Ferreira Lopes, vice-presidente da entidade, foi preso e é acusado de acessar indevidamente o sistema interno do INSS para enviar listas fraudulentas de beneficiários.

Entre 2019 e 2024, Tiago recebeu ao menos R$ 5,5 milhões provenientes da Conafer, segundo a PF.

Empresas de fachada para lavar e distribuir propina

A ala financeira era comandada por Cícero Marcelino de Souza Santos, preso na operação. Ele teria criado uma rede de empresas de fachada para receber recursos desviados da Conafer e repassá-los a agentes públicos e aliados políticos.

Mensagens recuperadas mostram conversas entre Cícero e Carlos Lopes sobre pagamentos ilegais, registrados em planilhas que apelidavam beneficiários de “heróis” e “amigos”.

Instituto Terra e Trabalho na rota do dinheiro

Outro integrante desse núcleo é Vinícius Ramos da Cruz, presidente do Instituto Terra e Trabalho (ITT), responsável pela execução técnica de parte das transações ilícitas. Ele controlava fluxos de repasses via ITT — inclusive a valores destinados ao deputado Euclydes Petersen (Republicanos-MG).

Ex-presidente do INSS preso por manter convênio irregular

O ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto foi preso acusado de atuar como facilitador institucional, garantindo a continuidade dos convênios usados para impor os descontos irregulares.
A PF afirma que ele recebia até R$ 250 mil por mês, disfarçados como consultorias.

Propina a procurador e influência interna

O ex-procurador-chefe do INSS Virgílio Antônio de Oliveira Filho também é apontado como peça-chave na estrutura.

Ele emitia pareceres favoráveis aos convênios e teria recebido R$ 6,57 milhões em propinas, registradas com codinomes como “Herói V” e “Amigo V”.

Deputado do Republicanos recebeu R$ 14,7 milhões

A PF atribui ao deputado Euclydes Petersen (Republicanos-MG) o papel de proteger politicamente a Conafer, interferindo para barrar fiscalizações e manter convênios ilegais.
Ele recebeu R$ 14,7 milhões de empresas ligadas ao operador financeiro.

André Mendonça autorizou apenas mandado de busca e apreensão — negando o pedido da PF de tornozeleira eletrônica, fiança milionária e afastamento do mandato.

Envolvimento durante governo Bolsonaro

As investigações apontam ainda que o esquema funcionava plenamente no governo anterior.
O ex-ministro e ex-diretor do INSS José Carlos Oliveira, atualmente rebatizado como Ahmed Mohamad Oliveira Andrade, é tratado como um dos “pilares institucionais” da fraude.
Nas planilhas, ele aparece como “São Paulo” ou “Yasser” e teria recebido valores de empresas de Cícero Santos.

Segundo a PF, o esquema envolveu mais de 600 mil vítimas e sobreviveu durante anos graças à proteção de gestores do INSS.

A investigação agora avança sobre quebras de sigilo, perícias e rastreamento de novos beneficiários de propina.

Site da CONAFER

No site da Conafer, além do programa de energia rural, ainda constam diversos outros serviços oferecidos pela entidade. Entre eles, estão opções de empréstimos para associados, atendimento ao INSS Digital, facilidades de acesso ao Clube Terra — plataforma de benefícios voltada ao público rural —, além de uma série de outros serviços que permanecem listados de forma ativa no portal oficial da confederação. Assistência em saúde com o Mais Vida Brasil que inclui: assistência funeral; telemedicina; assistência medicamento; orientação farmacêutica; assistência odontológica; seguro de vida por acidentes pessoais

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