Afastamentos somam 600 dias em 2025; prefeitura e Cremesp apuram fraudes e possíveis vínculos externos
O Ministério Público de São Paulo abriu investigação para apurar possíveis irregularidades em licenças médicas de profissionais da UPA Carlos Lourenço, em Campinas. A unidade registra ao menos 600 dias de afastamentos apenas em 2025, segundo levantamento encaminhado à Promotoria.
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Dos 36 clínicos gerais concursados da UPA, 28 apresentaram atestados neste ano. Dez deles concentram os períodos mais extensos de afastamento, que juntos chegam a 569 dias. Há registros de licenças de diferentes durações: um caso de 155 dias, outro de 95 e outro de 74, além de uma sequência de períodos menores que também têm chamado atenção da prefeitura.

A administração municipal já havia iniciado apuração interna e acionou o Conselho Regional de Medicina diante de dois indícios principais: a concentração de pedidos de atestado entre quintas e domingos e a emissão de documentos por pediatras e ginecologistas para médicos homens, situação considerada incomum no padrão de atendimentos regulares. A sindicância também consulta bancos oficiais para verificar se algum dos profissionais atuou em outros serviços de saúde durante o período de afastamento.
Inaugurada em 2019, a UPA Carlos Lourenço atende cerca de 200 pessoas por dia, possui 23 leitos e equipe composta exclusivamente por concursados, com jornadas entre 24 e 36 horas semanais e salários que variam de R$ 20 mil a R$ 26 mil. O Cremesp confirmou abertura de sindicância, sob sigilo, e informou que as penalidades possíveis vão de advertência e suspensão até a cassação do exercício profissional, caso seja comprovada fraude.
Padrões, omissões e o que falta esclarecer
Os números levantados pela prefeitura indicam um padrão de ausências que coincide com fins de semana prolongados, movimento incomum para uma unidade de pronto atendimento. A Promotoria pretende cruzar escalas de plantão, horários dos atendimentos e datas de emissão dos atestados para verificar repetições entre profissionais específicos.
Outro ponto investigado é o possível uso de licenças para atuar em serviços privados, hipótese já analisada por meio de consultas ao Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde. A confirmação dessa prática elevaria o caso ao patamar de infração ética e eventualmente crime funcional.




