400 horas de gravações clandestinas material teria sido produzido a mando de Sérgio Moro e inclui políticos e juízes
Agentes da Polícia Federal retiraram, na quarta-feira (3), um objeto que pode se tornar peça central de uma das maiores disputas envolvendo a Lava Jato: uma caixa amarela de arquivos guardada na 13ª Vara Federal de Curitiba, durante o período em que Sérgio Moro era juiz titular. Segundo o ex-deputado estadual paranaense Tony Garcia, o material armazenado no local contém cerca de 400 horas de gravações clandestinas feitas sob ordem direta de Moro contra políticos, magistrados, doleiros e governadores.
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A caixa foi identificada a partir das denúncias de Garcia, que afirma ter sido obrigado, em 2004, ao firmar colaboração no caso Banestado, a atuar durante quase duas décadas como infiltrado sem autorização judicial. O ministro Dias Toffoli, do STF, determinou busca específica desse item, além de documentos e mídias de processos do período em que Moro comandou a vara. A ordem não deixou margem a interpretações: localizar a caixa e todo conteúdo ligado ao ex-deputado e a sete investigados, majoritariamente doleiros.

A operação também recolheu documentos de 18 ações diferentes e garantiu aos investigadores acesso a computadores e mídias da secretaria da 13ª Vara. O material agora será periciado para verificar a autenticidade e eventual uso ilegal de provas, prática já reconhecida pelo STF em decisões anteriores sobre a Lava Jato.
Gravações podem expor rede de alvos e método extraoficial
As denúncias de Tony Garcia, tornadas públicas em 2023, ganharam peso após a Procuradoria-Geral da República instaurar, em 2024, um inquérito para apurar se Moro usou o colaborador como “agente secreto” privado, sem controle judicial. O suposto esquema teria prosperado por quase 20 anos, num período que atravessou mudanças políticas e reconfigurações do mercado de doleiros no país.
A possível existência de gravações de altas autoridades, sem ordem judicial, abre caminho para responsabilização criminal e administrativa. Caso confirmados os métodos denunciados, o episódio pode atingir decisões que utilizaram material colhido com base em práticas clandestinas, reabrindo discussões sobre nulidades e responsabilizando agentes públicos envolvidos.
A apreensão da caixa amarela é, pela primeira vez, uma ação concreta que coloca sob risco o coração do modus operandi da Lava Jato. O conteúdo, caso confirmado, pode oferecer o que faltava às denúncias: prova material.




