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segunda-feira, dezembro 15, 2025
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Mais de 1,5 milhão de casas na Grande São Paulo estão sem energia

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Ventos de quase 100 km/h paralisam serviços, derrubam semáforos e pressionam Enel após novo colapso

A Grande São Paulo amanheceu com mais de 1,5 milhão de imóveis sem energia nesta quinta-feira. Só na capital, mais de um milhão de clientes continuam no escuro após o vendaval que derrubou árvores, interrompeu o trânsito e afetou o abastecimento de água. O impacto se estendeu pela madrugada, com parques fechados, semáforos apagados e congestionamento acima dos 200 km logo cedo.

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De acordo com o mapa da Enel, 1.529.146 unidades da Grande São Paulo seguiam sem luz no início da manhã. O cenário é semelhante ao do pico de quarta-feira, quando o total ultrapassou 2 milhões de imóveis afetados.

A reincidência de apagões coloca em foco a fiscalização da Aneel e o papel do governo estadual na supervisão do contrato. Foto Rovena Rosa/Agencia B tasil

As rajadas de vento chegaram a 98,1 km/h na Lapa, efeito do ciclone extratropical que se formou no Sul e avançou sobre a região metropolitana. A força das tempestades provocou 231 quedas de árvores, 181 delas já atendidas pela prefeitura até o fim da noite. Em 40 pontos, as equipes aguardam apoio da concessionária de energia para liberar vias e restabelecer o serviço.

O transporte também sofreu. A CET registrou 235 semáforos apagados por falta de energia e 20 por falha técnica. Com o sistema comprometido, a lentidão chegou a 203 km às 7h. O fornecimento de água também foi prejudicado em áreas ainda sem restabelecimento da energia elétrica.

O vendaval provocou cancelamentos e alternâncias de voos em Congonhas e Guarulhos. Congonhas registrou 181 voos afetados na quarta-feira, e a desorganização continuou na manhã desta quinta. Em Guarulhos, pousos e partidas seguem cancelados após uma noite de operações alternadas.

A Enel e o risco de ruptura contratual

A nova crise reacende a disputa política envolvendo a concessionária. O prefeito Ricardo Nunes anunciou que acionará a Aneel e recorrerá à Justiça para cobrar providências sobre o contrato de concessão, em linha com as medidas já tomadas após os apagões desde novembro de 2023. Nos bastidores, integrantes da prefeitura afirmam que há análise técnica sobre eventual descumprimento de indicadores de qualidade e reincidência de falhas estruturais no atendimento da capital.

A discussão envolve, também, o possível impacto em futuras renovações contratuais e na abertura de processos sancionatórios. Técnicos que acompanham o setor mencionam que o volume de imóveis afetados e o tempo de restabelecimento podem configurar infração grave, especialmente diante da repetição dos episódios em um curto intervalo de tempo. A concessionária já enfrenta investigações administrativas e auditorias que avaliam desde investimentos em rede até a capacidade de resposta em eventos climáticos extremos.

Privatização da energia em SP e os descumprimentos da Enel

A crise atual reacende o debate sobre a privatização do serviço de energia em São Paulo, iniciada com a venda da antiga Eletropaulo para a Enel, em 2018. Na época, o discurso oficial apostava na modernização da rede, ampliação de investimentos e resposta rápida a ocorrências climáticas. Passados seis anos, os resultados se tornaram alvo de questionamentos técnicos e políticos: episódios recorrentes de apagões, demora no restabelecimento e infraestrutura considerada defasada expõem fragilidades que contrariam diretamente cláusulas contratuais e indicadores regulatórios.

O contrato de concessão exige manutenção de padrão mínimo de continuidade, tempo máximo de interrupção, investimentos anuais em expansão e modernização, além de respostas adequadas a emergências ambientais. Os apagões sucessivos que atingem milhões de consumidores levantam dúvidas sobre a execução desses compromissos. Prefeituras relatam que equipes da concessionária demoram horas — e, em alguns pontos, dias — para liberar vias obstruídas por árvores que caíram sobre redes, o que evidencia gargalos operacionais que se repetem mesmo após sucessivas multas e advertências regulatórias.

O histórico inclui falhas estruturais desde os eventos extremos de 2023, quando a capital enfrentou um dos maiores apagões da década. Naquele momento, a empresa prometeu reforço de equipes, investimentos imediatos e revisão de protocolos. Contudo, relatórios internos e fiscalizações posteriores apontaram que parte dos investimentos anunciados não foi concluída no ritmo previsto. Integrantes do setor elétrico mencionam que a concessionária enfrenta dificuldades para comprovar a execução integral de obras, especialmente em regiões críticas onde a rede aérea sofre desgaste acelerado.

Infrações da Enel

O caso mais recente amplia o desgaste político. A reincidência de apagões coloca em foco a fiscalização da Aneel e o papel do governo estadual na supervisão do contrato. Reservadamente, técnicos afirmam que a concessionária pode estar acumulando infrações que justificariam medidas mais duras, incluindo abertura de processo de caducidade — ainda que esse caminho seja longo e complexo. O fato de a empresa prometer reforço de equipes após cada crise leva gestores públicos a questionar se o modelo de privatização foi implementado sem garantias robustas para assegurar prestação de serviço adequada.

A pressão agora se volta para a concessionária e para o poder concedente, que terá de explicar se os indicadores de qualidade estão sendo cumpridos, se houve subinvestimento e se a recorrente demora na recomposição aponta para falha operacional ou déficit estrutural na rede. A sucessão de crises torna inevitável a discussão sobre mecanismos jurídicos de revisão contratual e responsabilidades acumuladas pela empresa desde que assumiu a distribuição de energia no maior centro urbano do país.

Desde que assumiu a antiga Eletropaulo, em 2018, a Enel mantém trajetória marcada por indicadores de qualidade abaixo do esperado para a maior distribuidora do país. Dados regulatórios mostram que, ano após ano, a empresa figura entre as concessionárias com maior número de reclamações de consumidores, especialmente por interrupções prolongadas e falhas de atendimento. Técnicos do setor afirmam que, após a privatização, houve concentração de investimentos em áreas de maior rentabilidade, enquanto regiões periféricas e trechos de rede com manutenção histórica deficiente receberam atenção fragmentada.

As multas aplicadas pela Aneel já somam dezenas de milhões de reais, incluindo sanções por demora na recomposição de energia, falhas em planos de contingência e descumprimento de metas de duração e frequência de interrupções. Em auditorias recentes, fiscais identificaram pontos críticos na rede que permanecem sem modernização mesmo após promessas públicas da concessionária. A reincidência de problemas deixa claro que parte das obrigações pactuadas no contrato não está sendo cumprida com a velocidade ou profundidade exigidas.

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