Extrema direita tenta transformar saída em estratégia jurídica, mas efeitos penais seguem
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) anunciou neste domingo (14) a renúncia ao mandato parlamentar. Condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e presa na Itália, a parlamentar abdicou do cargo em meio ao avanço de processos penais, eleitorais e ao pedido de extradição que tramita na Justiça italiana.
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A renúncia foi confirmada pelo líder do Partido Liberal na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que classificou a decisão como “estratégica”. Segundo ele, a saída antecipada do cargo permitiria à deputada preservar direitos, ampliar possibilidades de defesa e reduzir os efeitos de uma eventual cassação formal pelo Parlamento.

Nos bastidores, a avaliação é de que a decisão ocorreu diante da iminência da consolidação da cassação do mandato como efeito direto da condenação criminal imposta pelo STF. Zambelli foi condenada por crimes comuns, o que afastou a discussão política sobre perda de mandato e transferiu o foco para as consequências penais e eleitorais da sentença.
A narrativa de que a renúncia abriria margem para reversão da inelegibilidade ou impediria a extradição é contestada por especialistas em direito eleitoral. Advogados ouvidos avaliam que a saída do cargo não interfere nos efeitos da condenação, nem altera o enquadramento jurídico dos crimes atribuídos à parlamentar.
Pela legislação vigente, a inelegibilidade decorrente da Lei da Ficha Limpa independe da permanência no mandato. O prazo de oito anos começa a contar após o cumprimento da pena, o que mantém Zambelli impedida de disputar eleições futuras, mesmo com a renúncia formalizada antes do encerramento do processo de cassação.
No campo internacional, a situação da ex-deputada também não sofre alteração. Como os crimes pelos quais foi condenada são classificados como comuns, o pedido de extradição segue seu curso normal na Justiça italiana. O julgamento do caso está previsto para começar nesta quarta-feira (18), e a expectativa é de que a renúncia não tenha peso jurídico relevante na análise.
Além da condenação criminal, Zambelli ainda responde a ações na Justiça Eleitoral por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante a campanha de 2022. Esses processos continuam tramitando independentemente da renúncia e podem resultar em sanções adicionais, incluindo a anulação de votos e reforço da inelegibilidade.
Nos corredores do Congresso, parlamentares avaliam que a renúncia busca reduzir o desgaste político do PL e do bolsonarismo diante da consolidação das condenações no Judiciário. A leitura é de que o gesto tenta transformar uma derrota jurídica em movimento tático, ainda que sem efeitos práticos concretos.
Inelegibilidade permanece
A renúncia não altera os efeitos da Lei da Ficha Limpa. A inelegibilidade de Carla Zambelli permanece por oito anos após o cumprimento da pena, independentemente de ela ter deixado o mandato antes da cassação formal pela Câmara.
Extradição segue em curso
Como os crimes imputados à ex-deputada são comuns, o processo de extradição continua tramitando na Justiça italiana. O julgamento deve ter início nesta quarta-feira (18), sem impacto direto da renúncia ao mandato parlamentar.
Ações judiciais eleitorais continuam
A saída do cargo não interrompe as ações que tramitam na Justiça Eleitoral por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. Além da perda do mandato, esses processos podem resultar em novas sanções e na anulação dos votos recebidos em 2022.




