Decisão inclui possível transferência após quatro décadas na mesma paróquia e provoca reação de fiéis
O cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Odílio Scherer, determinou a suspensão das transmissões de missas ao vivo e proibiu o uso de redes sociais pelo padre Júlio Lancellotti. A medida também abriu a possibilidade de transferência do sacerdote da paróquia de São Miguel Arcanjo, na Mooca, onde atua há cerca de 40 anos. A decisão foi comunicada formalmente ao padre por meio de carta e confirmada por ele em conversa com a imprensa.
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Segundo o próprio sacerdote, o arcebispo pediu que ele “desse um tempo”, justificando a orientação como uma forma de recolhimento e proteção. A determinação inclui o veto às celebrações dominicais transmitidas pela internet, que reuniam fiéis de diversas regiões do país e do exterior, além da interrupção de qualquer atividade em plataformas digitais.

A atuação de padre Júlio é reconhecida pela dedicação à população em situação de rua e por ações pastorais voltadas a grupos socialmente marginalizados, incluindo a comunidade LGBTQIA+. Ao longo dos últimos anos, essa postura o colocou no centro de ataques políticos, processos judiciais e campanhas de desinformação, especialmente vindas de setores conservadores. O religioso também se manifestou publicamente contra a ofensiva militar em Gaza, posicionamento que ampliou a visibilidade e a controvérsia em torno de seu nome.
Paralelamente às atividades religiosas, padre Júlio lançou recentemente a Biblioteca Wilma Lancellotti, no bairro do Belém, projeto voltado ao acesso à leitura para pessoas em situação de rua, com acervo formado por doações e programação de encontros culturais.
A possível transferência ocorre em um contexto em que o sacerdote já ultrapassou a idade prevista pelas normas internas da Igreja para afastamento de funções paroquiais. Ele completará 77 anos ainda neste mês. Apesar disso, há precedentes de permanência de padres em atividade muito além dessa faixa etária, a depender da avaliação pastoral e das necessidades locais.
A decisão do cardeal, que se aproxima da aposentadoria prevista para abril, gerou mobilização entre fiéis da paróquia da Mooca, que articulam manifestações e pedidos formais para que as medidas sejam revistas. A arquidiocese informou que não comentará o caso, tratando o assunto como questão interna entre bispo e sacerdote.
Pressão política e ideológica
A suspensão das atividades públicas de padre Júlio ocorre em meio a pressões políticas e ideológicas que se intensificaram nos últimos anos contra religiosos com atuação social mais incisiva. Internamente, a medida expõe disputas sobre o papel da Igreja em temas sociais, o uso das redes digitais na evangelização e os limites da autonomia pastoral frente à hierarquia, num momento de transição no comando da arquidiocese paulistana.




