Preço do combustível recua na estatal desde 2023, enquanto impostos e margens impedem repasse ao consumidor
Apesar de uma queda acumulada de 27,4% no preço do diesel vendido pela Petrobras às distribuidoras desde janeiro de 2023, o consumidor final praticamente não percebeu o alívio. Nas bombas, a redução média foi de apenas 6,9% no mesmo período, revelando um descompasso entre o valor cobrado na origem e o preço pago por caminhoneiros, empresas e motoristas em todo o país.
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No primeiro reajuste autorizado no início do atual governo, o litro do diesel vendido pela Petrobras custava, em média, R$ 4,05. Em dezembro de 2025, o preço caiu para R$ 2,94, segundo dados oficiais. A diferença, porém, não chegou integralmente ao consumidor. O diesel segue sendo um dos principais vetores de custo da economia brasileira, especialmente no transporte rodoviário, responsável por cerca de 60% da movimentação de mercadorias no país.

A composição do preço final ajuda a explicar por que a redução se dilui ao longo da cadeia. Além do valor cobrado pela Petrobras, incidem impostos federais, o custo da adição obrigatória de biodiesel, a logística de distribuição e a margem das distribuidoras e postos. Entre esses fatores, a carga tributária estadual ganhou peso relevante nos últimos dois anos.
A partir de fevereiro de 2025, os estados passaram a adotar a tributação monofásica do ICMS sobre combustíveis, com alíquota uniforme em todo o território nacional. Na prática, o imposto cobrado por litro de diesel saltou de R$ 0,79 no início de 2023 para R$ 1,12, um aumento de 41,77%. O valor adicional absorveu parte significativa do corte promovido pela Petrobras, neutralizando o impacto esperado no preço final.
Outro ponto sensível está nas margens das distribuidoras, consideradas informação estratégica e não divulgadas publicamente. Nesse modelo, as empresas compram o diesel puro, arcam com impostos, custos de logística, estocagem e transporte, adicionam o biodiesel e, sobre esse conjunto, aplicam sua margem. Sem transparência sobre esse percentual, torna-se difícil medir quanto da redução na origem é retida ao longo da cadeia.
O biodiesel também exerce pressão sobre o preço. A mistura obrigatória, definida por política pública, eleva o custo do litro, já que o insumo tem preço superior ao diesel fóssil. Embora cumpra objetivos ambientais e de estímulo à produção agrícola, o impacto econômico recai diretamente sobre o transporte e, por consequência, sobre o preço dos alimentos e de bens de consumo.
O diesel responde por até 40% dos custos operacionais de uma transportadora. O frete, por sua vez, representa cerca de 30% do custo final médio dos produtos transportados. Assim, qualquer distorção ou rigidez no preço do combustível se espalha rapidamente pela economia, afetando inflação, competitividade e poder de compra.
Mesmo com a Petrobras reduzindo preços e adotando uma política menos atrelada às oscilações internacionais, o efeito prático tem sido limitado para quem abastece. A diferença entre a queda na refinaria e o valor na bomba expõe um gargalo estrutural na política de combustíveis, em que tributos, margens privadas e decisões federativas se sobrepõem ao objetivo de baratear um insumo central para o país.
Preço cai desde 2023, mas não chega ao consumidor
Desde 2023, o diesel vendido pela Petrobras caiu mais de um quarto do preço, mas o consumidor recebeu menos de um terço desse desconto. A combinação entre aumento do ICMS, custo do biodiesel e falta de transparência nas margens das distribuidoras mantém o combustível caro e sustenta impactos diretos sobre frete, inflação e preços dos alimentos.




