De: Ton Crivelaro
Quem mora fora dos condomínios que pipocam todos os dias na cidade, não sabe o que se passa nos bastidores de um lugar destes.
A crueldade com que algumas diretorias (das associações) tratam os “menos favorecidos” financeiramente, mostram claramente que o objetivo não é morar bem, mas, ganhar dinheiro com a atividade.
Explico: os lotes são vendidos, alguns investidores compram e deixam os lotes valorizando – especulação imobiliária . Ninguém quer construir primeiro, porque sabem que dificilmente alguém compraria uma casa no meio do mato. Algumas famílias, compram estes lotes até então desvalorizados e constroem suas casas. Outras, de baixa renda, fazem o mesmo, embora sentindo a dificuldade de morar longe do emprego ou do centro comercial. Está instalada aí a primeira rua do bairro aberto. Lutam pela manutenção do lugar , pela água, energia elétrica, etc. São desbravadores e disputam espaço com répteis, insetos e muito mau humor dos gerentes públicos, porque a probabilidade de votos é pequena em bairros com poucos moradores.
Neste momento, agora com o lugar um pouco mais valorizado, chegam os investidores, constroem e vendem suas casas e em nome de uma falsa segurança, fecham o bairro e tomam as famílias como reféns. Agora todos pagarão . Ou você paga, ou você paga. Está criado mais um condomínio ou loteamento fechado na cidade.
A estratégia é de criar mecanismos para afastar os “pobres” do lugar.
Erguem uma portaria e impedem a passagem de serviços importantes como o do correio. A prefeitura usando o fechamento do bairro como desculpa, se nega a fazer os serviços de manutenção e as ruas antes asfaltadas, passam a ser verdadeiras armadilhas para os carros, bicicletas e peruas escolares. A diretoria da então recém-criada associação, recheada de advogados e arquitetos, vendem a idéia de que ganham qualquer ação contra os “moradores reféns” não pagantes, alegando a “valorização” dos imóveis. Mas, de qual valorização eles falam ? A valorização pode até acontecer para casas de alto padrão, pois, quem compra uma dessas, não se importa em pagar uma taxa que para outros significa o seu décimo terceiro salário “indo pelo ralo” em parcelas. Alegam também , que a proximidade das grandes mansões já valorizam as pequenas. Pergunto: será que casas em bairros abertos, que valorizaram com a construção de shoppings ou de grandes praças, estão pagando taxas por isso ? Já ouvi em reuniões, ricos “vomitarem” a frase: aqui não é lugar para pobre morar !!! Por isso que a maioria dos condomínios não cobram suas taxas por metro quadrado de terreno, mas sim, por casa construída. Uma família de baixa renda, com um terreno de 300 metros quadrados, com duas pequenas casas de 70 cada, totalizando 140 construídos paga duas taxas, enquanto o rico morador do mesmo condomínio, paga uma única taxa pela sua mansão de 1.500 metros quadrados, localizada em terreno de 4.000.
Embora muitos não admitam, mas, o pensamento presente é : expulsando os pequenos, os maiores serão valorizados.
Não acredito que a justiça seja parceira deste pensamento discriminatório e “nojento”. E os direitos adquiridos ? Será que uma família de baixa renda, embora pagando todos os seus impostos municipais, tem que se mudar quando algum oportunista coloca uma cancela na entrada do bairro ? Estamos encurralados : as famílias de baixa renda são reféns dos traficantes na favela, dos seguranças particulares nos bairros abertos e das associações nos condomínios, só que neste caso, o método é mais cruel, pois, acaba com a auto-estima do morador que quando cobrado e sem ter como pagar, passa a ser discriminado e acusado de não ter dinheiro, emprego, carro do ano ou mansão. E quando reclama passa a ser o “baderneiro” do lugar. É preciso que a justiça se posicione a respeito. Estou falando da verdadeira justiça, não daquela que está a serviço da classe dominante, que sem vontade nenhuma de se misturar, continua preconceituosa e podre . A justiça – realmente justa – tem a oportunidade agora, de tomar uma posição contra estes novos ricos que cruelmente seqüestram a dignidade dos cidadãos, discriminam, roubam , infelizmente conseguem eleger seus representantes, se articulam com facilidade e apesar de todos os esforços, continuam mandando no país.
TON CRIVELARO
É jornalista, chargista, ator, diretor e cenógrafo
tonteatro@bol.com.br
Fones: 3258-8303 e 97672245




