O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) receberá no próximo domingo (29) um visitante especial: um filhote órfão de peixe-boi amazônico, resgatado no início do mês em uma comunidade do Paranã do Aranapu, Médio Solimões (a 100 km de Tefé), na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.
O resgate foi feito pela equipe do projeto \”Conservação e Uso Sustentado dos Recursos Aquáticos das Matas Alagadas de Mamirauá e Anamã\”, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), patrocinado pela Petrobras, através do Programa Petrobras Ambiental. A chegada do filhote a Manaus é resultado de operação conjunta do IDSM, Petrobras e IBAMA-Manaus com apoio da Aeronáutica.
O peixe-boi é uma espécie de mamífero aquático ameaçada de extinção.
O filhote de peixe-boi sairá de Tefé em uma aeronave da Aeronáutica. Para acomodá-lo durante o vôo, dois bancos do avião serão retirados. O filhote de peixe-boi viajará sobre um colchão e será mantido úmido com uma toalha sobre o dorso e constantemente será borrifado (a pele não deve secar).
Um veterinário do IBAMA vai acompanhar o animal neste trajeto até Manaus. A chegada à Base Aérea de Ponta Pelada está prevista para as 14h, de onde segue direto para o Laboratório de Mamíferos Aquáticos do INPA para se recuperar dos ferimentos. O peixe-boi ficou preso acidentalmente em rede de pesca no dia 30 de junho.
A mãe do peixe-boi não foi localizada e o animal foi levado à comunidade, onde foi colocado em um curral com tela de arame.
Segundo a coordenadora de pesquisas do projeto, Miriam Marmontel, o filhote é um animal forte e saudável. \”Desde que foi resgatado, ele não apresentou perda de peso.\” Logo depois da captura, o animal foi entregue ao grupo de resgate do IDSM. Desde então, o filhote macho foi levado para Tefé e temporariamente alojado em um tanque no Flutuante Base do Instituto Mamirauá (um lago em Tefé), onde recebe alimentação sob forma de mamadeira e plantas aquáticas da região.
Também recebe cuidados veterinários diários, uma vez que apresenta escoriações e uma ferida de arpão no dorso. O mamífero mede 1,14 m de comprimento, pesa 37Kg e apresenta entre quatro a seis meses de idade.
A intenção do IDSM é devolver o animal ao ambiente natural, mais precisamente ao local onde foi capturado, logo que seja considerado apto. O Instituto pretende também adaptar um cinto com transmissor de rádio à cauda do animal, para que seus movimentos e readaptação possam ser monitorados ao longo do tempo.
A recomendação parte da experiência do Grupo de Mamíferos Aquáticos (GPMAA), do IDSM, que há 14 anos executa pesquisas com peixe-boi na área do médio Solimões. Desde 2004, o GPMAA recebe patrocínio do Projeto Petrobras Ambiental.
Sobre o projeto. O Grupo de Mamíferos Aquáticos estuda a biologia e ecologia de cinco espécies de mamíferos aquáticos da região (peixe-boi, boto vermelho, tucuxi, lontra e ariranha). Exemplares de peixes-boi têm sido monitorados intensamente para identificar movimentos diários e sazonais. Dessa forma, foi possível determinar pelo menos um padrão de deslocamento anual, quando deixam os lagos de várzea de Mamirauá na época em que as águas começam a baixar e refugiam-se durante o período de seca nas águas pretas e profundas do lago de terra firme do Amanã.
Com a chegada da enchente, os peixes-boi realizam o movimento de retorno aos lagos de origem. Esse ciclo salienta a importância da manutenção de grandes áreas para preservação do peixe-boi, assim como a existência de uma variedade de ambientes, incluindo canais para deslocamento livres de ameaças.
No passado, o peixe-boi amazônico foi vítima de uma caça comercial muito intensa que, associada a uma baixa taxa reprodutiva, levou a espécie a ser considerada ameaçada de extinção no país. Atualmente, é protegido por três instrumentos da legislação brasileira. Entretanto, ainda existe uma pressão de caça ao longo de toda sua distribuição, principalmente direcionada para subsistência.
Incentivo. O Programa Petrobras Ambiental tem o objetivo de ampliar o apoio a iniciativas da sociedade civil, através de projetos voltados ao tema \”Água: Corpos D´Água Doce e Mar, incluindo a sua biodiversidade\”. Essas ações, em parcerias com ONGs, universidades e entidades sindicais, são voltadas à preservação de bacias hidrográficas, ecossistemas e paisagens, envolvendo aproximadamente cinco mil espécies da fauna e flora brasileiras.
IDSM. O Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá é uma Organização Social (OS), supervisionada pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). Criado em 1999, sua missão é promover a conservação da biodiversidade mediante o manejo participativo e sustentável de recursos naturais. Tem o apoio do governo do Estado do Amazonas, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), do Wildlife Conservation Society/Fundação Gordon Moore, do programa inglês Darwin Initiative, do Zoological Society of London (ZSL) e da Petrobras.