O vice-prefeito de Campinas e presidente das Centrais de Abastecimento de Campinas (Ceasa), Demétrio Vilagra, foi eleito, no dia 29 de março, para a direção da Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento (Abracen). A nova gestão da entidade é composta por dez diretores e seis conselheiros e vai cumprir mandato de dois anos. A eleição ocorreu durante encontro da Abracen, em Brasília, que reuniu dirigentes de ceasas de todo país.
A Abracen foi criada para representar e integrar as centrais de abastecimento brasileiras, há 25 anos e é sediada em Brasília (DF). A entidade é interlocutora junto a governos, parlamentares e à sociedade em defesa do abastecimento.
Segundo levantamento da Abracen, as quase 30 centrais de abastecimento do país movimentam cerca de R$ 17 bilhões por ano. Entre hortigranjeiros, cereais, industrializados e outros produtos como flores e pescados, as Ceasas ofertam cerca de 17 milhões de toneladas anualmente. O sistema engloba mais de 10 mil empresas e gera cerca de 200 mil empregos diretos.
Vilagra será responsável pela diretoria das regiões Sudeste e Centro Oeste. Entre os principais objetivos da entidade para 2011, ele destaca a mobilização para a aprovação do projeto de lei 8001/10, que determina normas específicas para os entrepostos de abastecimento, além de uma missão técnica à Europa. “É importante entender abastecimento como um instrumento de política pública, essencial para a segurança alimentar da população e investir no fortalecimento do setor, para que se modernize e seja mais competitivo”, avaliou o vice-prefeito.
Ele também destacou a importância de ampliar e consolidar os diversos programas sociais, de segurança alimentar e ambientais alicerçados em várias ceasas: “Em Campinas somos uma das poucas centrais do país a garantir o reaproveitamento dos resíduos gerados; garantimos o suporte para programas de combate ao desperdício e à fome que beneficia cerca de 75 mil pessoas e distribui quase 7 milhões de quilos de alimentos por ano e ainda operacionalizamos a merenda escolar com 255 mil refeições por dia na rede pública de ensino do município”.
Jornal Local – Como surgiram as Ceasas e qual a importância delas?
Demétrio Vilagra – As Ceasas foram criadas no final da década de 60 e início de 70 pela necessidade de aperfeiçoamento das estruturas de distribuição de produtos hortigranjeiros suscitadas pelo crescimento das cidades no Brasil. As Ceasas são fundamentais para o abastecimento com organização e segurança alimentar para a população; para a regulação de preços e escoamento de hortícolas dos agricultores e ainda para manter a produção e o emprego de milhares de pessoas no campo.
JL – Qual a importância da Abracen neste contexto e de ter um representante de Campinas na direção desta entidade?
DV – Na década de 80 o Sinac foi descentralizado com a transferência do controle acionário de algumas ceasas do governo federal para estados e municípios. Isso gerou uma desarticulação e os modelos ficaram defasados e com poucos investimentos. Desde a criação das centrais, a realidade do setor, da produção e das necessidades do mercado e do consumo mudou muito e a estrutura das ceasas não acompanhou este desenvolvimento.
Portanto, é preciso rearticular as ceasas, buscar ações conjuntas e investimentos para melhorias de embalagem, transporte, infraestrutura e outras. Falo sempre que é preciso criar um PAC para as ceasas. Torná-las mais competitivas frente às novas realidades, aprimorar o atendimento, incentivar programas de abastecimento com melhores preços para população mais carente e programas de segurança alimentar, sociais e ambientais.
E para enfrentar estes desafios é fundamental organizar e unir as diversas centrais do país e uma das melhores formas de fazer isso é por meio de uma entidade que represente e consiga agregar as centrais de abastecimento como é a Abracen, que existe há 25 anos. Desta forma, atuando na Abracen, a Ceasa-Campinas contribui com o fortalecimento do setor no país todo e pode trazer esta experiência para melhorias no seu papel de abastecer mais de 500 cidades de nossa região.
JL – Campinas é uma das poucas centrais que reaproveita os resíduos gerados. Com o senhor integrando a diretoria, esse exemplo pode ser seguido em outras Ceasas?
DV – A preocupação com o ambiente é e precisa ser hoje foco das políticas públicas e privadas com intensidade cada vez maior. Ninguém pode ignorar o desafio de assegurar a preservação ambiental porque dela depende o futuro do planeta, de toda humanidade, dos nossos filhos, netos. Na Ceasa-Campinas gerados cerca de 800 toneladas de resíduos por mês. Os orgânicos vão para a Usina de Compostagem do Aterro Delta onde são transformados em adubo. Outros materiais recicláveis – papel, plástico, metal, vidro e madeira – são reaproveitamos por meio de uma cooperativa de trabalhadores que atua dentro da Ceasa fazendo a coleta seletiva. Hoje há cerca de 20 cooperados que garantem o sustento suas famílias com a reciclagem dos resíduos da Central.
Portanto, para nós na Ceasa Campinas é muito importante debater a gestão de resíduos e o combate ao desperdício nas centrais de abastecimento, buscar melhorar os nossos programas e levar esta experiência para outras ceasas. Esta é sim uma meta a ser levada durante a gestão.
5) As demais Ceasas também têm programas sociais e de segurança alimentar?
São crescentes a preocupação e as iniciativas das ceasas com programas sociais e de segurança alimentar. Acredito e desenvolvo meu trabalho na Ceasa-Campinas com o conceito de que esta deve ser mesmo a vocação destas estruturas por serem públicas ou de economia mista e trabalharem com um setor vital para as pessoas que é a alimentação. E é partir de ações conjuntas e de estruturas como a Abracen que podemos ampliar estas iniciativas e trocar experiências.
Campinas tem sido muito bem sucedida com programas como a Alimentação Escolar, que é administrada pela Secretaria Municipal de Educação junto com a Ceasa, e garante 255 mil refeições por dia de qualidade em mais de 500 unidades escolares públicas de Campinas. Também temos o Banco de Alimentos que vem batendo recordes de arrecadação e realizando um trabalho muito bom – inclusive com ações educativas – e o ISA, a ONG que funciona na Ceasa e coleta alimentos dos atacadistas da Central. Para estas ações contamos com a parceria da Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência e Inclusão Social. Em 2010, os programas de segurança alimentar alicerçados na Ceasa distribuíram juntos 6,7 milhões de quilos de alimentos. Temos ainda dentro da Ceasa-Campinas espaços de inclusão digital, com cursos e acesso à internet gratuitos e ações de apoio para implantação de hortas comunitárias.
Há sim outras ceasas também com trabalhos semelhantes e importantes, com bancos de alimentos, programas de sopas e outros. O fundamental é a capacidade multiplicadora e de aprimoramento que estas ações podem ter a partir de uma maior integração entre as ceasas.





